Introdução
A sedução oferecida pela falsificação é óbvia: imprimir o seu próprio
dinheiro e comprar o que quiser com ele. A falsificação é a técnica ideal
para aqueles que desejam conseguir algo sem esforço.
Num passado não muito distante, a falsificação era um empreendimento difícil
e muito caro. Ela exigia máquinas de impressão gráfica muito grandes e
habilidade manual para entalhar desenhos muito elaborados em chapas de metal. A
criação de notas falsificadas hoje é muito mais fácil. Com um computador e um
scanner, uma etapa importante da podução fica mais fácil. Obviamente, há muita
macetes para identificar uma nota falsa.
No Brasil, a falsificação cresceu depois do plano Real, quando a moeda
brasileira voltou a ficar estável. Hoje, são apreendidadas por anos cerca de 500
mil notas falsas no País. A maioria (70%), de R$ 50.
Neste artigo conheça, algumas das técnicas usadas e a punição para quem for
pego fazendo uso dessas técnicas. Também aprenda como detectar o dinheiro
ilegal.
Examinando notas
Vamos dizer que você deseja começar uma vida de crimes, criando seu
próprio dinheiro falsificado. O modo mais fácil é usar seu próprio
computador. Se você tem uma impressora e um scanner fica ainda mais fácil.
A primeira coisa a fazer é colocar uma nota no scanner, no nosso exemplo de
US$ 20. Aí você deve ajustar o scanner para a resolução máxima - talvez 1200
x 2400 dpi - e escanear a imagem da nota. Isto gerará um arquivo de 5 a 10
MB em seu disco rígido, que se parece com algo como a figura abaixo.
Imagem cedida pelo U.S Bureau of Engraving and Printing
A nota de US$ 20 mostrada acima é uma das mais recentes provas da alta
tecnologia em impressão gráfica do Tesouro dos EUA. Ela começou a circular
em 2003. Se você ampliar diferentes áreas da nota e observar com atenção,
poderá perceber diversas características projetadas para impedir possíveis
falsificações. Por exemplo:
- a nota inteira foi impressa em um padrão hexagonal com cores
suaves e com linhas extremamente finas. Essas linhas são invisíveis a
olho nu, mas produzem nuances diferentes em partes diferentes da nota.
De perto, as linhas se assemelham a isso:
As linhas de cores suaves cobrindo a
frente e o verso das novas notas de US$ 20
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- partes diferentes da nota contêm pequenas linhas e detalhes.
Os pequenos detalhes em uma nota de US$
20
|
- outras partes da nota contêm tipos diferentes de micro-impressão:
Exemplos de micro-impressão:
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- dois pontos na face da nota contêm tinta brilhante que muda o tom
conforme a posição:
Tintas coloridas que mudam a intensidade
do tom de acordo com a posição
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Como você pode ver, o scanner captura tudo isso com detalhes - escanear
uma nota de US$ 20 não é o problema. Descubra, na próxima seção, porque o
problema é, de fato, a impressão.
Imprimindo dinheiro
O scanner é capaz de capturar todos os detalhes, porém, isto não significa que a
impressora esteja pronta para copiá-la. Ao tentar imprimir uma nota digitalizada
em uma impressora jato de tinta normal, ficará muito evidente a olho nu, o que
há de errado. As cores não combinam e as imagens parecem borradas.
É possível perceber melhor estes problemas quando você olha a nota com a
ajuda de um microscópio. Os detalhes mais refinados, por exemplo, são
completamente perdidos:
Há uma incrível perda de detalhes ao se utilizar
uma impressora de baixa qualidade
|
E os hexágonos suavemente coloridos transformam-se em matiz luminosa, porque
a impressora não pode reproduzir as linhas muito finas ou claras:
Uma impressora de baixa qualidade tem problemas
ao imprimir detalhes coloridos muito pequenos e suaves
|
Compare estas duas imagens às suas imagens correspondentes feitas na seção
anterior.
É óbvio que elas não são nenhum pouco próximas. É possível ver aquilo que
está acontecendo de fato - a impressora não pode reproduzir as linhas finas de
modo exato. No caso dos hexágonos, as pequenas manchas que a impressora produz
fazem com que a cor suave da nota original transforme-se em um matiz mais
luminoso. Esse efeito é a razão pela qual a impressão dos hexágonos de cor suave
na nota, tornam o processo de falsificação de notas mais difícil com a
tecnologia atual.
De certo modo, tais problemas com a impressora podem ser resolvidos com uma
impressora melhor. Mesmo as melhores impressoras perdem alguns detalhes. Caso
alguém queira examinar através de uma lupa a nota falsificada gerada por uma
impressora a jato de tinta, ficará óbvio que se trata de uma nota falsa. Mas, a
olho nu, uma impressora de excelente resolução poderá fornecer uma nota falsa
que se assemelhe muito à nota verdadeira.
Para criar uma nota real você deve fazer um teste de impressão a partir de
várias versões escaneadas, ajustando as cores e as tonalidades. Você também tem
de escanear a outra face da nota e alinhar as duas faces da nota para ter uma
cédula realística de duas faces.
Se você for cuidadoso e tiver uma boa impressora, acabará fazendo uma nota não
tão perfeita, mas que pode passar como boa, a olho nu. Ela parecerá ter cores
não tão perfeitas ou mesmo um pouco borrada em alguns lugares, mas se a pessoa
não se ativer aos detalhes, irá aceitar a nota como boa.
A maneira mais simples de não despertar a atenção para as imperfeições visuais
de sua nota falsificada é gasta-la em situações nas quais seja difícil
visualizar seus detalhes. Por exemplo, você pode tentar passar a sua nota
falsificada a um garçom em um bar escuro ou em um clube noturno.
Assim que a pessoa tocar o dinheiro falsificado, ficará óbvio que há algo
errado. O problema é o papel.
O papel faz a diferença
Na maior parte das vezes, as pessoas que lidam diariamente com dinheiro, como
bancários,
caixas e balconistas, podem notar imediatamente uma nota falsificada,
primeiramente se o papel for inadequado.
A percepção do dinheiro possui três diferentes aspectos que garantem um
caráter único ao papel das notas:
- em geral os papéis usados na vida cotidiana (jornais, cadernos, livros,
etc.) são feitos de celulose encontrada nas árvores. No entanto, o papel
usado para dinheiro é feito de algodão e fibras de linho. Esse tipo de papel
é conhecido como rag paper ou papel moeda. Uma grande
vantagem do uso de papel feito de trapos de linho e algodão é a sua
dificuldade de desintegração, caso acidentalmente o dinheiro seja colocado
em máquinas
de lavar.
- o papel utilizado em moeda é menos espesso se comparado ao papel normal.
- o papel utilizado nas notas sofre uma pressão de milhares de quilos
durante o processo de impressão. O que o faz ainda mais fino e produz notas
novíssimas e de uma firmeza especial.
Um outro aspecto sobre o papel de trapos de linho e algodão utilizado em notas
verdadeiras é a existência de nervuras feitas de fibras azuis e vermelhas
misturadas ao papel durante a sua produção. Estas fibras são fáceis de serem
encontradas em notas verdadeiras, porém são tão finas que não são bem
reproduzidas, se forem falsificadas em impressoras a jato de tinta.
A última coisa que um falsificador deseja é imprimir dinheiro em papel normal
de impressora. Quanto é impresso dessa forma, a falsa nota é facilmente
detectada por uma caneta anti-falsificação. Estas canetas
especiais, geralmente semelhantes a uma caneta marcadora de texto, contêm iodo
que muda de cor em contato com a celulose. Aparece então, a necessidade de
encontrar o papel perfeito para a impressão, que pode ser encontrado na maioria
das lojas de material de escritório.
Todavia, ainda assim o papel poderá não ser o adequado. É por isso, que
alguns criminosos andam alguns quilômetros a mais para conseguir o papel
perfeito.
Papel legítimo
A nota falsa definitiva usaria o mesmo papel empregado pelo governo. Esse papel,
no entanto é quase impossível de ser comprado.
Ainda assim, se for feita uma busca pela Internet através da ferramenta
como o Google, por exemplo, será possível encontrar centenas de artigos
semelhantes ao do jornal "Philadelphia Inquirer". Esse artigo descreve um
grande falsificador Ricky Scott Nelson, que produziu e
distribuiu centenas de milhares de dólares em dinheiro falso. Ele encontrou
uma grande fonte de papel genuíno. De acordo com o artigo:
"Nelson usou notas de US$ 1 e US$ 5 verdadeiras e fita adesiva, mascarando
algumas das imagens genuínas, tais como as do Tesouro e as dos Selos do
Federal Reserve (Banco Central dos EUA), números de série e a inscrição
"Esta nota é moeda corrente". As notas mascaradas foram então, colocadas em
alvejante químico para remoção das imagens e os números de denominação...
Nelson então, criou uma matriz que permitiu que as imagens e os detalhes das
notas de US$ 50 e de US$ 100 fossem fotocopiados nas áreas alvejadas da
moeda oficial".
A imagem fotocopiada, aparentemente era boa suficiente para passar pela inspeção
a olho nu. O uso de papel legítimo aparentemente solucionou o problema
da percepção do dinheiro. As notas alvejadas continham, também, números de série
reais e únicos.
Porém, isso ainda deixa uma questão - o que ele fez com relação à tinta
colorida que muda a intensidade de tom de acordo com a posição? Certamente,
ele não passou adiante todos os US$ 800 mil em boates. Ele teria que ter
encontrado uma fonte para a tinta especial, além de uma forma de imprimi-la.
Aspectos de segurança
As mais
recentes notas de US$ 20 (em inglês) impressas pelo Tesouro contêm três
aspectos de segurança que são impossíveis de serem forjados através de uma
impressora a jato de tinta:
- incrustado no papel, uma tira plástica de segurança
está inserida verticalmente em um dos lados da nota. Caso o presidente
Andrew Jackson esteja na face, então, a tira plástica de segurança estará
localizada no lado esquerdo. Mediante uma inspeção pormenorizada desta tira
plástica, poderão ser vistas as palavras "USA TWENTY" e uma pequena bandeira
repetida ao longo da linha. Isso pode ser visível dos dois lados da nota.
- no canto inferior direito da face da nota, o número "20" está impresso
em tinta colorida que muda a intensidade do tom de acordo com a
posição. Um pequeno movimento da nota para frente e para trás
modifica o número "20" do cobre para o verde.
- uma pequena e esmaecida foto de perfil do Presidente Jackson (conforme
vista na face da nota) está sobreposta ao próprio papel. Se a nota for
colocada contra a luz essa marca d'água ficará
imediatamente evidente em ambos os lados da nota.
Imagem cedida pelo U.S Bureau of Engraving and Printing
|
Como foi que Nelson conseguiu lidar com essas questões? Isso é relatado da
seguinte maneira no artigo:
"Ele utilizou notas antigas de US$ 100 e US$ 50, sem os marcadores
invisíveis implantados nas moedas posteriores a 1996 e isto fez com que
muitas pessoas e comerciantes fossem enganadas pelo dinheiro falso".
Em outras palavras, Nelson pegou as notas anteriores a 1996 e as utilizou como
modelo para as suas reproduções. A maioria das pessoas ainda aceita as notas
antigas, e como essas notas antigas não possuem alguns dos aspectos mais
complexos das notas novas, elas são mais fáceis de se reproduzir.
Juntando todos estes truques, Nelson foi capaz de fabricar dinheiro ilegal e
enganou muitas pessoas naquela época. US$ 800 mil é muito dinheiro.
Então, como ele foi apanhado?
Detectando notas falsificadas
Embora Nelson tenha feito boas reproduções, elas não eram perfeitas. Por
exemplo, a tinta impressa no dinheiro verdadeiro não é completamente absorvida
pelo papel. Isto é especialmente verdade com a tinta preta e com a tinta que
muda de cor com a posição. A tinta, portanto, deixa uma textura no papel que é
fácil de ser percebida, especialmente no caso de notas recentes. As notas
impressas em impressora a jato de tinta não terão essa textura e tampouco as
notas impressas por Nelson tinham. Um modo simples de consertar esse defeito é
amassar a nota para que ela pareça usada.
Todavia, uma questão importante é que as tintas utilizadas pelo governo são
de natureza magnética. Máquinas de venda, por exemplo, são sensíveis a estas
tintas magnéticas e as utilizam para detectar notas falsas. As notas são
regularmente examinadas pelo Tesouro para detectar falsificações. De acordo com
um artigo (em inglês) da Wired Magazine , intitulado "Junior Mints"
(pequenos falsificadores):
"Dos 24,5 bilhões de notas examinadas e classificadas no ano passado, metade
foram notas de US$ 1. Elas permaneceram durante os últimos 18 meses em
circulação e poderão ser examinadas quatro ou cinco vezes ao ano. Uma nota
de US$ 100 poderá ser examinada a cada quatro anos ou mais; as pessoas as
mantêm por mais tempo na média.
0s detalhes exatos sobre os exames minuciosos feitos nas notas são
mantidos em absoluto segredo. As máquinas de venda, por exemplo, podem
comparar o tamanho das margens laterais na frente e no verso (por meio de um
mecanismo de verificação de registro de impressão) ou examinar a face ou
sentir os pontos marcados com tinta magnética que a agência utiliza somente
em algumas partes da nota. 'Estas máquinas são melhores do que se pensa',
afirma Rosanna Pianalto, uma analista política, do escritório central do FED,
em Washington, distrito de Columbia. Cada máquina possui 30 tipos de
sensores e sem dúvida, examinam todas as características de segurança".
As notas falsas são detectadas quando são rejeitadas pelas máquinas de venda, ou
quando chegam até os bancos, onde bancários podem tocá-las e sentir a
diferença ou quando elas chegam até as mãos de balconistas de lojas de
conveniência mais atentos que as rejeitam ou ainda, quando retornam às máquinas
de scanner da agência responsável pela sua impressão. Uma vez detectadas, as
autoridades são alertadas sobre o problema da falsificação. Alto grau de
vigilância, junto com os noticiários e anúncios de serviço público, facilitam a
detecção. E finalmente, o falsificador será preso.
Entre adolescentes que, ocasionalmente, falsificam notas, a captura é
freqüentemente instantânea. Eles geralmente cometem erros muito óbvios ao criar
notas falsas:
- as cores estão incorretas
- o papel é incorreto
- a impressão ocorre apenas em um único lado
- eles passam o dinheiro para conhecidos que então, relatam o crime
Portanto, a punição será rápida e certeira.Crime e
punição
A falsificação não é uma infração leve. Não é como passar um farol vermelho ou
como um furto em uma loja. Estes crimes são contravenções
investigadas pela polícia local e pela corte judicial. A falsificação é um
crime federal tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.
No caso dos Estados Unidos, uma curiosidade é que o serviço secreto foi
originalmente criado para combater com os falsificadores. Só depois é que
passou a ser considerado um serviço de proteção adicional ao presidente e a
outros membros oficiais do governo.
O motivo pelo qual a falsificação é tratada como infração grave é porque o
dinheiro é muito importante para a sociedade. Dinheiro representa o oxigênio da
economia. Se as
pessoas não puderem confiar na legitimidade do dinheiro que portam, então ficará
mais difícil a aquisição de objetos e a economia sofrerá um desaquecimento.
Ao ser flagrado cometendo falsificação a punição poderá ser extremamente
pesada. De acordo com
este artigo (em inglês) da Wired Magazine, intitulado "Junior Mints":
"Segundo o estatuto federal 18, seção 471 do código civil norte-americano,
caso tenha sido considerado culpado por fazer cópias de notas de dólar "à
maneira e semelhança da moeda corrente dos EUA, a não ser que seja muito
maior ou muito menor do que a moeda corrente dos EUA" (um mínimo de 50%
maior ou 25% menor) ou a menos que sejam 'impressas em branco e preto', você
será condenado a 15 anos de detenção".
Se 15 anos de prisão não forem suficiente para dissuadir o infrator, há também,
punições adicionais. As autoridades também seqüestrarão quaisquer propriedades
usadas para a produção ou distribuição das notas. Isto significa que o seu
computador, impressora e scanner serão confiscados. Será necessário pagar
também, pela restituição e provavelmente um certo número de multas.
Em outras palavras, está tudo bem definido. O resultado da falsificação será
a prisão. Há centenas de pessoas se esquivando de notas falsas, porque elas
querem ser acusadas de fraude. As penalidades para esse crime serão severas e é
bem possível que a pessoa passe um bom tempo na cadeia.
No caso do Brasil, a pensa prevista para falsificação é de até 12 anos, de
acordo com o artigo 289, do Código Penal. E assim como nos Estados Unidos, todo
o material para produção das notas falsas será confiscado. Quem repassa notas
falsas também pode ser preso, com pena prevista entre seis meses e um ano de
reclusão.Protegendo a si próprio
Como um cidadão normal é preciso estar atento para o problema da falsificação.
Conforme foi apresentado, é fácil para adolescentes imprimirem notas
falsificadas e existem muitos falsificadores sofisticados que, na verdade,
embranquecem as notas verdadeiras e imprimem notas falsas em papel alvejado.
Aqui estão algumas das medidas que deverão ser tomadas para se proteger:
- seja cauteloso; detenha-se um pouco mais no exame das notas que está
recebendo.
- verifique aquilo que for óbvio como números de série duplicados.
- seja especialmente cauteloso em relação às notas antigas e notas com
grandes valores. No Brasil, 70% das falsificações são com notas de R$ 50 e
20%, com de R$ 10.
- simplesmente recuse-se a aceitar notas velhas, principalmente, no caso
de estrangeiras como o dólar, cujas notas anteriores a 1996 foram retiradas
de circulação e destruídas.
- olhe as notas contra a luz. A tinta colorida que muda a intensidade do
tom de acordo com a posição é muito difícil de forjar. A fita de segurança e
a marca d'água serão impossíveis de se duplicar através de uma impressora a
jato de tinta.
- caso acredite que esteja recebendo uma nota falsificada, chame a
polícia.
Muito trabalho foi feito na criação de notas, visando dificultar a falsificação.
Se você verificar os aspectos de segurança será muito mais fácil perceber se uma
nota é falsa ou não.