Carreira / Emprego - Dislexia: distúrbio não impede sucesso profissional
A Associação Brasileira de Dislexia (ABD) define o problema como um "distúrbio
de aprendizagem na área da leitura, escrita e soletração".
De acordo com a oftalmologista e diretora do Hospital dos Olhos Dr. Ricardo
Guimarães, Márcia Guimarães, no caso da dislexia de leitura, o distúrbio começa
a ser identificado quando a criança ainda está no ensino fundamental. Ela começa
a ter dificuldades em aprender o português e fica em defasagem em relação aos
colegas de sala.
Ao contrário do que muitos pensam, este não é um distúrbio resultante de falhas
na educação da criança. "É um distúrbio que tem caráter genético. Um dos pais
vai ter algum problema parecido", explicou a oftalmologista. Porém, diante de um
ambiente adequado e de um estímulo adequado, a criança se desenvolve e pode se
tornar uma ótima profissional.
Problema desapercebido
O problema é que nem sempre o distúrbio é identificado quando deveria. O
diagnóstico precoce é essencial, para que a pessoa possa contar com um suporte
multidisciplinar. "Essa população disléxica, muitas vezes passa desapercebida.
As crianças passam pela escola no limite e conseguem se formar e têm que encarar
um mundo que exige habilidades que elas não possuem".
Diagnosticada precocemente, a pessoa passa a receber apoio psicológico,
psicopedagógico e, inclusive, fonoaudiólogo. Desta forma, a pessoa consegue
identificar quais as áreas nas quais se destaca. Isso porque, de acordo com
Márcia, é importante ressaltar que as pessoas disléxicas não são menos
competentes, mas diferentes.
"Se, por um lado, elas têm dificuldades na escrita, por outro, elas são
criativas. São talentos que fazem com que se destaquem em áreas diferenciadas",
ponderou a oftalmologista. É necessário, por sua vez, ajuda profissional para
que elas reconheçam a área em que se sobressaem.
A carreira
Quando o distúrbio passa desapercebido, ao chegar na vida profissional, a pessoa
não consegue se manter na carreira. Mas isso não é por falta de inteligência,
afinal, para conseguir um diploma, eles estudam muito mais do que a grande
maioria. O motivo é que não estão em uma área em que podem demonstrar suas
habilidades.
Aproveitando estas habilidades, os disléxicos chegam ao sucesso. Os atores Tom
Cruise e Woopy Goldberg têm o distúrbio. Pesquisa realizada pela revista The
Economist, no começo deste ano, revelou que entre os 300 maiores milionários dos
EUA, 40% são disléxicos.
"O que há nessa população? Muita criatividade. Eles trazem soluções 'fora da
caixa padronizada'. Soluções inéditas. Eles criam outras abordagem. Por,
normalmente, passarem por uma série de desafios, são persistentes. Eles
aproveitam as oportunidades", ressaltou Márcia.
Déficit de atenção
Com muita freqüência, os sintomas de déficit de atenção e de dislexia se
justapõem. Isso porque o disléxico tem dificuldade no processamento da
informação e acaba se distraindo. "Assim, ele fica mais irritado e, então, é
taxado de hiperativo, inquieto, mas faz parte do quadro dele".
Enfim, de acordo com Márcia, o déficit de atenção, a hiperatividade e a dislexia
podem se associar. "Nem todos os disléxicos vão ter os outros sintomas, mas
muitos os têm".
Para se ter uma idéia, a dislexia é uma doença de distribuição universal. Isso
significa que a incidência independe de credo, situação social, raça, linguagem.
Nos EUA, de 8% a 15% da população tem dislexia. No Brasil, fala-se de 8% a 12%.
Aqueles que também têm hiperatividade são 30% a 40% deste total.
Sinais de alerta
Em sua página na internet (www.dislexia.org.br),
a Associação Brasileira de Dislexia montou uma lista de sinais para que os pais
identifiquem se os filhos possuem o distúrbio. Confira abaixo:
- Haverá sempre: dificuldades com a linguagem e escrita;
dificuldades em escrever; dificuldades com a ortografia; lentidão na
aprendizagem da leitura;
- Haverá muitas vezes: disgrafia (letra feia); dificuldade com a
matemática, sobretudo na assimilação de símbolos e da tabuada; dificuldades
com a memória de curto prazo e com a organização; dificuldades em seguir
indicações de caminhos e em executar seqüências de tarefas complexas;
dificuldades para compreender textos escritos; dificuldades em aprender uma
segunda língua;
- Haverá às vezes: dificuldades com a linguagem falada; dificuldade
com a percepção espacial.
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