De maneira geral, um indivíduo pode ser definido como tendo retardo mental
baseado nos seguintes três critérios:
• nível de funcionamento intelectual (QI) abaixo de 70 - 75,
• presença de limitações significativas em duas ou mais áreas de habilidades
adaptativas,
• a condição está presente antes dos 18 anos de idade.
Definição de retardo mental
Retardo mental diz respeito a limitações significativas no funcionando.
É caracterizado por:
• retardo mental que se manifesta antes dos 18 anos de idade,
• funcionamento intelectual significativamente abaixo da média, concomitante a
• limitações em duas ou mais das seguintes áreas de habilidades adaptativas:
• Comunicação e Cuidado pessoal
• Vida em casa e Habilidades sociais
• Funcionamento na comunidade e Autodeterminação
• Saúde e segurança e Habilidades acadêmicas funcionais
• Lazer e trabalho
Pressupostos essenciais à aplicação da definição
Os seguintes pressupostos devem ser considerados ao aplicar a definição:
• Uma avaliação válida considera as diversidades culturais e lingüísticas como
também as diferenças na comunicação e fatores de comportamento.
• A existência de limitações em habilidades adaptativas acontece dentro do
contexto do ambiente de comunidade típico da idade do indivíduo e em relação a
pessoas de sua idade, sendo indexado às necessidades individualizadas de auxílio
da pessoa.
• Limitações adaptativas específicas freqüentemente coexistem com capacidades em
outras habilidades adaptativas ou outras capacidades pessoais.
• Com suporte apropriado por um período contínuo, geralmente ocorrerá melhora na
vida funcional da pessoa com retardo mental.
Incidência
Alguns estudos têm estimado que o retardo mental afeta 2,5 a 3% da população.
Alguns autores, como Batshaw(1997), calculam que o retardo mental é 10 vezes
mais freqüente do que a paralisia cerebral, 28 vezes mais prevalente do que os
defeitos do tubo neural, tais como a espinha bífida, e 25 vezes mais comum do
que a cegueira.
O retardo mental não parece ter preferência por raça; contudo,
aproximadamente 60% dos afetados são homens.
Quadro clínico
Os efeitos do retardo mental variam consideravelmente de pessoa para pessoa,
assim como as habilidades individuais variam entre as pessoas que não tem
retardo mental.
Das pessoas com retardo mental, aproximadamente 87% serão afetadas de maneira
bastante leve, e serão somente um pouco mais lentas na aquisição de novas
habilidades e informações. Quando crianças, seu retardo mental não é facilmente
identificável, podendo não ser evidente até que elas entrem para a escola.
Muitas delas, quando adultas, conseguirão levar uma vida independente na
comunidade e não serão mais vistas como tendo retardo mental.
Os restantes 13% da população afetada, aqueles com QI abaixo de 50, terão
sérias limitações de funcionamento. Contudo, com intervenções precoces, educação
funcional e com suporte adequado, quando adultos, todos poderão levar vidas
satisfatórias na sua comunidade.
Diagnóstico
O sistema da AAMR (Associação Americana de Retardo Mental), para o
diagnóstico e classificação de uma pessoa como portadora de retardo mental,
segue três passos e descreve o sistema de apoio que a pessoa necessita para
superar seus limites nas habilidades adaptativas.
O primeiro passo para o diagnóstico é a aplicação por pessoa capacitada de um
ou mais testes padronizados de inteligência e testes padronizados de habilidades
adaptativas, individualmente.
O segundo passo é descrever os pontos fortes e fracos da pessoa em quatro
dimensões, que são:
• Habilidades intelectuais e comportamentais adaptativas
• Considerações emocionais/psicológicas
• Considerações físicas/ de saúde/ etiológicas
• Considerações ambientais
Os pontos fortes e fracos podem ser determinados por testagem formal,
observação, entrevistas com pessoas importantes na vida do paciente, entrevistas
com a pessoa sendo avaliada, interagindo com a pessoa e sua família na vida
cotidiana, ou por uma combinação desses métodos.
O terceiro passo exige uma equipe multidisciplinar para determinar o apoio
necessário nas quatro dimensões mencionadas. Cada apoio identificado é
classificado em um de quatro níveis de intensidade - intermitente, limitado,
extensivo, intensivo.
• Apoio intermitente: refere-se a um suporte oferecido quando necessário. Um
exemplo seria o apoio necessário para que a pessoa procure um novo emprego na
eventualidade de ficar desempregada. O apoio intermitente pode ser necessário
ocasionalmente por um indivíduo durante sua vida, mas nunca de maneira contínua.
• Apoio limitado: é aquele necessário durante um período determinado de
tempo. Um exemplo seria na transição da escola para o trabalho ou durante o
treinamento para uma função específica.
• Apoio extensivo: é aquela assistência que a pessoa necessita diariamente e sem
limite de tempo. Pode incluir apoio em casa e/ou no trabalho.
• Os apoios intermitente, limitado e extensivo podem não ser necessários em
todas as áreas para um indivíduo.
• Apoio intensivo: refere-se ao apoio constante, em todas as áreas, com base
diária, podendo incluir medidas para o suporte de vida.
Causas do retardo mental
O retardo mental pode ser causado por qualquer condição que prejudique o
desenvolvimento cerebral antes do nascimento, durante o nascimento ou nos anos
de infância. Várias centenas de causas têm sido descobertas, mas a causa
permanece indefinida em aproximadamente um terço dos casos.
As três principais causas identificadas de retardo mental são:
• a Síndrome de Down,
• a Síndrome alcoólico-fetal e
• a Síndrome do X frágil.
As causas podem ser divididas em categorias.
Condições genéticas
Resultam de anormalidades nos genes herdadas dos pais, devidas a erros de
combinação genética ou de outros distúrbios dos genes ocorridos durante a
gestação. Centenas de distúrbios genéticos associam-se ao retardo mental. Alguns
exemplos são a fenilcetonúria, a Síndrome de Down e a Síndrome do X frágil.
Problemas durante a gestação
O uso de álcool ou outras drogas durante a gestação pode levar ao retardo
mental. Alguns trabalhos têm relacionado o fumo na gestação com um risco maior
de retardo mental na criança. Outros problemas incluem a desnutrição,
toxoplasmose, infecção por citomegalovírus, rubéola e sífilis. Gestantes
infectadas pelo vírus HIV (AIDS) podem passar o vírus para a criança levando a
dano neurológico futuro.
Problemas ao nascimento
Qualquer condição de estresse aumentado durante o parto pode levar a lesão
cerebral do bebê; contudo, a prematuridade e o baixo peso ao nascer são fatores
de risco independentes mais freqüentes que qualquer outra condição.
Problemas após o nascimento
Doenças da infância como catapora, sarampo, coqueluche e a infecção pelo
Haemophilus tipo B, que podem levar a meningite e encefalite, também podem
causar danos ao cérebro. Acidentes, intoxicações por chumbo, mercúrio e outros
agentes tóxicos também podem causar danos irreparáveis ao cérebro e sistema
nervoso.
Estado socioeconômico
A desnutrição também pode levar ao retardo mental.
Alguns estudos também sugerem que a pouca estimulação, que ocorre em áreas
muito desprovidas das experiências culturais e ambientais normalmente oferecidas
às crianças, pode surgir como causa de retardo mental.
Prevenção
Nos últimos 30 anos, vários avanços científicos têm ajudado a prevenir muitos
casos de retardo mental. Estima-se que nos Estados Unidos são prevenidos a cada
ano:
• 250 casos de retardo mental por fenilcetonúria, graças ao teste do pezinho e
ao conseqüente tratamento dietético adequado.
• 1.000 casos de retardo mental por hipotireoidismo, graças ao teste do pezinho
e ao conseqüente tratamento hormonal adequado.
• 1.000 casos de retardo mental pelo uso de imunoglobulina anti-Rh, que previne
a doença por incompatibilidade Rh entre mãe e feto, reduzindo a icterícia severa
no recém-nascido.
• 5.000 casos de retardo mental causados por infecção pelo Haemophilus
influenzae tipo B, graças ao uso rotineiro de vacina contra Haemophilus nas
crianças.
• 4.000 casos de retardo mental devidos à encefalite pelo sarampo, graças à
vacinação das crianças.
• Um número desconhecido de casos de retardo mental devidos à rubéola congênita,
graças à vacinação das crianças.
Outras medidas têm contribuído para a redução do número de casos de
retardo mental.
A eliminação do chumbo do meio ambiente, medidas preventivas do trauma como o
uso adequado de assentos nos carros e de capacetes para bicicleta, programas de
intervenção precoce para crianças de risco, programas de atenção pré-natal
reduzindo os riscos da transmissão do vírus da AIDS ou de defeitos do tubo
neural.
Todas estas medidas são exemplos de ações que ajudam a diminuir o número de
pessoas com retardo mental na comunidade.