Parte considerável de uma geração de pessoas encontra-se, hoje, em uma
situação financeira bastante peculiar, raramente observada na história humana.
Trata-se dos "ensanduichados financeiramente".
São pessoas da faixa dos 40 a 60 anos, sobre as quais recaiu o papel de serem o
meio de um sanduíche, cujas partes externas são compostas por seus filhos, ainda
financeiramente dependentes, e seus pais, surpreendidos por um envelhecimento
que se alonga incessantemente e torna-os financeiramente vulneráveis.
Como conciliar?
A angústia financeira para esses ensanduichados vai ainda mais além. Há uma
outra peculiaridade do momento histórico em que vivemos: como prover pais
idosos, filhos que continuam demandando recursos financeiros até mesmo depois da
universidade e ainda prevenir-se para a própria aposentadoria, dado que tal
responsabilidade também recaiu sobre os ombros das pessoas?
É uma questão capciosa que envolve a administração do futuro de, ao menos, duas
gerações (a própria e a dos filhos) e a administração do dia-a-dia de três
gerações: filhos, pais e a própria. Toda essa problemática envolve emoção e
compaixão, o que vai, portanto, muito além da questão financeira.
Esse é, sem dúvida, um pesado compromisso intergeracional de extensa duração e
que não está sendo devidamente apreciado pela academia, pelos especialistas ou
pelos agentes financeiros. Cuidar concomitantemente do próprio futuro, de pais
idosos (70, 80 ou 90 anos) e filhos (desempregados ou subempregados, às vezes
com mais de 30 anos) é tarefa árdua e quase sempre insana.
Sem dúvida, um quadro que mereceria destaque nas avaliações de qualquer pessoa
que se sensibilize para interpretar como estão agüentando as pessoas que estão
vivenciando tal situação, como estão elas enfrentando os desafios econômicos -
inusitados e extenuantes - cujos impactos emocionais e econômicos não têm sido
abordados com a propriedade que mereceriam? Que conseqüências sociais esse
compromisso geracional trará à tona, em alguns anos?
Pense também em você
Não é difícil imaginar que essas pessoas estão sacrificando o "futuro de seus
próprios futuros" ao agirem com tal desprendimento com relação ao seu dinheiro:
ao cuidar dos outros, colocando-se em terceiro lugar muitas vezes, as pessoas
cometem aquele que se pode considerar um dos maiores erros financeiros: não
cuidar da própria aposentadoria.
Além disso, ao não cuidar do próprio futuro as pessoas correm o risco de
perpetuar essa situação de ensanduichamento, criando um círculo vicioso em que o
próximo meio do sanduíche provavelmente será a geração seguinte: os próprios
filhos.
O que se pode fazer em situação tão comovente?
1)"Coloque a máscara de oxigênio" primeiro em você. Você só poderá socorrê-los,
se estiver bem. O dinheiro da faculdade pode ser emprestado, o da aposentadoria
não.
2) Seguros de saúde são essenciais. São pessoas demais para se correr riscos de
gastos com médicos e hospitais
3) Seguro de vida (seu) também não deve ser esquecido, com pais e filhos como
beneficiários.
4) Pense em reservas financeiras para emergências de cerca de 3 a 6 salários.
5) Faça reuniões constantes com toda a família cujo tema seja o uso eficaz dos
recursos e a administração coerente das despesas que a família incorre.
6) Peça a colaboração de todos, na medida do possível. Não faça da sobrevivência
de tanta gente a sua tarefa solitária de super herói (ou heroína).
7) Simplifique o máximo que puder. Viva uma vida simples para evitar o estresse
e suas terríveis conseqüências.
Eliana Bussinger é palestrante e consultora em Inovação e
Marketing para Mulheres e autora dos livros "A Dieta do Bolso" e "As Leis do
Dinheiro para Mulheres", ambos da Editora Campus/Elsevier.