Fazer contas, analisar orçamento e patrimônio não são tarefas
que a maioria de nós aprecia, mas esse exercício é ainda mais desagradável
quando acontece no âmbito de uma separação conjugal. Não são raros os casos de
pessoas que, absorvidas pelos sentimentos, evitam discutir abertamente as
implicações financeiras desta decisão, para então aprenderem da pior forma
possível que cometeram um grave erro.
Ainda que pareça impossível, não se deixe envolver pela emoção da situação.
Encare a discussão como uma negociação qualquer, na qual você tem todo o direito
de querer saber o máximo possível. Se você é daqueles que não consegue controlar
suas emoções, faça um esforço extra! Pense que negociações conduzidas de forma
organizada e transparente em geral são concluídas de maneira favorável para
todos os envolvidos.
Lembre-se que enquanto o tempo trabalha a seu favor no que refere à sua
recuperação emocional e psicológica, o mesmo não vale para a sua situação
financeira. Junte-se a isso o fato de que as "incompatibilidades financeiras"
mais do que gênio são uma das principais causas de separação de casais, e fica
fácil entender a importância de se discutir o tema, de forma aberta, franca e
civilizada, quando a separação é inevitável. Abaixo damos algumas recomendações
de como melhorar gerenciar sua situação financeira no caso de uma separação.
Troque a conta conjunta, por uma individual
Você e seu cônjuge sempre acreditaram que uma vez casados deveriam compartilhar
tudo, o que inclui, além da casa e do carro, a conta corrente e o cartão de
crédito? Em caso afirmativo, a primeira providência a ser tomada é cancelar
todas as contas e cartões conjuntos.
Lembre-se que um divórcio pode demorar muito tempo, e você não deve correr o
risco de ver novas dívidas sendo contraídas, ou suas aplicações financeiras
sendo sacadas para arcar com gastos crescentes do seu ex-companheiro. Não confie
em acordos verbais, e mesmo que tenha concordado em dividir a conta do cartão de
crédito, opte por pagar a sua parte com cheque, ou transferência direta da sua
conta individual.
As administradoras de cartão de crédito não sabem que vocês concordaram de
dividir a conta, portanto, se o pagamento não for efetuado, e uma das partes
declarar incapacidade, a outra acabará sendo responsabilizada, e aí precisará
provar que já quitou a sua parte.
Se você não tem uma conta ou cartão individual, providencie um o mais rápido
possível, antes mesmo da separação se oficializar, pois é mais fácil abrir uma
conta quando você ainda conta com ativos e renda em conjunto. Por mais que
pareça incrível, atualmente é mais fácil um adolescente abrir uma conta
individual do que uma senhora de 55 anos, que acaba de se separar e nunca teve
conta ou cartão individual.
Dívidas, um assunto muito delicado
Mesmo que seu casamento vá de vento em popa, e que não existam nuvens no
horizonte, opte pela separação das dívidas. Se o carro que vocês vão financiar é
para o seu marido, busque colocar o bem no nome dele, e não no seu. Caso sejam
forçados a se separar, será mais fácil administrar a situação, além das chances
de uma surpresa desagradável serem bem menores.
Quando a separação é inevitável, o melhor é obter o máximo de informação
possível sobre a situação das contas bancárias, aplicações e dívidas conjuntas.
Por mais que isso pareça incrível, não são raros os casos de cônjuges que estão
atolados em dívidas e a outra parte só acaba se inteirando da situação quando é
tarde demais.
Já pensou a dificuldade se, voltando ao financiamento do carro acima, vocês se
separarem e seu marido deixar de pagar o financiamento do carro, que ele usa,
mas cujo financiamento está em seu nome? Além da possibilidade de tê-lo sujo na
praça, caso precise levantar crédito adicional em seu próprio nome é possível
que tenha dificuldades.
Isso sem falar que um histórico de crédito negativo pode até mesmo comprometer
sua capacidade de encontrar um emprego. Mesmo depois da separação concluída
continue checando seu extrato para possíveis débitos inesperados. Muitos
aproveitam a situação para se atolar em dívidas, que só aparecem mais tarde,
para desespero do ex-cônjuge.
Em caso de financiamento imobiliário, quando em geral o financiamento é
conjunto, o melhor é vender o imóvel e quitar a dívida. Caso contrário, a
responsabilidade deve ser de quem continuar morando na propriedade, mas o melhor
é estipular as respectivas obrigações de maneira formal durante o processo de
separação.
Mantenha separado o que já era seu
Você poderá ser acusado de mesquinho, egoísta, ou coisas piores, mas sem dúvida
é o procedimento mais sensato em caso de união. Se ao se casar você já tinha
bens e propriedades em seu nome, então é melhor que elas sejam mantidas desta
maneira, pois permite que você ao menos saia do casamento da mesma forma que
entrou.
Em alguns casos, um dos cônjuges opta por usar recursos próprios para realizar
uma necessidade do casal, o que pode incluir desde a compra de um imóvel até a
quitação de um financiamento. Não há dúvida de que esta postura faz parte da
confiança que vocês depositam um no outro, contribuindo assim para o sucesso do
seu casamento, no entanto é preciso ter consciência de que, caso a relação entre
vocês mude, não será tão fácil reaver o que antes era só seu.
Liquidando bens
Na maioria dos casos, até por envolver crianças, as partes decidem que a esposa
irá manter o imóvel do casal. A decisão, ainda que louvável do ponto de vista
psicológico, pode acabar demonstrando ser bastante incorreta do ponto de vista
financeiro.
Na medida do possível, não deixe as emoções comprometerem o seu bom senso.
Muitas vezes, a esposa acaba mantendo o antigo imóvel, mas não tem condições de
fazê-lo sozinha. Assim, passado algum tempo, acaba tendo que vender, mas o fato
de estar mais pressionada, pode acabar levando a uma venda precipitada. Da mesma
forma, muitos casais optam por vender o mais rápido possível a propriedade, como
se isso fosse cicatrizar suas feridas.
Não se precipite! Coloque tudo no papel, faça as contas e veja se tem como arcar
sozinha com a manutenção do imóvel, ou se é mais interessante aproveitar sua
valorização para vendê-lo. Lembre-se que, se este for seu único imóvel e tiver
valor inferior a R$ 440 mil, estará isenta de pagar ganho de capital, o que
torna a transação bastante atrativa do ponto de vista financeiro.
Retome a sua vida!
Finalmente, ainda que você goze de boa saúde, e se sinta bem, é sempre bom
prevenir. Não se esqueça, portanto, de rever a lista de beneficiários do seu
seguro de vida, plano de previdência, testamento e plano de saúde. Aproveite
para alterar seu estado civil nos documentos necessários e, caso seja mulher,
para retomar seu nome de solteira.
Aliás, retomar deve ser a palavra de ordem. Você passou por uma situação
extremamente desgastante do ponto de vista emocional e psicológico, mas isso não
é desculpa para deixar de lado a razão, e se afogar em uma lamentação
incessante, ou, pior ainda, para torrar a sua parte da separação em gastos por
impulso!