É natural do ser humano buscar estabilidade, segurança, tranqüilidade e criar
uma rotina no trabalho que não ofereça grandes riscos. O problema começa quando
o profissional usa essa zona de conforto para se acomodar, evitar desafios e
ficar estagnado em uma mesma posição durante muito tempo.
“O mercado de trabalho é dinâmico e cedo ou tarde vai exigir que você deixe a
sua zona de conforto para se adaptar a novas realidades, assumir novas
responsabilidades, desenvolver habilidades ou até mesmo mudar a área de atuação.
Quem não estiver preparado e disposto a fazer isso ficará para trás”, alerta a
sócia-diretora da consultoria de Recursos Humanos Ohl Braga, Fátima Ohl Braga.
Sair da zona de conforto, no entanto, não é tarefa simples pois causa incômodo e
incertezas. Podem aparecer aí diversos medos como o de errar, o do desconhecido,
o de não dar conta do recado, o de perder dinheiro e o de parecer ridículo. E
todos eles precisam ser devidamente enfrentados.
“O perigo da zona de conforto é que ela faz o profissional baixar a guarda.
Enquanto ele dorme, a vida vai passando. Quando acordar, vai perceber que tudo a
sua volta mudou e que não tem os recursos necessários para lidar com isso”,
afirma Fátima.É preciso, portanto, ficar atento aos sinais de que se está
deixando acomodar em um cargo, empresa ou área (confira teste na página).
“Quando sentir que deu o seu melhor e mesmo assim não conseguiu resolver de
forma satisfatória o que lhe foi proposto ou tiver dificuldades para desempenhar
novas atribuições, por exemplo, é bom começar a se mexer”, ressalta Fátima.
Isso significa ter plena consicência não só do que acontece dentro da empresa,
mas informar-se também sobre tudo o que diz respeito ao seu negócio e a sua
área.
“O mercado é muito competitivo e a única certeza que temos é a de que tudo vai
mudar, e sem aviso prévio. Mesmo que você esteja feliz e satisfeito em seu atual
emprego, mantenha-se em movimento, buscando se desenvolver e melhorar
continuamente”, assegura o consultor sênior da divisão de Recursos Humanos da
consultoria Michael Page, Marcelo Cuellar. De acordo com ele, o que importa não
é o tempo em que o profissional está na mesma empresa, mas como suas funções e
responsabilidades foram mudando durante esse período.
“A pessoa pode estar na organização há 15 ou 20 anos e nunca ter se acomodado,
ou seja, atualiza-se, evolui e enfrenta novos desafios”.
O consultor em desenvolvimento organizacional e coach para executivos da
consultoria de Recursos Humanos LFGhisi, Charles Popoff, afirma que os que estão
na zona de conforto tendem a ficar desmotivados e a “irem levando” a situação.
“O profissional muitas vezes quer mudar, mas se sente 'refém' da empresa, pois
tem contas para pagar, família para sustentar e precisa dessa estabilidade, do
salário e dos benefícios”, diz.
Popoff defende que em um caso assim é preciso iniciativa, mas com planejamento,
e avisa que a mudança não ocorrerá de uma hora para outra: “É um processo que
leva tempo. Não dá para querer virar a mesa ou abandonar tudo. Estude o mercado,
se prepare. É importante refletir, descobrir o que te dá prazer, satisfação. É o
primeiro grande passo para sair da zona de conforto.”
A mudança pode vir de fora para dentro - imposta ao indivíduo por uma
determinada situação, ou de dentro para fora - quando ele próprio toma a
iniciativa. “Nesse caso há uma transformação de fato, uma decisão consciente. Se
for algo forçado, entretanto, a pessoa voltará a se acomodar assim que o
problema for resolvido”, explica Fátima.
Crescimento
Para o designer Adriano José Valadão de Freitas, a vontade de sair da zona de
conforto em busca de novos desafios e possibilidades partiu dele mesmo.
“Eu trabalhava em uma grande empresa de entretenimento e no começo participava
de projetos bastante interessantes. Com o passar do tempo, porém, senti que
estava produzindo muito abaixo do que poderia, em funções mais operacionais onde
não podia exercer a criatividade”, conta.
Mesmo com salário bom, horário certo para entrar e sair e total domínio sobre
suas tarefas, Adriano decidiu que era hora de sair em busca de novos desafios.
“Tinha tudo para me acomodar lá, mas percebi que profissionalmente não iria
aprender mais nada, não me desenvolveria. Precisava de mais”, afirma.
Hoje, ele é diretor de arte da Mega Share, uma agência de marketing promocional
que, embora seja menor do que a empresa anterior, o satisfaz de forma muito mais
plena. “Minha opinião é valorizada e me sinto estimulado a desenvolver e
apresentar novas idéias, que é exatamente o que eu estava buscando.”
Para Adriano, o essencial é não se acomodar e ter sempre o desejo de evoluir.
“Aliando isso à iniciativa e organização, as coisas acontecem naturalmente”,
diz.