Sugestões e idéias nem sempre são levadas a sério no ambiente de trabalho. Às
vezes, porque partem de pessoas sem credibilidade. Outras vezes, porque partem
de novatos na empresa, que conhecem pouco a história e a cultura da organização.
Ser um recém-chegado, aliás, pode ser um empecilho, quando se tem vontade de
sobra, mas essa vontade parece partir somente de você.
De acordo com o gerente da Divisão de Engenharia da Robert Half, Roberto Britto,
não existe um tempo mínimo de permanência na empresa para ser levado a sério.
Não se pode afirmar, portanto, que, após seis meses, as sugestões do novato
serão vistas com bons olhos. Dependendo da empresa, isso pode acontecer bem
antes ou bem depois.
"Se a idéia for boa, a pessoa será sempre levada a sério. O que acontece é que,
de repente, não é o momento certo para aplicar aquela idéia. Pode existir uma
restrição financeira ou estrutural. Há quem entre na empresa e, após um mês, já
dê diversas idéias que são bem aceitas. Em outros casos, pode ser necessário ter
paciência", diz.
Virando o jogo
Para Britto, a melhor forma de ser levado a sério é dando resultados. "É o
caminho por meio do qual o profissional consegue embasar suas idéias, ganhar
credibilidade e ter certeza de que está sugerindo e fazendo o que é correto".
Questionado sobre se é necessário realizar um curso de especialização para ser
levado a sério, o que daria um título, ele responde que o aprimoramento
profissional ajuda, mas "não é isso que fará com que alguém seja levado a
sério".
Celina Beatriz Gazeti, especialista em gestão de talentos da Vox Solutions, uma
empresa do CLIV Solution Group, concorda. "O profissional pode fazer
pós-graduação, estudar, ler, falar três línguas. Independentemente de tudo isso,
se ele não for assertivo ou esforçado, não será levado a sério. O grupo percebe
quando alguém faz seu trabalho com seriedade e contribui na medida em que
percebe espaço".
O que as roupas dizem sobre você
A credibilidade também depende de um fator por vezes esquecido: a maneira de se
vestir. As roupas, garantem os entrevistados, devem ser adequadas ao ambiente.
Isso significa que, se você trabalha em uma agência de design e trabalha de
terno e gravata, pode ser visto como antiquado ou conservador demais, por
exemplo. De mesma maneira, alguém que trabalha no departamento comercial de uma
empresa, recebendo clientes e parceiros todos os dias, pode colocar seu emprego
em risco ao usar saias curtas e blusas decotadas ou transparentes. "Bom senso é
tudo", diz Celina.
Cuidado com o que fala
Para Celina, é essencial se atentar à forma de se comunicar e saber o que falar.
Ela recomenda que, antes de abrir a boca, o profissional observe muito tudo o
que acontece à sua volta. "Ouça muito antes de falar, analise o que está em jogo
na empresa, entenda a cultura organizacional, descortine quais competências são
valorizadas pelo grupo, se envolva com o negócio, procure sempre mais
informações".
Não fale de uma maneira que seu chefe ou seus colegas se sintam ofendidos, bem
como tenha cuidado ao criticar a maneira como as tarefas vinham sendo
realizadas. "Ao dar sugestões e fazer críticas, as pessoas correm o risco de
serem mal interpretadas. Quanto mais petulante e arrogante for sua postura,
pior. O discurso deve incluir a opinião de outras pessoas, sem pôr em dúvida as
competências de quem já trabalhava lá".
A regra é simples: foque nos processos, e não nas pessoas. "Como dizem, olhe a
obra, mas não critique o autor", aconselha ela. É verdade que, muitas vezes,
falar o óbvio é necessário, alerta a especialista em gestão de talentos. "Muitas
vezes, as pessoas que já trabalham há certo tempo na empresa não enxergam o
óbvio porque já estão acomodadas. Então quem está chegando tem o direito de
criticar o que está sendo feito há muito tempo do mesmo jeito", diz Celina,
ressaltando que é preciso ter cuidado na maneira como isso é feito.
Mas não tenha medo de falar: "Do estagiário ao alto executivo, todo mundo pode
contribuir com suas idéias e maneiras de pensar, ainda que as sugestões sejam
muito básicas", garante Celina.
Não espere, se faça presente!
Para a especialista em gestão de talentos, as pessoas não podem esperar para
serem levadas a sério. "O profissional precisa se fazer presente, mas sem ser
falante ou espalhafatoso. Ao se comunicar, precisa ser claro, e sempre
percebendo o todo". Para Britto, da Robert Half, a comunicação deve ser simples,
clara e objetiva. "Não fique enrolando, pois os outros podem se distrair".
Por fim, é importante ressaltar que, ao se expor, o profissional corre o risco
de errar. Mas, para Celina, tudo é um aprendizado. "Se você errou, deve medir o
impacto negativo do erro. Jamais culpe um terceiro e admita que se equivocou.
Diga que dali em frente ficará mais atento", finaliza ela.