Carreira / Emprego - Não pose de bicho-papão
Você pode até fingir que esse NÃO é um problema em SUA equipe. Claro, você é
um cara legal, cheio de boas intenções. Na de seu colega (você sabe pelas
conversas de corredor), é um horrrror!!! Ninguém tem coragem de chegar para ele
e apresentar idéias novas, levantar um problema, bater um papo sobre a carreira.
As pessoas sentem medo de abrir a boca e ser recriminadas, ser ofendidas, ser
humilhadas pelo chefe-sabe-tudo, aquele que sempre tem a última palavra.
A menos que você seja uma exceção, um mico-leão-dourado dos escritórios, a sua
equipe também anda em pane. O professor Antônio César Amaru Maximiano, dos
cursos de mestrado e doutorado em administração da USP, diz que essa é uma
situação muito comum. E nada tem a ver com amizade e bom papo. Eis o que ele
ensina para quem pretende eliminar o medo da equipe de falar francamente.
- As pessoas podem ter medo de falar abertamente com seus chefes pela
simples razão de que isso pode ser perigoso, arriscado. O chefe pode
responder mal, não ser capaz de aceitar críticas e sugestões. O professor
Amaru compara esse modelo de chefe a Adolf Hitler. Dele teria dito um de
seus auxiliares: 'Pelo amor de Deus, não deixem o Führer (líder em alemão)
nervoso. Não lhe contem as más notícias'. No extremo, os chefes perigosos
seguem o modelo de Stalin. De vez em quando trocam toda a equipe mandando-a
para o cemitério. Quem teria coragem de abrir a boca com um chefe assim?
- Evite o modelo Hitler/Stalin. Como? Acredite sinceramente na disposição
dos membros da equipe para colaborar e resolver problemas. Tenha como modelo
os líderes Taiichi Ohno, um dos criadores do sistema de produção da Toyota,
ou Jack Welch, o ex-todo-poderoso da GE.
- Organizações conservadoras e enferrujadas têm culturas que só acreditam
nas tradições e na hierarquia. As pessoas começam jovens e entusiasmadas.
Depois de alguns anos, chegam ao topo. Tornam-se então membros do poder, o
qual não querem mais largar. Resultado: ser participativo ou crítico é quase
sinônimo de naufrágio na carreira.
- Abra os canais de comunicação para quem quiser criticar ou oferecer
sugestões. Amaru sugere que você estude e use o CRM, Crew Resource
Management. Tratase de uma técnica que a Nasa desenvolveu para as empresas
de aviação evitar acidentes. Consiste em treinar os comandantes para ouvir e
aceitar qualquer informação que venha para a cabine, seja de um tripulante,
seja de um passageiro. Use o seguinte princípio: não acredite que a
autoridade seja a mãe de qualquer verdade.
- Não é preciso ser amigo para evitar o apelido de bicho-papão. Mas pior
de tudo, segundo Amaru, é querer parecer amigo. Isso é demagogia, busca da
popularidade a qualquer custo. Adote uma postura profissional. Os
funcionários têm o direito de falar, você tem a obrigação de ouvir. E
vice-versa.
- Nada substitui a conversa face a face. Crie oportunidades para isso
durante o horário de trabalho. Encontros informais não costumam ser eficazes
para essa finalidade. 'Happy hour é happy hour e não uma reunião para dizer
ao chefe o que se pensa dele', diz Amaru. 'Isso as pessoas vão fazer quando
o chefe não estiver por perto.'
- É claro que o chefe de uma equipe muito grande não tem tempo sobrando
para conversar com todo mundo. Para não correr o risco de administrar mal o
tempo, organize-se. Agende contatos individuais e em grupo. Faça isso como
parte regular de suas atividades.
Você quer receitas para fracassar? Criar um clima de terror é uma delas. Se
uma equipe quiser sabotar seu chefe, basta obedecer rigorosamente às ordens
dele. É o que acontece quando as pessoas têm medo. Obedecer é a fórmula para não
errar e para não criar. Ou vá para o extremo oposto. 'Tentar agradar a todos é a
receita do fracasso', dizia John Kennedy.
|