Depois de ter tido um negócio próprio, o destino o levou a procurar uma
posição em outra empresa, seja porque o negócio não estava indo bem ou
simplesmente fracassou. Mas, como será que o mercado enxerga o ex-empreendedor?
De acordo com o consultor do Insadi (Instituto Avançado de Desenvolvimento
Intelectual), Dielter Kelber, o profissional não tem uma imagem ruim. "A única
preocupação que há é com relação à frustração, que os selecionadores não querem
trazer para dentro da empresa", diz. "Mas tem um lado bom, pois se trata de uma
pessoa disposta a lutar", acrescenta.
Já para o diretor da Fiesp, Ronaldo Koloszuk, o mercado como um todo tem uma
visão de uma pessoa amadurecida, já que o empreendedor no Brasil sofre muito. "A
pessoa passou por uma experiência e tem muita bagagem", afirma.
Na seleção
Segundo o consultor do Insadi, o que acontece é que, normalmente, a pessoa tenta
esconder os motivos de o negócio não ter dado certo. "Porque ninguém gosta de
colocar que fracassou, se é que vai colocar para o selecionador a experiência
negativa".
Ele diz que um caso comum é o da pessoa que é demitida, saca o FGTS e monta um
negócio. Em pouco tempo, sem planejamento, não dá certo e volta ao mercado.
"Agora, se um empreendedor sucumbe depois de 10 anos é mais provável que algo de
anormal tenha acontecido".
Já para o diretor da Fiesp, as chances de entrar na empresa diminuem dependendo
da forma como o ex-empreendedor coloca a situação pela qual passou. "Se for com
decepção, sofrimento, o selecionador vai perceber. Mas, se for como uma
experiência valiosa e que não permitirá errar de novo, aí é visto diferente",
diz.
Trabalhe a frustração
Um primeiro desafio para quem é ex-empreendedor é trabalhar a frustração.
"Aceite que não deu certo, mas faça isto antes de procurar por um emprego,
porque procurar uma vaga como fuga, por desespero, não é bom", diz Koloszuk.
A mesma orientação é dada por Kelber. "Coloque na cabeça que só aprende quem
erra. Procure, agora, fazer o melhor. Se tiver muita dificuldade, é bom procurar
um psicólogo para ajudar", afirma.
Outros desafios também serão passados, mas tem a situação de quem nunca tinha
sido funcionário e de quem já foi funcionário. "Quem já foi funcionário volta
mais decepcionado, porque queria se livrar das amarras da empresa e não
conseguiu. Já sabe como é o ritmo de trabalho e, então, não terá grandes
sustos", revela Kelber. "Quem nunca foi funcionário se incomodará um pouco com a
falta de liberdade".
Como voltar?
Depois de controlada a frustração, a primeira coisa a fazer para procurar um
emprego é um curso de reciclagem. "Para analisar novas regras e a tecnologia",
orienta Kelber.
O segundo ponto, por sua vez, é buscar empresas com sinergia com o
empreendedorismo. "Se tinha uma pequena gráfica, buscar uma de maior porte. Se
tinha lanchonete, um restaurante".
De acordo com o consultor do Insadi, dependendo da forma como o funcionário saiu
da empresa para montar o negócio, ainda é possível que ele seja contratado
novamente. "A menos que ele tenha saído para competir com a empresa".