Já ouvi muita gente dizer que os fundos DI não oferecem risco. Tanto entre os investem quanto, pior ainda, entre quem orienta investidores. Também já vi gente atribuindo o maior risco destes fundos à possibilidade de variação do valor do fundo no curto prazo. Eu não posso concordar com estas visões e explico o porquê. Tomemos dois dos tipos de risco de um fundo de investimento: um decorrente da volatilidade do preço dos títulos que compõem um fundo e outro que vem do risco de crédito. Falemos deste último primeiro.
Risco de crédito
O risco de crédito advém da capacidade e do desejo de pagar. Os fundos DI são em grande parte constituídos de títulos públicos federais cuja emuneração é pós-fixada em função do resultado acumulado da taxa Selic.
Além destes títulos, os fundos também podem conter outros de emissores privados, tais como CDB dos bancos e títulos emitidos por empresas. Entretanto, o fato é que os títulos públicos federais com remuneração pós-fixada pela Selic, especialmente as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), são a maior parte dos títulos dos fundos e, portanto, o risco destes fundos advém do governo.
Assim, a pergunta a se formular seria: são os títulos do tesouro brasileiro totalmente seguros? Há risco de crédito considerável? Ou seja, será que pode-se
não receber o que é devido? Uma resposta positiva a estas perguntas tem conseqüências seríssimas.
No prazo de um ou poucos anos julgo que não há um risco de um calote como o da Argentina. Entretanto, é fato que a dívida pública não pára de subir em termos absolutos e que os nossos juros, como ninguém pode ignorar, são elevadíssimos. Se os juros reais andam a mais de 10% ao ano, então é porque há um risco elevado. Os juros podem ser elevados por conta de outros fatores também, tais como a escassez de poupança, mas isto alimenta o risco de financiamento do governo. Por isso, não creio que se possa dizer que não há risco de crédito em um país onde o governo tem que tomar dinheiro a mais de 10% de juros reais ao ano. O risco de crédito existe e é elevado.
Mesmo no exterior, o adicional de juros que o Brasil tem que pagar em dólares, além do que paga o tesouro dos EUA para prazos similares, é da ordem de 5% ao ano, maior do que o que bancos americanos com a mesma classificação de risco de crédito que o Brasil têm que pagar (não mais que 3% ao ano). Por isso, caro investidor, julgo que os fundos DI, bem como quase todos os demais tipos de fundo, correm um risco sério e de difícil diversificação para a maioria dos brasileiros que é o risco de inadimplência do governo federal, por mais improvável que isto possa parecer hoje em dia.
Sim, há riscos
Se perguntado se o fundo DI tem risco, eu diria, claro que sim. Como um fundo com títulos que remunera a taxas tão elevadas não teria risco? Ou será que o Brasil segue uma lógica financeira diferentes da dos demais países?
Finalmente, cabe um comentário a respeito do outro tipo de risco, o da volatilidade do preço dos títulos que compõem o fundo DI. Este tipo de risco, hoje, é realmente baixo. Embora há pouco tempo, por conta de mudanças nas regras de como se apura o valor de mercado dos títulos, alguns grandes fundos DI sofreram variações desfavoráveis substantivas. Não acredito que isto torne a acontecer e atribuo aos fundos DI um baixíssimo risco de volatilidade de preço hoje em dia.
A ameaça, que para mim é como o asteróide que ruma para a Terra, é a probabilidade de inadimplência federal. Se ela vier um dia, mesmo que não seja
nesta década, como podemos nos proteger dela? Afinal, a maioria de nós poupa para um futuro um tanto distante também.