Se você tem entre 15 e 18 anos e está confuso; e se seus pais pensam que você
não sabe bem o que quer da vida, não se preocupe: você é normal. Nessa idade,
todo jovem tem algumas certezas sobre a vida e muitas dúvidas sobre a carreira.
O estudante Alexandre Cruz, 17 anos, é um exemplo desse tipo de indecisão: está
dividido entre quatro sonhos. "Jornalismo, Sociologia, Ciências Sociais e
Música. Tenho que decidir entre um deles", diz.
No interior de São Paulo, o Salão das Decisões reúne mais de 200 cursos no
cardápio de oferta das universidades. O salão é o maior evento voltado para o
público estudantil do interior paulista. Ele procura levar até os estudantes as
informações sobre os novos cursos, as novas universidades, novas tecnologias na
área de ensino, diz o organizador do evento, Luiz Antônio Guimarães.
1ª dúvida: qual curso fazer?
"Minha mãe não quer que eu faça filosofia de jeito nenhum. Ela gostaria que eu
fizesse algo que tem mais mercado", explica Alexandre. Vilma Bispo, mãe do
estudante, confirma. "Eu tinha esperança que ele fizesse engenharia na verdade,
né?", diz.
Segundo Max Gehringer, a pergunta que deve ser feita por Alexandre para resolver
o problema é: dos quatro cursos que você tem na cabeça, qual realmente você
gosta mais?
"Eu realmente gosto de jornalismo", diz Alexandre. "Gosto muito de expressar o
que eu penso. Eu me vejo como um Arnaldo Jabor da vida, entrando no Jornal da
Globo e falando sobre as notícias da semana".
Max Gehringer alerta: algumas profissões estão saturadas, como jornalismo e
direito. Para quem não sabe o que fazer, administração de empresas é uma boa
opção. "Por ser o curso mais genérico que existe, é o que oferece o maior leque
de oportunidades na hora de procurar um emprego.
2ª dúvida: o nome da faculdade tem importância?
"O nome da faculdade é como uma grife. Portanto, e eu sinto dizer isso, os
piores alunos das escolas famosas terão mais chances do que os melhores alunos
das escolas pouco conhecidas, diz Gehringer.
Felipe Silva tem 20 anos, está à procura do primeiro emprego e já sabe no que
quer se especializar. "Meu sonho é ser um chefe de cozinha. Fiz um curso
profissionalizante de bolos e tortas. As pessoas começaram a gostar, aí eu
comecei a fazer", diz.
Segundo a coordenadora do curso de tecnologia em gastronomia do Senac, a
gastronomia é uma área que está sendo muito valorizada no mercado de trabalho.
"O mercado está competitivo, está exigindo uma pessoa bem formada, que tenha um
conhecimento cultural relativamente amplo", diz. Uma língua estrangeira também é
importante.
Na hora de procurar uma vaga, jovens como Felipe esbarram na barreira falta de
experiência. Para superar o obstáculo, Gehringer dá a dica: buscar oportunidades
em hotéis pode ser uma boa opção. "Hotel é o tipo de lugar que tem muita coisa
para fazer: você pode trabalhar na arrumação, recepção, qualquer coisa que o
hotel ofereça. Porém, estando dentro do hotel, a tua chance de passar para a
cozinha é muito maior do que se você estiver fora do hotel", explica.
3ª dúvida: vale a pena mudar de curso?
Até o segundo ano, ainda dá para mudar. A partir do terceiro é melhor se
sacrificar e concluir o curso. Quando se está no começo da carreira, dois anos
podem fazer muita diferença, garante Gehringer.
4ª dúvida: se eu não tenho experiência, qual o melhor caminho?
Aproveite o curso para conhecer muito bem os seus professores. "A maioria, ou
praticamente em todas as vagas que se abrem para jornalistas desse país, a
pessoa é contratada porque outro jornalista fez uma indicação", diz Gehringer.
"A chance de você conseguir um estágio já no segundo ou terceito ano vai ser
muito dependente de um professor seu". Segundo Gehringer, muitos jovens que se
formam demoram a conseguir um emprego porque não aproveitaram as chances de
conhecer pessoas influentes.
5ª dúvida: e se eu fizer tudo isso e não conseguir um emprego?
Segundo o superintendente da ONG Via de Acesso, Ruy Leal, essa possibilidade
existe. "50% desse contingente de 1,6 milhão de jovens que saem todo ano com
título de formados não vão encontrar essa oportunidade de trabalho".
Para Gehringer, é importante considerar a hipótese de não ser um empregado. O
estudante Felipe Silva sonha em montar a própria confeitaria. "É meu sonho, meu
maior sonho", afirma.
No Brasil, desde o final do século XX, o número de boas vagas em empresas vem
sendo menor do que o número anual de formandos. Pais que foram empregados a vida
inteira sempre orientam os filhos a procurar emprego.
"Olhando para as estatísticas, seria mais viável que os pais orientassem os
filhos a trabalhar por conta própria", diz Gehringer. Segundo ele, o jovem tem a
seu favor a coisa mais valiosa do mundo, e a única que não dá para recuperar
depois: o tempo.