Pergunta simples e objetiva: você compraria um título que oferecesse um
retorno de 5% ao ano, caso um outro papel de igual prazo e mesmo risco rendesse
6% ao ano? A resposta é, obviamente, não.
O mesmo raciocínio, porém, seria seguido por todo o mercado. A demanda pelo
título cuja rentabilidade é de 6% aumentaria, enquanto a procura pelo outro
papel não existiria, forçando o ofertante deste último a oferecer uma
rentabilidade mais atrativa.
Desta forma, o rendimento do título de 6% ao ano ficaria menor, e o do papel de
5% subiria. O fenômeno transcorreria até que as duas rentabilidades se
equiparassem.
Óbvio, mas importante
Embora óbvia, a lógica dá origem a um dos mais importantes conceitos da teoria
de finanças e corresponde à impossibilidade de arbitragem. Nas palavras
de Milton Friedman, um dos mais renomados economistas do século XX, isso
significa dizer que não há como se obter um "almoço grátis" nas estratégias de
investimento .
De um modo um pouco mais formal, a arbitragem é uma prática na qual os
investidores podem auferir lucros extraordinários sem correr riscos. No exemplo
acima, haveria uma possibilidade de arbitragem: o investidor poderia lançar o
título cujo rendimento era de 5% ao ano e aplicar no papel de 6% ao ano,
apurando um lucro sem risco de 1 ponto percentual.
Colocar em prática tal estratégia, porém, seria impossível, como discutido
posteriormente. Não haveria demanda pelo título de 5%, o que obrigaria o
ofertante a aumentá-lo até o alcance das taxas de um papel de igual risco e
prazo, eliminando o espaço para o lucro extraordinário.
Equilíbrio de longo prazo
Desta forma, os retornos de todos os ativos dentro de uma economia devem, no
longo prazo, ser equivalentes quando ajustados pelos respectivos riscos, não
havendo oportunidades inexploradas de lucro.
Por exemplo, o retorno de equilíbrio do mercado de ações seria igual ao
rendimento da renda fixa acrescido de um prêmio de risco das ações.
Suponha que a equação não valesse, admitindo que o ganho do mercado acionário
fosse superior ao da renda fixa mais o risco das ações. Rapidamente, os
investidores perceberiam este desarranjo, incrementariam a demanda pela renda
variável, cujo retorno, então, passaria a ser menor. O movimento continuaria até
reequilibrar a equação. De maneira análoga, o raciocínio inverso vale para casos
em que o retorno da renda fixa fosse maior.
Vale entre países
A impossibilidade de arbitragem existe entre diversos mercados, mas também entre
países. Para uma mesma taxa de câmbio, um título brasileiro, por exemplo, deve
ter uma rentabilidade equivalente ao de um papel norte-americano - considerado
livre de risco - mais um prêmio de risco-Brasil.
Novamente, se este resultado não corresponder à prática, haverá um ajuste
instantâneo no mercado. Caso o rendimento dos papéis brasileiros superasse o dos
norte-americanos mais o prêmio de risco, as pessoas demandariam mais papéis
nacionais em detrimento aos estrangeiros. O retorno dos títulos brasileiros,
então, passaria a ser menor, restabelecendo o equilíbrio.
A mesma lógica vale para quaisquer mercados. Tentar ter um almoço grátis é mais
difícil do que parece!