Carreira / Emprego - O desafio de trabalhar em casa
O diretor de vendas da Dell, Ricardo Menezes, levou 10 dias para explicar à
família que ele estava em casa durante o dia, mas era a trabalho. Desde que foi
contratado, adotou o modelo da empresa de trabalhar em casa, em seu home office.
“É excelente. Se saio do serviço às 19h, às 19h e 10 segundos estou em casa com
a família.” A Dell faz isso com toda a sua equipe de vendas. Para manter a
convivência, de tempos em tempos organizam reuniões presenciais. Várias outras
empresas que estão mandando seus executivos para casa: a Renault francesa foi um
dos casos mais recentes.
“É questão de autodisciplina. Não escolhemos pessoas que se desconcentram por
qualquer razão”, diz a gerente de RH da Dell, Lucila Yanaguita. A opção da
empresa aumentou a capilaridade da equipe de vendas. “Não precisamos montar
filiais em todos os estados, e a agilidade em atender os clientes aumenta
muito.”
O gerente-geral da Tandberg no Brasil, André Queiros, trabalha em casa há oito
anos. E sente bastante o crescimento deste mercado: a Tandberg é uma
multinacional que presta serviços para teleconferências. “A procura por esses
serviços têm aumentado muito. A tecnologia permite a comunicação fácil entre
pessoas de todos os lugares do mundo.”
Para o gerente, a produtividade da própria empresa aumentou de 10% a 40% depois
que os executivos organizaram seus home offices. “Com cerca de R$18 mil, é
possível montar um escritório.” A grande vantagem, claro, é estar em casa. “Não
perco tempo no trânsito, por conseqüência não poluo o meio ambiente com meu
carro, e não me estresso.”
Para o diretor de liderança e empreendedorismo da BSP, Álvaro Melo, trabalhar em
casa não é apenas uma tendência. “As empresas viram que as pessoas trabalham
melhor e gastam menos.” Ele estima que a redução de gastos com móveis, material
de escritório e até cafezinhos chegue a 20%. Em São Paulo, há dois condomínios
em construção em bairros nobres para pessoas que trabalham em casa: os
apartamentos já têm escritório projetado. “É mais uma prova de o movimento vai
se fortalecer.”
No entanto, existe resistência. Uma pesquisa da Korn/Ferry mostrou que 61% dos
executivos acreditam que as pessoas que trabalham fora do escritório têm menos
chances de crescer na corporação. “Ainda assim, 48% dos entrevistados disseram
que consideraria propostas para trabalhar em casa”, diz um dos sócios da
Korn/Ferry, Jairo Okret. “E 78% acham essas pessoas são tão ou mais eficientes
do que as que trabalham em escritório.” Ele diz que há empresas que oferecem
vagas para trabalho em home office para atrair talentos. “Os bons executivos
querem esse benefício.”
“O bom líder não precisa estar no escritório para achar a melhor solução”,
defende o diretor do grupo BPI no Brasil, Gilberto Guimarães. “A prática é mais
comum nas multinacionais e nas empresas onde não existe uma estrutura
hierárquica rígida demais, pois o conceito de subordinação muda com o trabalho
em casa.” Anda assim, ele defende os encontros pessoais com colegas de serviço.
“A interação é uma parte importante na vida das pessoas, e não pode ser
eliminada.” Para Guimarães, o home office vai deslanchar no Brasil assim que
empecilhos trabalhistas se resolverem. “As empresas temem pagar horas extras aos
funcionários em casa.”
A solução é fazer contratos detalhados. “O número de horas, ou a opção pelo
horário livre, deve estar explícito no contrato do executivo”, diz o advogado
Márcio Magano. “Não ultrapassando o limite legal de 44 horas por semana, o
executivo pode ter o horário que quiser.”
Referência:
O Estado de S. Paulo
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