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Finanças pessoais - Neuroeconomia: como o cérebro se comporta nas decisões financeiras 

Data: 11/09/2008

 
 

Neuroeconomia. O termo, ainda pouco conhecido, se refere à aproximação dos estudos da economia com os da psicologia e da neurociência. Esses estudos utilizam recursos como o mapeamento cerebral para entender o comportamento humano.

"A economia vem estudando há séculos os sistemas de tomada de decisão. Essa curiosidade levou a neurociência a se aproximar da economia, para que juntas, consigam decifrar como funciona o cérebro dos homens na hora de decidir por uma compra, um investimento, ou em qualquer outra situação relacionada ao trato com o dinheiro", explica o médico e coordenador do Centro de Estudos dos Processos de Decisão, Escola de Economia de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas, Armando Freitas da Rocha.

Para Rocha, um dos pontos fundamentais desses estudos é a possibilidade de perceber que a teoria da racionalidade não consegue explicar sozinha os processos de tomada de decisão. "Essa teoria não considera a emoção e hoje já sabemos que a emoção está muito presente quando se toma uma decisão", afirma o doutor e completa: "afinal, não tem como decidir sem sentir ansiedade, medo, prazer etc. O já consagrado efeito de resistência às vendas, quando o investidor deixa de vender suas ações no momento adequado e acaba amargando perdas, tem um fundo emocional imenso".

Conhecimento x emoção
O coordenador explica que a emoção está presente em todos os processos de decisão, e que é impossível não se deixar influenciar por ela na hora de fazer uma escolha. "Os mais estudiosos e bem informados, que entendem de mercado financeiro, costumam obter resultados melhores com suas escolhas. No entanto, isso não significa que essas pessoas consigam tomar decisões baseadas apenas na razão. Ninguém, por mais experiente que seja, consegue eliminar totalmente a emoção na hora de decidir algo".

O Seminário Neuroeconomia, Decisão e Racionalidade, realizado no mês de junho em São Paulo, foi um grande avanço para esses estudos. No evento, o pesquisador alemão Martin Paulus, formado em medicina e professor da Universidade da Califórnia, em San Diego, explicou como se tomam as decisões econômicas com base em estudos e dados fornecidos em ressonâncias magnéticas. "E na minha opinião, a grande importância desses resultados foi a percepção de que a emoção é muito mais importante na tomada de decisão do que se considerava antigamente", explica.

Rocha conta, ainda, que até o estado físico do corpo influencia o estado emocional e a tomada de decisão. "Podemos dizer, por exemplo, que se o seu sapato estiver um pouco mais apertado, você pode tomar uma decisão diferente da que tomaria com um sapato confortável. Por isso é importante prestar atenção no comportamento emocional na tomada de decisão, porque ele influencia muito e você pode ficar perplexo com sua própria escolha", afirma. "Conhecendo como o cérebro trabalha, fica mais fácil entender certos comportamentos", completa o pesquisador.

Estudos recentes
Rocha explica que os estudos ainda são recentes e é difícil prever até onde poderão ajudar, seja as pessoas individualmente, ou até a economia de um país.

"Tenho certeza que, com o passar do tempo, os estudos vão evoluir e teremos informações que poderão ajudar muita gente. Por exemplo, o brasileiro não é poupador por natureza. Conhecendo como ele pensa é possível que o Banco Central desenvolva políticas globais de incentivo à poupança. Mas, para chegar a esse ponto, precisamos aprofundar ainda mais os estudos, isso é fato".

E não é só no Brasil que os estudos estão no começo. "Em todo o mundo a Neuroeconomia ainda está engatinhando, mas é uma área em ebulição e tem muita gente boa estudando e querendo descobrir novas coisas. Essa semana mesmo tive contato com um estudo americano sobre a resistência à venda em investimentos, que mostra que o apego e a não-venda de uma ação está muito relacionada à uma área do cérebro chamada Ínsula, que é relacionada a emoção. A Ínsula sofre influência da frequência cardíaca, do nível de glicose, entre outras coisas, e pode influenciar a não-venda em um período de crise, por exemplo. Então, a cada dia me deparo com novos estudos que vêm comprovar o que já tinha sido descoberto antes. Mas é preciso cuidado porque, ao mesmo tempo que há muita gente boa, há muito picareta".

Estudos em andamento
O pesquisador conta que os estudos são feitos por meio de eletroencefalograma não invasivo e ressonância magnética. "Os dados apresentados no seminário foram obtidos por meio de ressonâncias porque são exames muito bons, que dão ótimos resultados. No entanto, esse exame não pode ser feito em qualquer lugar e precisamos levar a pessoa que está sendo estudada até um hospital e, tirá-la do ambiente natural onde as decisões são tomadas, pode gerar certa alteração nos resultados. Já o eletroencefalograma é ótimo porque é portátil e pode ser realizado em qualquer lugar, mas tem um inconveniente, ele não é muito preciso na localização espacial da atividade cerebral. Por isso, no "Estudo Neuroeconômico do Investidor Brasileiro" serão usados os dois aparelhos, para um panorama mais completo do cérebro".

Rocha conta que esse estudo, que está em andamento, tem duas linhas: "nós primeiros estudaremos a tomada de decisão em uma experiência de compras. Queremos ver como o cérebro se comporta em uma compra que gere prazer, ou seja, quando a pessoa adquire algo que ela quer muito, ou para presentear alguém próximo a ela, e também avaliaremos uma compra aversiva, que são compras que a pessoa não gostaria de fazer, mas precisa, como inseticida. E depois confrontaremos esses resultados com os obtidos na avaliação de tomada de decisão de investidores tradicionais, afinal, compra e investimento caminham juntos", finaliza.



 
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