Em tempos de crédito farto, em que o dinheiro praticamente bate à nossa porta, é
preciso ser forte para resistir à tentação de pagar juros por algo que não é
necessário só porque está disponível e fácil de usar.
O consultor de finanças pessoais Louis Frankemberg é incisivo quando diz que
a qualidade de vida e o pagamento de juros são grandezas inversamente
proporcionais. Ou seja, quem paga muitos juros tem pouca qualidade de vida..
Para o especialista, as pessoas ainda não se deram conta de quanto é verdadeira
essa afirmação. “Uma coisa é dizer que posso gastar uma parte do meu salário com
lazer e outra é dizer que vou gastar com pagamento de dívidas”, diz ele.
Para aumentar sua qualidade de vida, preparamos este roteiro com sete itens
que farão você refletir se está na hora se endividar.
Passo 1. Avalie a urgência da compra
O conselho do professor Fabio Gallo, que dá aulas de Finanças na PUC e na FGV em
São Paulo, é que antes de se deixar envolver por apelos do tipo “você merece” ou
“realize todos os seus sonhos”, responda com sinceridade à seguinte pergunta: eu
preciso fazer esta compra ou eu apenas quero?
Passo 2. Faça o planejamento financeiro
Ainda que precisar, não se endivide sem antes planejar o orçamento doméstico. É
fundamental saber quanto é possível gastar sem comprometer as despesas fixas
como conta de água, luz, telefone, escola, plano de saúde, etc., devendo ainda
deixar uma reserva para emergência.
Passo 3. Verifique qual a sua capacidade de endividamento e não ultrapasse
este limite
Não adianta gastar mais do que ganha, porque depois não vai conseguir pagar.
“Descubra qual é a sua capacidade de endividamento, que não é um número fixo
para todas as pessoas. Uma vez definida, não deve ser ultrapassada de forma
alguma”, diz o professor Gallo. Em financiamentos da casa própria, por exemplo,
os bancos não costumam aceitar um comprometimento da renda superior a 25%. Este
poderia ser um parâmetro para outros endividamentos.
Passo 4. Prefira sempre pagar à vista
Outro aspecto importante é avaliar se a necessidade da compra é imediata ou se
dá para esperar um pouco. Se der, tente seguir a regra de ouro para nunca ficar
endividado: primeiro poupe, depois compre. “O ideal seria nunca precisar de
crédito”, diz o professor Gallo. O conselho faz todo o sentido quando lembramos
que, junto com o crédito, vem também o pagamento dos juros. “E o Brasil continua
a ocupar a posição nada honrosa de segundo país com juros mais altos do mundo”,
lembra o professor.
Passo 5. Peça descontos
Segundo Louis Frankemberg, no Brasil as pessoas não têm o hábito de pagar à
vista, nem de fazer o planejamento financeiro. Por isso, gastam em média 20% do
que ganham com juros. O ideal seria pagar à vista e pedir desconto. “Se a loja
te oferece 5% de desconto à vista, as pessoas desprezam, mas é um ótimo negócio.
Que aplicação financeira rende 5% na hora?”
Além disso, não se deve ter vergonha de pechinchar. Pesquise os preços e peça
descontos. Prefira comprar com quem oferece um abatimento no preço. Se o lojista
divide o preço à vista em seis vezes no cartão, é claro que há juros embutidos
no preço. Exigir o desconto mostra inteligência.
Passo 6. Cuidado com cheques pré-datados
Outro erro é sair por aí passando cheques pré-datados sem controle. Para quem
tem um salário que não é elástico, deve pesar cada real antes de gastar. “No
primeiro mês você está devendo para um ou dois. No segundo mês, já deve para
três ou quatro. No quarto ou quinto mês, logicamente você já perdeu a conta de
quanto está devendo”, resume Frankemberg.
Passo 7. Fuja do crédito rotativo do cartão de crédito
O cartão de crédito é um risco à parte. Nunca se deve consumir demais e começar
a pagar só o mínimo, porque os juros fazem a dívida se multiplicar em pouco
tempo. Quando isso acontece, dificilmente a pessoa consegue pagar a dívida sem
ter que se desfazer de algum bem ou solicitar outro empréstimo. “É uma das
piores formas de financiamento”, diz Gallo.
Quem põe em prática o planejamento financeiro, pode até realizar os desejos
do “eu quero”, sem comprometer o orçamento. Como lembra o professor Gallo,
administrar o dinheiro que se tem, seja muito ou pouco, não é uma técnica de
pão-durismo, mas uma forma de fazer com que o dinheiro trabalhe sempre a seu
favor.