Informações, análise de relatórios, resultados das empresas, dados
estatísticos. São esses os meios mais utilizados pelos investidores - ou
interessados em investir - antes de tomar a decisão de compra ou venda de uma
ação.
Diante de dados aparentemente tão concretos, fica fácil concluir que a razão é
fator determinante na tomada de decisão do investidor, certo?
Errado. De acordo com o membro do Centro de Estudos dos Processos de Decisão e
Neuroeconomia da EESP (Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio
Vargas), professor Marcos Fernandes, apesar da análise fundamentada em
relatórios, na hora de decidir, o lado emocional é fundamental.
Totalmente emocional
Para Fernandes, a tomada de decisão em si é totalmente emocional. "Se fôssemos
totalmente racionais não tomaríamos decisões", defende o especialista.
Segundo ele, em termos filosóficos, se fôssemos extremamente racionais não
teríamos razões para tomar decisões que envolvam riscos. E, em termos empíricos,
estudos comprovam que, na hora de decidir sobre a compra e a venda de ativos
financeiros, todo o cérebro funciona no processo. "Mas, na hora da tomada da
decisão, são as esferas mais emocionais do cérebro que entram em ação",
explicou.
No seminário "Neuroeconomia, Decisão e Racionalidade", foi discutido como
se tomam decisões econômicas com base em estudos e dados fornecidos em
ressonâncias magnéticas.
De acordo com Fernandes, o exame mostra quais as partes do cérebro que são
acionadas e em quais momentos do processo de decisão. "Na ressonância a análise
é baseada no consumo de oxigênio e na tomografia na geração de energia no
cérebro", explicou o professor.
Bom para o bolso, bom para a Bolsa
"As neurociências, e a neuroeconomia em particular, ainda são vistas com
restrições tanto no Brasil quanto no mundo", revelou Fernandes, que disse que,
no País, os estudos sobre o tema começaram há cerca de apenas dois anos.
No entanto, as pessoas têm começado a se interessar pelo assunto. "Com a
neuroeconomia é possível testar empiricamente algumas suposições que eram ou
axiomas ou hipóteses muito fortes e nos permite trabalhar com racionalidade
limitada", disse Fernandes.
O Centro de Estudos dos Processos de Decisão e Neuroeconomia deve, nos próximos
anos, iniciar a pesquisa batizada de "Estudo Neuroeconômico do Investidor
Brasileiro", utilizando, no Brasil, o eletroencefalograma não invasivo, para
avaliar o cérebro do investidor na hora da tomada de decisão.
A idéia é, segundo o especialista, avaliar como os brokers das corretoras tomam
decisões na Bolsa de Valores, como o cérebro deles funciona.
Para Fernandes, o trabalho pode virar, inclusive, um serviço de saúde pública.
Será possível, por exemplo, identificar um alto nível de estresse, que pode
causar tomadas de decisões equivocadas e precipitadas. "Nesse caso, seriam
recomendadas férias ao profissional", indica o professor.
"O que mostra, mais uma vez, que sem emoção não se toma decisão", finalizou.