Não é exagero comparar a magnitude econômica da cidade de São Paulo a de uma
nação inteira. Com um orçamento anual de R$ 15 bilhões e arrecadação de mais de
R$ 90 bilhões, o Produto Interno Bruto (PIB) da capital paulista é gigantesco -
em 2005 foi de 102,4 bilhões de dólares, segundo do Instituto
Brasileiro de Geografia e Economia (IBGE).
Acha pouco? Pois saiba que São Paulo gera mais riqueza do que 22 estados
norte-americanos (como o Hawai e New Hampshire, por exemplo), segundo pesquisa
realizada pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio).
Se fosse um estado, São Paulo também lideraria o ranking. Em 2005, a cidade foi
responsável por 12,3% do PIB nacional, 37% superior a
contribuição de todo o estado Minas Gerais. Só perderia, obviamente, para o PIB
do estado de São Paulo – do qual faz parte.
Fernando Fernandes/Lunapress
Prédios na avenida Paulista,
centro financeiro da capital
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Se fosse um país, São Paulo seria a 47ª maior economia do mundo,
à frente de países como o Egito e o Kwait. No âmbito da América Latina, seria a
quinta maior economia, empatada com o Chile e cinco vezes superior ao Uruguai.
São Paulo também encontra-se bem posicionada, na 14ª colocação do
ranking de cidades-globais, criado pelo Globalization and World Cities
Study Group & Network (GaWC), da Universidade de Loughborough, do Reino Unido.
Uma cidade-global tem supostamente a capacidade de influenciar a economia em
nível global. Londres e Nova Iorque são, respectivamente, os 1º e 2º colocados
da lista de 2007 [Veja lista completa das cidades-globais clicando aqui].
A despeito de seu imponente currículo, um estudo realizado pela consultoria
PriceWaterhouse&Coopers (PWC) classificou São Paulo como a 2ª cidade
mais rica da América Latina, perdendo apenas para a capital argentina
Buenos Aires. Os cálculos deste estudo, explica-se, são baseados no poder de
compra da população – e como São Paulo possui mais de 10 milhões de habitantes,
o PIB per capta não é tão significativo. Em âmbito mundial, São Paulo e Buenos
Aires ocupam o 19º e 13º lugares, respectivamente. A campeã foi Paris, capital
da França.
O fato é que, independente de critério ou classificação, a envergadura da
economia de São Paulo é notável.
Não é por acaso que a Bolsa de Mercadorias e Futuro (BM&F), a sexta do mundo em
volume de contratos negociados, seja em São Paulo, ou que a Bolsa de Valores de
São Paulo (Bovespa) movimente R$ 6 bilhões diariamente. Centro financeiro da
América Latina, São Paulo abriga 63% das sedes de grupos internacionais
instalados no país, de oito das dez maiores corretoras de valores e cinco das
dez maiores empresas de seguros.
São Paulo é uma explosão de consumo. São dez transações via cartão de crédito ou
débito por segundo, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas de
Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). Pelos mais de 70 shopping centers da
capital, circulam aproximadamente 30 milhões de pessoas por mês. Come-se
aproximadamente 40 mil pizzas e 16 mil sushis por hora na cidade de São Paulo.
Fernando Fernandes/Lunapress
A Ladeira General Carneiro,
tomada por camelôs que
vivem da economia informal
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Seus moradores têm à disposição cerca de 2 mil agências bancárias, 34 mil
indústrias, 72 unidades de comércio, 90 mil de serviços, 240 mil lojas, 4 mil
farmácias, 59 ruas de comércio especializado e 900 feiras livres, segundo
informações da Prefeitura do Município de São Paulo.
Tais números, porém, não representam a totalidade da economia paulistana. Há
que se considerar a contribuição da economia informal, uma massa de
trabalhadores que, por não terem um cadastro nacional de pessoa jurídica (CNPJ),
não entram nas estatísticas oficiais - mas que não podem ser ignoradorados. É
circular pelas ruas de São Paulo para ser abordado por um ambulante, quando não
ir até endereços onde encontram-se reunidos centenas de comerciantes informais –
como as calçadas da 25 de Março, no Centro, ou do Largo 13 de Maio, na zonal
sul.
Mas como São Paulo chegou até aqui? Por que foi São Paulo a cidade brasileira
que mais se desenvolveu economicamente? Leia a próxima página e descubra.
Como São Paulo chegou aonde chegou
É curioso pensar que uma pequena vila, sem praticamente nenhum valor
econômico por mais de três séculos, tenha experimentado um crescimento
tão vertiginoso em tão pouco tempo – pouco mais de 150 anos. Esta é São Paulo.
De 1500 até meados do século XIX, o Brasil passou por alguns ciclos econômicos.
O primeiro deles foi o do pau-brasil, de curta duração, mas que não logrou êxito
na tarefa de desenvolver a colônia. A Vila São Paulo de Piratininga era fundada
em 1554, quando a atividade já estava em declínio.
Em seguida, veio o ciclo do ouro, com a descoberta do metal precioso em Minas
Gerais, pouco acima de São Paulo. Seu escoamento, no entanto, foi feito
exclusivamente pelo Rio de Janeiro, então capital brasileira – isolando São
Paulo do desenvolvimento.
Algum tempo depois veio o ciclo da cana-de-açúcar, mas que atingiu
principalmente o nordeste brasileiro – novamente São Paulo via-se imune ao
progresso.
Então veio a vez do café, ciclo que perdurou de meados do século 19 até a década
de 1930. O sudeste brasileiro, no qual encontrava-se a cidade de São Paulo, era
a região propícia para o plantio dos grãos. É neste momento que
a cidade começa a se desenvolver de verdade.
Santos tornou-se o principal porto de escoamento do café do interior paulista.
Em 1867, a região ganhava sua primeira ferrovia – a São Paulo Railway -, ligando
Santos à Jundiaí. São Paulo, entreposto entre as duas cidades, tornava-se um
importante centro comercial e de negócios.
Nilton Neves/Lunapress
A Estação da Luz, construída no final do século
19, um dos símbolos da prosperidade do período
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Outro aspecto que contribuiu significativamente para o desenvolvimento de São
Paulo foi o crescimento demográfico da região, ocasionado pela a proibição do
tráfico negreiro, em 1850, e pela conseqüente intensificação da imigração de
europeus que vinham trabalhar nas lavouras de café da região.
São Paulo foi, aos poucos, se consolidando como uma potência econômica e
política em nível nacional.
A ocorrência da Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, refletiu positivamente
na economia paulistana. Por um lado, o declínio das importações promoveu a
industrialização da região, por outro, aumentou o fluxo de imigração de europeus
(que fugiam da guerra), servindo de contingente nas indústrias e no campo.
A Grande Depressão de 1929 - a primeira grande crise econômica mundial do
capitalismo - foi um choque para a economia cafeeira paulistana, já que boa
parte de sua produção era destinada à exportação.
Apesar dos impactos negativos, a crise de 1929 orientou mais ainda a economia de
São Paulo para o setor industrial. Aos poucos, surgiam os primeiros grandes
impérios indústrias, um dos mais notórios é o da família Matarazzo, que chegou a
ter mais de 300 indústrias instaladas na cidade.
A Segunda Guerra Mundial foi outro aspecto contribuinte do desenvolvimento
industrial de São Paulo, que passou a concentrar um grande número de indústrias,
atraindo contingente de outros estados brasileiros. As áreas no entorno de São
Paulo começavam a crescer populacionalmente, dando início ao processo de
metropolização da região.
O boom econômico, no entanto, veio a ocorrer nas décadas de 1950 e 1960 com o
plano de metas do governo de Juscelino Kubitschek, então presidente do País,
conhecido por “50 anos em 5” - em alusão a proposta de crescimento econômico
acelerado pela industrialização. A esta altura, São Paulo começar a tomar forma
semelhante aos dias de hoje.
As décadas de 70 e 80 são marcadas pelo surgimento dos problemas
sócio-econômicos conhecidos por todos nos dias de hoje – processos de
favelização, aumento de índices de violência, trânsito e poluição, entre outros.
Neste momento, ocorre também a descentralização das indústrias – que passam a
migrar de São Paulo e entornos para outros estados brasileiros. São Paulo, aos
poucos, vai ganhando os contornos econômicos atuais – uma economia voltada para
o setor de serviços e de turismo de negócios.
Atualmente, São Paulo se consolida como uma das maiores e mais ricas cidades do
mundo. Com a globalização da economia, com início na década de 1990, a capital
torna-se sede de centenas de corporações multinacionais e financeiras no Brasil
e da América Latina.
Mas isto não significa que os paulistanos tenham logrado êxito na tarefa de
dividir igualitariamente os frutos do desenvolvimento. Por entre estatísticas
macroeconômicas se escondem as diferentes matizes da cidade. Co-existem, no
mesmo tempo e espaço, a São Paulo da riqueza e do progresso, e a São Paulo da
pobreza e miséria. Leia na próxima página.
Terra de desigualdades
Não é apenas com um PIB digno de primeiro mundo que se alcança o bem-estar
social de toda uma cidade. É preciso saber compartilhar de forma
igualitária a riqueza, caso contrário, florescem problemas sociais,
econômicos e ambientais.
Esta meta, no entanto, é mais difícil de ser atingida do que parece. Em verdade,
é um grande problema, sobre o qual muitos gestores públicos, empresários,
agentes sociais e especialistas estão debruçados há anos.
Apesar de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ser bem melhor do que outros
municípios – 0,841 em 2000 –, São Paulo é uma gigante rica e absolutamente
desigual - caso típico de uma metrópole de terceiro mundo.
Fernando Fernandes/Lunapress
Imagem da Favela Vila Prudente mostra a riqueza
produzida na
capital não é dividida igualitariamente |
De acordo com o IBGE e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe),
São Paulo é lar de mais de 10 milhões de pessoas. 30 mil são milionários, cerca
de 60% do total deste grupo no Brasil; outros quase 2 milhões vivem espalhados
por entre suas mais de 600 favelas – uma média aproximada de 3.300 moradores por
favela. Numa conta rápida chega-se a proporção de 66 favelados para cada
milionário em São Paulo.
São Paulo é próspera. Basta trafegar pela avenida Brigadeiro Faria Lima para ver
o emaranhado de arranha-céus, ou passear pela rua Oscar Freire para observar as
mais badaladas grifes do mundo.
Mas será que a prosperidade já chegou até outro lado do rio?
Em São Paulo, as áreas desenvolvidas – com raras exceções - encontram-se
predominantemente na região central da cidade, situada entre os rios Tietê,
Pinheiros e Tamanduateí. É atravessar a ponte para avistar, em várias áreas, uma
vizinhança desordenada e caótica, com lixo nas ruas e muros
totalmente pixados. Andando mais alguns quilômetros é possível presenciar a vias
sem asfalto e sem postes de luz nas calçadas, esgoto a céu aberto e casebres
amontoados uns sobre os outros. É incrível, mas ainda estamos em São
Paulo.
A Secretaria Municipal de Planejamento de São Paulo (Sempla) mantém uma base
georreferenciada de dados sócio-economicos da cidade. Os resultados são
evidentes: as condições de vida na periferia de São Paulo são bem piores
do que nas áreas próximas ao centro.