Carreira / Emprego - Águia ou galinha: qual é o seu estilo profissional?
Se as pessoas fossem condenadas, pelo resto de suas vidas, a seguir ordens e
trabalhar sem criar, sem ter o poder para mudar as coisas e sem sonhar, sendo,
portanto, "galinhas", não se sentiriam totalmente felizes. Pois é, cada
indivíduo possui, dentro de si, uma águia. A suposição foi feita pelo filósofo e
teólogo Leonardo Boff, em seu livro "A águia e a galinha - uma metáfora da
condição humana", da Editora Vozes.
O motivo é que o ser humano não aceita permanecer na dimensão-galinha, obediente
às ordens daquele que deseja controlá-lo. Quando alguém rejeita o comodismo, o
conformismo e o pragmatismo, é porque essas palavras significam formas de fuga
aos desafios que se apresentam ao longo da vida.
Afinal, você é águia ou galinha?
Boff diz que cada um tem uma estrutura que se manifesta mais como águia em
algumas pessoas e mais como galinha em outras. Não existe o certo: pode-se
querer voar alto ou ficar sempre na mesma altura.
"Tudo depende do que faz sentido para o profissional", garante o coach Ricardo
Melo. "Às vezes, o indivíduo tem um estilo mais estável e, por isso, sente
prazer em ficar muito tempo na mesma empresa, realizando as mesmas atividades.
Esse tipo de pessoa tende a procurar a felicidade em outras esferas".
"Agora, se a pessoa enxerga no trabalho uma de suas principais fontes de
felicidade, mas trabalha em um lugar onde ninguém leva em conta sua opinião nem
permite a vivência de riscos, esse profissional está fadado à infelicidade. Isso
porque ele possui uma visão do todo, se arrisca e pensa de forma mais
estratégica do que operacional. São as pessoas que movimentam o mundo",
acrescenta.
Vantagens e desvantagens da águia
A vantagem de ser águia, na opinião do coach, é o destaque no mercado com muito
mais rapidez, obtido por meio da busca contínua por novos desafios. No entanto,
esse crescimento vem acompanhado de mais estresse.
A consultora da BSP Career, Liamar Fernandes, concorda. "As vantagens no estilo
profissional águia é que ele pode vir a ser um profissional diferenciado da
grande maioria, já que usa a seu favor a criatividade e a proatividade, é seguro
nas tomadas de decisão, corre e assume riscos, é curioso, questionador e tem a
tendência a ser mais aberto a mudanças", revela.
"Entretanto, esse estilo também acarreta muitas desvantagens. Você pode imaginar
um colaborador com estilo águia subordinado a um gestor do estilo galinha? Esta
situação é mais comum do que se pensa. Dá para imaginar os conflitos entre
ambos? O colaborador águia muito possivelmente será o primeiro a ser demitido",
analisa Liamar.
Como vive o estilo "galinha"?
Já o indivíduo que prefere viver na dimensão-galinha, ou inconscientemente a
escolhe, passa a vida no anonimato. Por outro lado, ele despende menos energia
com o passar dos anos, por conta da tendência de trabalhar por anos a fio na
mesma empresa, se incomoda menos com as limitações e se estressa pouco. "É
confortável, mas é necessário saber viver desafios, sem perder de vista a
qualidade de vida", diz Melo.
Para Liamar, o estilo profissional galinha tem como vantagem o bom
relacionamento com a maioria das pessoas, pois não confronta e nem sempre coloca
seus pontos de vista, preferindo não gerar conflitos de opiniões, garantindo,
desta maneira, seu emprego, já que sua demissão é menos provável. É um fiel
escudeiro, trabalhando, muitas vezes, sem questionar. "Faz assim porque sempre
foi feito assim. Enfim, não incomoda nem assusta ninguém. Nem a própria chefia",
afirma ela.
"Como desvantagem, esse profissional se utiliza menos da criatividade, do seu
potencial intrínseco, corre menos riscos, pode somatizar com mais facilidade,
apresentar maior insegurança nas tomadas de decisão, tornar-se reativo e
desenvolve a tendência à acomodação e ao acúmulo de atividades".
Quem é mais valorizado
Na opinião da consultora da BSP Career, as empresas valorizam mais o estilo
águia. Elas admiram, apreciam sua criatividade e resiliência. São pessoas fortes
frente à pressão e aos obstáculos. Entretanto, líderes buscam e mantêm cada vez
mais o estilo galinha ao seu redor. "Isso se deve porque as empresas têm
investido pouco nas habilidades interativas intra e interpessoais".
Para ela, as pessoas vivem um dilema, entre a águia e a galinha. "Quando Boff
diz o ser humano tem uma estrutura básica que se manifesta mais como águia em
alguns e mais como galinha em outros, isso é explicado pela programação
neurolinguística. Estamos falando de crenças instaladas no nosso hardware, ou
seja, no processamento interno do nosso cérebro, por conta de vivências e
influências de nossos pais e parentes, da escola, de instituições religiosas, da
mídia, das novelas e de propagandas. Elas podem ser limitantes ou poderosas e
todos os seres humanos possuem ambas".
"Quando há o predomínio das crenças limitantes, manifestamos o estilo galinha e,
quando predominam as crenças poderosas, manifestamos a águia. Como as crenças
ficam no inconsciente, e não nos damos conta do quanto as limitantes nos fazem
sofrer, temos a necessidade de entrar em contato com a nossa parte criativa,
para descobrirmos novas formas de agir", explica.
Seja os dois
Profissionais águias e galinhas precisam uns dos outros. Os primeiros ajudam as
pessoas a tomarem as decisões mais difíceis e levam a empresa para frente. Os
segundos são responsáveis pela manutenção das atividades e não há organização
que viva sem eles.
Mas Leonardo Boff propõe que as pessoas sejam, em um só tempo, galinhas e
águias: realistas e utópicas, enraizadas no concreto e abertas ao possível ainda
não ensaiado, andando no vale, mas olhando para as montanhas. Segundo o
filósofo, se não buscarmos o impossível, jamais conseguiremos o possível.
Diz ele, em seu livro: "Ai de nós, se nos contentarmos em ser somente galinhas,
se permitirmos que nos reduzam a simples galinhas: encerrados em nosso pequeno
mundo, de interesses feitos e de parcos desejos, com um horizonte que não vai
além da cerca mais próxima. Não disse o poeta Fernando Pessoa: eu sou do tamanho
do que vejo e não do tamanho de minha altura?".
|