Um dos paradoxos de nossos dias está na exigência de profissionais competitivos,
de um lado, e de cidadãos que saibam trabalhar de forma ética e viver em
comunidade, de outro. Ou seja: querem que saibamos partilhar, mas somos
estimulados, ensinados e cobrados a vencer e superar o próximo.Exatamente
porque essa cultura ainda predomina é que precisamos trabalhar, de forma cada
vez mais sistemática, continuada e eficiente, para promover princípios éticos. O
ambiente escolar e universitário deve propiciar situações concretas por meio das
quais os estudantes vivenciem experiências de cooperação, resolução de conflitos
e convívio com as diferenças. Não basta apregoar esses valores, é preciso que
eles sejam exercitados na prática.
Precisamos perceber a relação direta de causa-efeito entre o discurso da
competição extrema, do sempre levar vantagem, do vencer a qualquer custo, do
cuidar somente de si e do que é seu, e o panorama geral da sociedade, marcado
por violências, destruição ambiental, solidão e vazio existencial.
Muitas pessoas fazem de conta que uma coisa não tem nada a ver com a outra. É
como se pensassem: eu posso ser egoísta, mas a sociedade deve ser solidária!
Como é possível haver uma sociedade humanizada, justa e acolhedora formada por
pessoas individualistas e egocêntricas?
A cultura ocidental contemporânea se caracteriza pelo individualismo e pelo
imediatismo. E como todos nós estamos imersos nessa cultura, tendemos a
acreditar que trabalhar em grupo seja uma tarefa quase impossível, algo que
exija um esforço sobre-humano. Reconheço que não é fácil trabalhar em grupo; no
entanto, "Sozinho se vai mais rápido, mas juntos se vai mais longe".
É trabalhando em grupo que a pessoa pode aprender mais, enriquecendo sua
visão ao entrar em contato com percepções diferentes. É impossível a alguém
enxergar a multiplicidade de ângulos de uma questão – principalmente se esta for
complexa. Ora, a maior parte dos problemas que uma empresa (ou a sociedade)
enfrenta são de grande complexidade, e requerem abordagens que incluam a
diversidade, a multiplicidade e a multidimensionalidade. Isso só pode ser
alcançado em grupo.
A dificuldade de se trabalhar em grupo reside no fato de que esse processo
depende de um conjunto de qualidades, atitudes e competências que muitos não
desenvolveram ao longo de um processo de escolarização tecnicista – empatia,
escuta ativa, respeito às opiniões contrárias, tolerância para com o jeito de
ser de cada um, humildade em reconhecer que não é o dono da verdade, cortesia
etc. É por intermédio do diálogo e da participação que um grupo se constrói.
Obviamente, ninguém nasce sabendo trabalhar em grupo. É preciso aprender, e
esse aprendizado se dá na prática e ao longo da vida. Observemos os estágios do
desenvolvimento infantil: o bebê não admite partilhar seus brinquedos; a criança
aceita emprestar o seu brinquedo a outra, desde que haja uma permuta; a criança
maior já é capaz de participar em esportes coletivos; e o adolescente busca
ativamente engajar-se em algum grupo e sente prazer na partilha. O
amadurecimento se dá em direção a relações de cooperação e interdependência.
Mas a cultura pode tolher esse aprendizado. Não podemos tolerar o excessivo
individualismo, egoísmo que nada constrói. Temos que reaprender a trabalhar – e
a nos desenvolver – em equipe.