Negócios / Empreendedorismo - Formação de preços para maximizar lucros
Logo que concluiu o curso de MBA, John Hogan passou a trabalhar com a equipe
responsável pela definição de preços na General Motors, nos Estados Unidos. Um
time pequeno, como definiu, analisava por nove meses cada componente de um
automóvel para se chegar a um índice de reajuste. O número, em 10 minutos, era
alterado pelo presidente da multinacional em uma reunião com executivos. E todo
o trabalho da equipe de precificação precisava ser refeito. Foi com este exemplo
que Hogan, atualmente um dos mais importantes consultores sobre precificação no
mundo, abriu seu segundo dia de palestras no Special Management Program, evento
realizado pela HSM no Hotel Transamérica, em São Paulo. Ele frisou, ainda, a
complexidade para se definir o preço de algum produto ou serviço e ter sucesso.
Como em seu primeiro dia de aula, Hogan ressaltou a importância de se pensar a
definição de preços de forma estratégica. Alertou contra as armadilhas das
tomadas de decisões rápidas, e por impulso, como uma redução de preços como
resposta a uma provocação de concorrentes. "Devemos sempre evitar a guerra, seus
efeitos são devastadores para o mercado". Aos executivos no evento, mais uma vez
Hogan aconselhou: "É importante reconhecer que a estratégia de precificação é
complexa e precisa ser definida para cada player do mercado". Hogan também
reforçou que os executivos devem estar sempre atentos a uma simples pirâmide,
cujos três itens (tática, valor e estratégia) precisam ser analisados de forma
cíclica na definição de preço. "Esta é uma ferramenta simples que necessita ser
aplicada nos negócios."
Faça uma lista
Aos executivos, Hogan pediu para que fizessem uma lista de itens que devem ser
analisados para se definir o preço de um novo produto. As sugestões foram:
- Custo;
- Preço da concorrência;
- Valores;
- Estratégica competitiva;
- Conhecimento sobre o consumidor (no que se interessa, deseja e suas
expectativas);
- Importância da marca (questione se a marca é forte suficiente para competir);
- Concorrentes;
- Questões regulatórias;
- Estimativa de volumes.
"Como no meu caso, na General Motors, é difícil pensar em toda uma lista, às
vezes as pessoas se perdem em tantos itens. Por isto, é importante avaliar as
estratégias que temos para definir preços", afirmou. "E, nesta análise, nunca
esquecer dos objetivos dos concorrentes." Mas somente isso não basta. Para
precificar um produto ou serviço, Hogan explicou que é fundamental se atentar
para quatro pontos:
1. Rever quantificação do valor e estabelecer banda inicial de preços;
2. Avaliar fatores de sensibilidade a preços de cada cliente;
3. Ajustar preços iniciais com base em análise de breakeven;
4. Avaliar considerações e fixar preços competitivos.
Estratégicas genéricas de precificação
Para Hogan, na hora de se definir estratégias de preços pense como um bom
gerente, adote escolhas certas. E existem caminhos para a definição estratégica,
como técnica de skim, neutra ou penetração. Em skim, Hogan afirma que surge o
exemplo clássico de precificação. Citou lançamentos de produtos de alta
tecnologia, como aparelhos de televisão. Fabricantes colocam o produto no
mercado com preço bem elevado e atingem "fanáticos por tecnologia". Com redução
de custos, o índice ao consumidor cai com o tempo e o volume de vendas cresce.
Na estratégia neutra, não se usa o preço para aumentar a participação de mercado
(preço é minimizado como ferramenta de marketing), ao contrário da estratégia de
penetração, quando se tem preço baixo para manter uma grande base de clientes.
Faça as contas
John Hogan fez os executivos puxarem lápis, papel e calculadora de suas pastas e
bolsas no aprendizado de fórmulas matemáticas para se calcular preços, nas mais
variadas estratégias. Com base em cálculos, o professor mostrou se é viável
reduzir preços e ter lucros com aumento de volumes, ou não. Usou exemplos de
empresas com perfis diferentes para mostrar como as contas são realizadas e
quais objetivos a matemática poderia traçar para as companhias.
O cliente
Hogan também ensinou a importância de se definir preços por segmentos. "Leve
sempre levar em conta o cliente para a precificação", disse. "A sensibilidade do
cliente é um item muito importante." O professor citou um grupo médico que há
alguns anos desenvolveu um programa de computador com grande valor agregado e
preço definido em US$ 2,5 mil. Foi um fracasso de vendas porque os consumidores
comparavam aquele pr oduto como um software (era comercializado em um disquete)
e "ninguém aceitava que um software custasse mais que US$ 400". A saída, segundo
Hogan, foi entender as necessidades do consumidor e rotular o mesmo produto como
uma consultoria, o que as pessoas procuravam na época. "Uma consultoria por US
2,5 mil é barata." Outro fator de sensibilidade do cliente é questionar se ele
vai imaginar se há riscos em comprar um produto. "Ele tem de estar seguro para
investir e aceitar o preço e o valor do que sua empresa vai colocar no mercado."
Esta avaliação, de acordo com o consultor, também deverá estar incluída na cesta
de fatores para precificação.
Avalie custos de oportunidades
Hogan explicou que os executivos sempre precisam avaliar se um negócio é
suficiente lucrativo para merecer uma proposta. "Para manter um cliente, às
vezes é necessária uma redução de preço. Avalie se vale a pena, pois esta
redução poderá atingir outros clientes. Às vezes é melhor perder a
oportunidade". A análise leva em consideração também cálculos matemáticos. "É
uma forma fantástica para se usar no calor da batalha", brincou.
Ponto de equilíbrio e gestão da concorrência
Hogan reforçou a importância da equação do ponto de equilíbrio para a tomada de
decisão sobre a definição de preços em seu último bloco dos dois últimos dias do
Special Management Program. Ele destacou que esse cálculo é uma ferramenta que
permite que o responsável pela definição de preços possa ter a adequada
avaliação sobre a melhor atitude a adotar diante da acirrada disputa nos
diferentes mercados mundiais. Um dos destaques deste último bloco foi a
exposição sobre a gestão da concorrência. Hogan mostrou os diferentes players
(empresa, concorrentes e clientes) e interagiu com os executivos que
acompanharam sua palestra. Ele colocou em debate as estratégias que podem ser
utilizadas para redirecionar as atitudes dentro desse cenário.
Na sua visão, a redução de preços deve ser a última arma a ser aplicada a essa
guerra, pois ela tende a diminuir a margem de lucro de todos os concorrentes,
devendo ser utilizada diante da certeza de que isso trará benefícios para a
lucratividade da empresa no longo prazo. Por outro lado, novas estratégias podem
mudar as regras do mercado, influindo igualmente sobre a concorrência. "Esse é o
trabalho do especialista em precificação", disse.
A arte da competição
Cases e metáforas para ilustrar suas explicações voltaram a ser usados por John
Hogan, que traçou um paralelo entre a guerra e a competição de mercado,
lembrando que há duas alternativas, "participar do jogo ou sair desse mercado,
procurando um espaço para oferecer meus produtos, com lucratividade". "Numa
guerra, generais e diplomatas usam técnicas diferentes com um mesmo objetivo",
disse, lembrando, mais uma vez, que o preço deve ser o último recurso a ser
usado numa negociação e citou Sun Tzu, em A arte da guerra, ao dizer que "aquele
que sabe quando pode lutar e quando não pode será vitorioso no final".
"Essa é a arte da competição, em que há um número reduzido de oportunidades em
que vale a pena reagir a uma redução de preço da concorrência; no geral, há
outros instrumentos competitivos mais eficazes para a empresa nesse jogo",
afirmou.
Precificação estratégica
Hogan propôs aos participantes que respondessem sobre quais são os maiores
desafios para a adoção da precificação estratégica pelas organizações. A
questão, polêmica, fomentou o debate, uma vez que o plenário se constituía de
representantes de organizações com diferentes culturas. Ele observou alguns
elementos comuns nesse cenário, como a ausência de um modelo único, mundial, que
atenda às áreas de vendas e de compras de cada país, conflitos de incentivos e
necessidade de mudanças na cultura das empresas. Para Hogan, "o apoio e o
envolvimento da direção são cruciais na reorganização do processo de formação de
preços, mas também é fundamental que esta entenda a estratégia, especialmente se
envolver aumento de lucratividade com, por exemplo, perda do mercado".
Mas as mudanças não ocorrem espontaneamente. Por esse motivo, ele deu ênfase ao
papel do especialista, o qual deve promover essa evolução, com a criação de um
grupo de ferramentas de precificação voltadas a cada área da empresa. "Também é
necessário que se tenha habilidade para ensinar as pessoas a trabalhar com essa
metodologia, e desenvolver um processo para a utilização dessas ferramentas e
investir em treinamento", disse, acrescentando: "Nós devemos orquestrar esse
processo, pois temos o conhecimento; se não temos todos os itens dessa
estratégia alinhados processos, dados, ferramentas, habilidades, treinamento]
não teremos resultados de longo prazo".
Para o especialista, há modelos para conscientizar os membros das empresas e
fomentar a mudança dos padrões. Esses modelos têm como base os adotados para o
aprendizado de adultos, partindo do estímulo à conscientização, descongelamento
de velhos hábitos, assimilação da necessidade de mudança prática. Depois dessas
etapas iniciais é que serão aplicadas e examinadas as novas idéias e
comportamentos e, se for o caso, posteriormente adequadas às características
específicas da organização. Além disso, é importante fomentar o compromisso de
todos os envolvidos.
Hogan ainda destacou a necessidade de aplicar os novos conceitos num
projeto-piloto de um novo produto, "por ser sempre muito útil não apenas para
exemplificar e testar o novo processo e as adaptações que se fizerem
necessárias", mas também por criar multiplicados entre os envolvidos nesse
projeto, pois, segundo ele, "as pessoas aprendem ao ensinar".
Ao concluir sua explanação, Hogan afirmou estar "convicto de que no mundo todo
há pouquíssimas empresas que dominam e aplicam a estratégia de precificação e
que elas têm lucratividade maior que as demais. "Essas técnicas elevam sua
competitividade", disse. Hogan anunciou que em 10 dias divulgará os resultados
de uma pesquisa mundial sobre esse tema.
Referência:
sebrae-sc.com
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