Livros e reportagens sobre carreira e liderança afirmam, quase que
invariavelmente, que os conflitos prejudicam o andamento dos trabalhos nas
empresas; impedem o líder de focar na gestão estratégica, pois este acaba
perdendo grande parte do tempo tentando apaziguar os ânimos da equipe; e
acarretam falta de motivação.
Na realidade, entretanto, os conflitos podem ser interessantes e positivos tanto
para as empresas quanto para os líderes, se estes souberem liderar. O professor
do Ibmec-SP Gilberto Guimarães, que também dirige a BPI no Brasil, consultoria
européia especializada em processos de mudanças, explica que existem dois tipos
de desavenças entre funcionários e entre funcionários e líderes.
Tipos de desavenças
Há os conflitos comportamentais, que estão longe de serem positivos às empresas,
e os conflitos de idéias e visões, que enriquecem as atividades das
organizações. "Quando existe discussão em torno de um tema, cada um dos dois
lados da história expõe suas idéias e o resultado é uma terceira idéia".
Mesmo que o chefe imponha sua idéia, esta já estará modificada pela discussão, o
que representa um ganho de qualquer maneira, garante Guimarães. A explicação é
que o "vencedor" da discussão terá ainda mais certeza de que sua idéia é a
melhor.
"As propostas evoluem com o debate, dando mais certeza às certezas". Mas esta
seria, segundo o especialista, a "pior das hipóteses". "Geralmente, discussões
dão margem a uma terceira proposta". Sob este prisma, a dedução que se faz é que
empresas onde não ocorre conflito algum podem ficar estagnadas e deixar de
crescer.
Profissional: quando é hora de expor suas idéias?
Nem sempre as idéias dos funcionários dissidentes são boas, por isso é preciso
tomar cuidado e avaliar com cautela o que falar, e quando. "A transparência
total não é um bom critério de comunicação, por isso procure colocar suas idéias
e proposições quando tiver certeza de que elas são boas. É importante
filtrá-las. Dependendo do assunto, faça pesquisas, procure uma base de
argumentação", aconselha o professor.
Líder: como estimular conflitos "positivos"?
De acordo com Guimarães, na sociedade do conhecimento, o bom chefe tem noção de
que, via de regra, não sabe mais que seus funcionários, que são especialistas no
que fazem. Daí a importância de estar aberto às idéias, e não criticar ou
censurar funcionários dissidentes.
"Não faz sentido para um líder maduro impor seus pontos de vista e opiniões. O
certo é discutir. Quem administra uma equipe pode impor resultados, mas nunca
procedimentos. Estes precisam ser sempre melhorados. O debate sempre deve ter
como norte a maturidade, tanto técnica quanto psicológica, do líder e dos
membros da equipe", sublinha.
Entretanto, ele alerta que, se o conflito for de idéias, e não comportamental, o
líder não pode botar lenha na fogueira, mas também não é sempre indicado apagar
o fogo. "Deixe fluir. Estimule o diálogo no dia-a-dia, peça sugestões e induza a
equipe a encontrar novas soluções, mas tudo com muito jogo de cintura", revela.
"O chefe de hoje é um maestro. Antigamente, fazia sentido pressionar para que as
atividades fossem desenvolvidas com mais rapidez, porque a produtividade do ser
humano era a máquina que determinava. Hoje, mais importante do que agilidade é a
qualidade do trabalho e os resultados atingidos por meio dele", acrescenta.
Lidando com a mágoa
"Onde há conflitos, há mágoa, é uma característica do ser humano", garante
Guimarães. Daí a importância do líder ter jogo de cintura ao lidar com as
desavenças e as discussões que, como vimos, são essenciais a qualquer empresa. O
ideal é criar um clima de liberdade, em prol do surgimento de idéias, e de
cooperação e entendimento, para que cada um dos funcionários sinta que ganhou
com o debate, ainda que sua idéia não tenha sido a preferida.
"Além disso, o gestor da equipe não pode classificar nenhum funcionário de
melhor ou pior por suas idéias. Não julgue o quem e sim o que". Ou seja, não
importa de quem tenha sido a idéia, mas se esta é valiosa ou não.