Entendendo a finalidade e a eficácia do plano de negócios
1 - Introdução
Ultimamente, tem-se falado muito a respeito dos problemas enfrentados pelas
micro e pequenas empresas (MPE) brasileiras em se estabelecer no mercado após os
3 primeiros anos de vida. Isto porque o índice de mortalidade dessas empresas
sempre foi considerado elevado, porém não se tinha dados concretos que
fundamentassem essa afirmativa. Chegava-se a dizer que esses números eram da
ordem de 80% ou mais, ou seja, a cada 5 novas pequenas empresas criadas no país,
apenas uma sobrevivia após o terceiro ano de vida. Pesquisas do SEBRAE (SEBRAE,
1998a) mostram que esses números não são tão elevados quanto se dizia. Mas
também não são animadores a ponto de não nos preocuparmos. O percentual de
mortalidade das MPE na região metropolitana de São Paulo chega a 58% nos três
primeiros anos de vida. Esses números podem ser extrapolados para todo o país,
segundo o próprio SEBRAE, e os resultados não serão tão discrepantes.
O fato é que independente do índice ser 58% ou 80% ou outro qualquer,
busca-se uma causa principal para esse problema crônico brasileiro, já que essas
mesmas MPE são reconhecidamente responsáveis pela maior parcela de empregos
gerados no país. Diversas pesquisas e reportagens que veiculam na mídia focam
vários aspectos considerados como sendo os grandes causadores desses números.
Pode-se citar a crise econômica pela qual passa o país, a falta de incentivos e
subsídios do governo às MPE exportadoras, altas taxas de juros, acesso restrito
ao crédito, exigência de contrapartidas elevadas ao se pleitear financiamentos
junto a bancos, a crescente concorrência estrangeira, entre outros que são
diariamente discutidos em vários pontos do país. O que se nota é a constante
preocupação em se buscar culpados para os próprios erros e a exagerada
preocupação com fatores intangíveis para o empreendedor. Todos esses exemplos
citados são verídicos, importantes e preocupantes, porém são fatores de ordem
macro e de difícil influência por parte do empreendedor isoladamente. As
entidades representativas de sua classe estão aí para defender seus interesses e
buscar melhores condições que viabilizem um cenário propício à criação e
crescimento de novos empreendimentos.
A pergunta que fica no ar é: E o empreendedor, o que ele pode fazer pelo seu
empreendimento? Existe uma importante ação que somente o próprio empreendedor
pode e deve fazer pelo seu empreendimento: planejar, planejar e planejar. No
entanto, é notória a falta de cultura de planejamento do brasileiro, que por
outro lado é sempre admirado pela sua criatividade e persistência. Os fatos
devem ser encarados de maneira objetiva. Não basta apenas sonhar, deve-se
transformar o sonho em ações concretas, reais, mensuráveis. Para isso, existe
uma simples, mas para muitos, tediosa, técnica de se transformar sonhos em
realidade: o planejamento. Nos Estados Unidos, muito do sucesso creditado às MPE
em estágio de maturidade é creditado ao empreendedor que planejou corretamente o
seu negócio e realizou uma análise de viabilidade criteriosa do empreendimento
antes de colocá-lo em prática. Segundo o U.S. Small Business Administration (SBA,
1998), uma das principais razões de falência das MPE americanas é a falta de
planejamento do negócio, exatamente como ocorre no Brasil. Quando se considera o
conceito de planejamento, têm-se pelo menos três fatores críticos que podem ser
destacados:
1. Toda empresa necessita de um planejamento do seu negócio para poder
gerenciá-lo e apresentar sua idéia a investidores, bancos, clientes etc;
2. Toda entidade provedora de financiamento, fundos e outros recursos
financeiros necessita de um plano de negócios da empresa requisitante para
poder avaliar os riscos inerentes ao negócio, e
3. Poucos empresários sabem como escrever adequadamente um bom plano de
negócios. A maioria destes são micro e pequenos empresários e não têm
conceitos básicos de planejamento, vendas, marketing, fluxo de caixa, ponto
de equilíbrio, projeções de faturamento etc. Quando entendem o conceito,
geralmente não conseguem colocá-lo objetivamente em um plano de negócios.
Agora, a pergunta que se faz é a seguinte: O Plano de Negócios é realmente
uma ferramenta de gestão eficiente a ponto de determinar o sucesso ou o fracasso
de um empreendimento? O que é mito e o que é realidade? Este artigo discute
estas questões e propõe uma estrutura de plano de negócios que tem sido validada
junto a dezenas de pequenas empresas e incubadoras de empresas e obtido bons
resultados, bem como foca a importância da revisão periódica do plano de
negócios como fator chave para que esta ferramenta de gestão deixe de ser um
mito e auxilie o empreendedor a alcançar o sucesso.
2 - A importância do Plano de Negócios
Segundo Sahlman (Sahlman, 1997), importante professor da Harvard Business
School, poucas áreas têm atraído tanta atenção dos homens de negócio nos Estados
Unidos como os planos de negócios. Dezenas de livros e artigos têm sido escritos
e publicados naquele país tratando do assunto e propondo fórmulas milagrosas de
como escrever um plano de negócios que revolucionará a empresa. Isso começa a
ocorrer também no Brasil, devido principalmente ao fervor da nova economia (a
Internet) e as possibilidades de se fazer riqueza da noite para o dia. O cuidado
que se deve tomar é o de se escrever um plano de negócios com todo conteúdo que
se aplica a um plano de negócios e que não contenha números recheados de
entusiasmo ou fora da realidade. Nesse caso, pior que não planejar é fazê-lo
erroneamente, e o pior ainda, conscientemente. Essa ferramenta de gestão pode e
deve ser usada por todo e qualquer empreendedor que queira transformar seu sonho
em realidade, seguindo o caminho lógico e racional que se espera de um bom
administrador. É evidente que apenas razão e raciocínio lógico não são
suficientes para determinar o sucesso do negócio. Se assim ocorresse, a arte de
administrar não seria mais arte, apenas uma atividade rotineira, onde o
feeling do administrador nunca seria utilizado. Mas existem alguns passos,
ou atividades rotineiras, que devem ser feitos por todo empreendedor. A arte
estará no fato de como o empreendedor traduzirá esses passos realizados
racionalmente em um documento que sintetize e explore as potencialidades de seu
negócio, bem como os riscos inerentes a esse mesmo negócio. Isso é o que se
espera de um plano de negócios. Que seja uma ferramenta para o empreendedor
expor suas idéias em uma linguagem que os leitores do plano de negócios entendam
e, principalmente, que mostre viabilidade e probabilidade de sucesso em seu
mercado. O plano de negócios é uma ferramenta que se aplica tanto no lançamento
de novos empreendimentos quanto no planejamento de empresas maduras.
A maioria dos planos de negócios resume-se a textos editados sobre um modelo
pré-determinado e que não convencem ao próprio empreendedor. Geralmente são
escritos como parte dos requisitos de aprovação de um empréstimo, ingresso em
uma incubadora de empresas, solicitação de bolsas ou recursos financeiros de
órgãos do Governo etc, e que são feitos apenas para esse fim, às pressas, sem
muita fundamentação ou, como já foi dito, recheado de números mágicos. Como
esperar que convençam a um investidor, bancos, potenciais parceiros,
fornecedores, à própria empresa internamente, esses que são, geralmente, os
públicos-alvos de um plano de negócios? Deve-se ter em mente que essa ferramenta
propõe-se a ser o cartão de visitas do empreendedor, mas também pode ser o
cartão de desqualificação do mesmo empreendedor em busca de oportunidades. As
oportunidades geralmente são únicas e não podem ser desperdiçadas. E como cartão
de visitas, o empreendedor deve sempre ter à mão o plano de negócios de seu
empreendimento, elaborado de maneira primorosa e cuidadosamente revisado.
Devido a sua importância, o plano de negócios deveria ser inserido como
disciplina regular em cursos de administração de empresas e de empreendedorismo.
Isso já vem sendo feito no país em algumas áreas, como o projeto Genesis, do
SOFTEX (Silva, 1998), mas o importante não é mostrar o roteiro a ser preenchido
pelo empreendedor, deve-se vender a idéia do plano de negócios e disseminar seu
conceito básico junto aos empresários das MPE brasileiras. E esse conceito
básico é o planejamento. Outro paradigma que precisa ser quebrado é o fato de
achar-se que o plano de negócios depois de feito pode ser esquecido. Este é um
erro imperdoável e as conseqüências serão mostradas pelo mercado que está em
constante mutação. A concorrência muda, o mercado muda, as pessoas mudam. E o
plano de negócios, sendo uma ferramenta de planejamento que trata essencialmente
de pessoas, oportunidades, do contexto e mercado, riscos e retornos (Sahlman,
1997), também muda. O plano de negócios é uma ferramenta dinâmica e que deve ser
atualizado constantemente, pois o ato de planejar é dinâmico e corresponde a um
processo cíclico.
Uma outra iniciativa que merece destaque e vem sendo implementada com sucesso
no Estado de São Paulo, é a utilização do plano de negócios pelas incubadoras de
empresas que pertencem à Rede Paulista de Incubadoras de Empresas. Atualmente, o
trabalho vem sendo desenvolvido junto a 40 incubadoras de empresas e seus
gerentes. Uma das idéias principais desse projeto é o de capacitar os gerentes
de incubadoras na elaboração e utilização do plano de negócios e também na
assessoria junto às empresas incubadas na elaboração de seu plano de negócios (Dornelas,
1999a). Com isso, pretende-se aumentar o contingente de profissionais
capacitados na utilização dessa ferramenta de gestão, incentivando futuros
empreendedores na elaboração e uso eficientes do plano de negócios. Em pesquisa
realizada junto a essas incubadoras (SEBRAE, 1998b), constatou-se que 67% das
empresas incubadas, em um universo de mais de 220 empresas, elaboraram um plano
de negócios como requisito básico ao processo de seleção dessas empresas junto à
incubadora. Porém, praticamente nenhuma dessas empresas ou incubadoras utilizam
o plano de negócios como ferramenta de gestão básica de seu negócio. E mais,
poucos gerentes realmente conhecem razoavelmente os conceitos que sustentam um
plano de negócios. É uma contradição, e mostra que o plano de negócios está
sendo utilizado apenas como estudo de viabilidade e não como um suporte contínuo
ao empresário. Outro aspecto que se coloca em discussão é se esses planos de
negócios apresentados pelas empresas em processo de seleção para entrada na
incubadora foram ou não elaborados com auxílio de profissionais competentes no
assunto, e ainda, se apenas utilizou-se o nome plano de negócios para um
documento contendo respostas a perguntas relacionadas ao novo empreendimento.
Desse modo, o plano de negócios passa a ser apenas um documento que mascara a
situação dessas empresas e corre o risco de se tornar apenas um mito e que, com
o tempo, pode perder sua credibilidade junto aos empreendedores, haja vista o
enfoque errado que se está dando à utilização do plano de negócios nesses casos.
Todo plano de negócios deve ser elaborado e utilizado seguindo algumas regras
básicas, mas que não são estáticas e permitem ao empreendedor utilizar sua
criatividade ou o bom senso, enfatizando um ou outro aspecto que mais interessa
ao público-alvo do plano de negócios em questão. No caso das empresas que já se
encontram em funcionamento, ele deve mostrar não apenas aonde a empresa quer
chegar, ou situação futura, mas também onde a empresa está no momento, mostrando
os valores dos seus atuais indicadores de desempenho.
Outra característica importante é que ele não deve estar apenas focado no
aspecto financeiro. Indicadores de mercado, de capacitação interna da empresa e
operacionais são igualmente importantes, pois estes fatores mostram a capacidade
da empresa em alavancar os seus resultados financeiros no futuro. Resumindo, é
importante que o plano de negócios possa demonstrar a viabilidade de atingimento
da situação futura, mostrando "como" a empresa pretende chegar lá. Então, o que
o empresário precisa é de um plano de negócios que lhe sirva de guia, que seja
revisado periodicamente e que permita alterações visando vender a idéia ao
leitor desse seu plano de negócios.
3 - Estrutura do Plano de Negócios
Como o plano de negócios é um documento usado para descrever seu negócio, as
seções que compõem um plano de negócios geralmente são padronizadas para
facilitar o entendimento. Cada uma das seções do plano tem um propósito
específico. Um plano de negócios para uma pequena empresa pode ser menor que o
de uma grande organização, não ultrapassando talvez 10-15 páginas. Muitas seções
podem ser mais curtas que outras e até ser menor que uma única página de papel.
Mas para se chegar ao formato final geralmente são feitas muitas versões e
revisões do plano de negócios até que esteja adequado ao público-alvo do mesmo.
Não existe uma estrutura rígida e específica para se escrever um plano de
negócios, porém, qualquer plano de negócios deve possuir um mínimo de seções as
quais proporcionam um entendimento completo do negócio. Estas seções são
organizadas de forma a manter uma seqüência lógica que permita a qualquer leitor
do plano entender como a empresa é organizada, seus objetivos, seus produtos e
serviços, seu mercado, sua estratégia de marketing e sua situação financeira.
Uma possível estrutura para a confecção de um plano de negócios é proposta a
seguir. Seu formato foi obtido a partir da análise de várias publicações,
artigos, livros e planos de negócios reais utilizados por várias empresas e da
elaboração de dezenas de planos de negócios para diferentes públicos-alvos (Dornelas,
1999b).
Cada uma das seções aqui apresentadas deve ser abordada sempre visando a
objetividade, sem perder sua essência e os aspectos mais relevantes a ela
relacionados.
1. Capa
A capa, apesar de não parecer, é uma das partes mais importantes do plano de
negócios, pois é a primeira parte que é visualizada por quem lê o plano de
negócios, devendo portanto ser feita de maneira limpa e com as informações
necessárias e pertinentes. Bons exemplos de capas para o plano de negócios
são propostos por Linda Pinson (Pinson, 1996).
2. Sumário
O sumário deve conter o título de cada seção do plano de negócios e a página
respectiva onde se encontra, bem como os principais assuntos relacionados em
cada seção. Isto facilita ao leitor do plano de negócios encontrar
rapidamente o que lhe interessa. Qualquer editor de textos permite a
confecção automática de sumários e tabelas de conteúdo e que são bastante
apresentáveis.
3. Sumário Executivo
O Sumário Executivo é a principal seção do plano de negócios. Através do
Sumário Executivo é que o leitor decidirá se continuará, ou não, a ler o
plano de negócios. Portanto, deve ser escrito com muita atenção, revisado
várias vezes e conter uma síntese das principais informações que constam no
plano de negócios. Deve ainda ser dirigido ao público-alvo do plano de
negócios e explicitar qual o objetivo do plano de negócios em relação ao
leitor (ex.: requisição de financiamento junto a bancos, capital de risco,
apresentação da empresa para potenciais parceiros ou clientes etc.). O
Sumário Executivo deve ser a última seção a ser escrita, pois depende de
todas as outras seções do plano para ser feita.
4. Planejamento Estratégico do Negócio
A seção de planejamento estratégico é onde são definidos os rumos da
empresa. Nesta seção devem ser apresentadas a visão e missão da empresa, sua
situação atual, as potencialidades e ameaças externas, suas forças e
fraquezas, suas metas e objetivos de negócio. Esta seção é na verdade a base
para o desenvolvimento e implantação das demais ações descritas no plano.
5. Descrição da Empresa
Nesta seção deve-se descrever a empresa, seu histórico, crescimento,
faturamento dos últimos anos, sua razão social, impostos, estrutura
organizacional e legal, localização, parcerias, certificações de qualidade,
serviços terceirizados etc.
6. Produtos e Serviços
Esta seção do plano de negócios é destinada aos produtos e serviços da
empresa, como são produzidos, recursos utilizados, o ciclo de vida, fatores
tecnológicos envolvidos, pesquisa e desenvolvimento, principais clientes
atuais, se detém marca e/ou patente de algum produto etc. Nesta seção pode
ser incluída, quando esta informação encontra-se disponível, uma visão do
nível de satisfação dos clientes com os produtos e serviços da empresa. Este
feedback é bastante importante, porque pode não apenas oferecer uma visão do
nível de qualidade percebida nos produtos e serviços, mas também guiar
futuros investimentos da empresa em novos desenvolvimentos e novos processos
de produção.
7. Plano Operacional
Esta seção deve apresentar as ações que a empresa está planejando em seu
sistema produtivo, indicando o impacto que estas ações terão em seus
parâmetros de avaliação de produção. Deve conter informações operacionais
atuais e previstas de fatores como: lead time do produto ou serviço,
percentual de entregas a tempo (on time delivery), rotatividade do
inventário, índice de refugo, lead time de desenvolvimento de produto ou
serviço etc.
8. Plano de Recursos Humanos
Aqui devem ser apresentados os planos de desenvolvimento e treinamento de
pessoal da empresa. Estas informações estão diretamente relacionadas com a
capacidade de crescimento da empresa, especialmente quando esta atua em um
mercado onde a detenção de tecnologia é considerado um fator estratégico de
competitividade. Devem ser indicadas as metas de treinamento associadas às
ações do Plano Operacional, as metas de treinamento estratégico, de longo
prazo e não associadas diretamente às ações. Aqui também devem ser
apresentados o nível educacional e a experiência dos executivos, gerentes e
funcionários operacionais, indicando-se os esforços da empresa na formação
de seu pessoal.
9. Análise de Mercado
Na seção de análise de mercado, o autor do plano de negócios deve mostrar
que os executivos da empresa conhecem muito bem o mercado consumidor do seu
produto/serviço (através de pesquisas de mercado): como está segmentado, o
crescimento desse mercado, as características do consumidor e sua
localização, se há sazonalidade e como agir nesse caso, análise da
concorrência, a sua participação de mercado e a dos principais concorrentes,
os riscos do negócio etc.
10. Plano de Marketing
O Plano de Marketing apresenta como a empresa pretende vender seu
produto/serviço e conquistar seus clientes, manter o interesse dos mesmos e
aumentar a demanda. Deve abordar seus métodos de comercialização,
diferenciais do produto/serviço para o cliente, política de preços,
principais clientes, canais de distribuição e estratégias de
promoção/comunicação e publicidade, bem como projeções de vendas.
11. Plano Financeiro
A seção de finanças deve apresentar em números todas as ações planejadas
para a empresa e as comprovações, através de projeções futuras (quanto
necessita de capital, quando e com que propósito), de sucesso do negócio.
Deve conter demonstrativo de fluxo de caixa com horizonte de, pelo menos, 3
anos; balanço patrimonial; análise do ponto de equilíbrio; usos e fontes;
necessidades de investimento; demonstrativos de resultados; análise de
indicadores financeiros do negócio, como por exemplo: faturamento previsto,
margem prevista, prazo de retorno sobre o investimento inicial (payback),
taxa interna de retorno (TIR) etc.
Anexos
Esta seção deve conter todas as informações que se julgar relevantes para o
melhor entendimento do plano de negócios. Por isso, não tem um limite de
páginas ou exigências a serem seguidas. A única informação que não se pode
esquecer de incluir é a relação dos curriculum vitae dos sócios e dirigentes
da empresa. Pode-se anexar ainda informações como fotos de produtos, plantas
da localização, roteiros e resultados completos das pesquisas de mercado que
foram realizadas, material de divulgação do negócio, folders, catálogos,
estatutos, contrato social da empresa, planilhas financeiras detalhadas etc.
Outra questão muito discutida é sobre qual deve ser o tamanho ideal de um
plano de negócios. Não existe um tamanho ideal ou quantidade exata de páginas
para o plano de negócios. O que se recomenda é escrever o plano de negócios de
acordo com as necessidades do público-alvo que lerá o plano de negócios. Se o
leitor for um gerente de banco ou um investidor, por exemplo, ele dará mais
ênfase para a parte financeira do plano. Se o leitor for uma instituição de
fomento ou governamental, esta enfocará porque se está requisitando a quantidade
de recursos solicitada, onde aplicará e como a empresa retornará o capital
investido. Se for um parceiro, este atentará mais para a sua análise de mercado
e oportunidades de grandes lucros. Se for um fornecedor, este atentará para a
saúde financeira da empresa, sua carteira de clientes, a taxa de crescimento do
negócio. Enfim, é importante ressaltar novamente que a estratégia e a quantidade
de páginas do plano de negócios dependerão de qual será o seu público-alvo. Como
exemplos, encontram-se a seguir descrições de alguns tipos e tamanhos sugeridos
de planos de negócios (Jian, 1997).
- Plano de Negócios Completo: é utilizado quando se pleiteia uma
grande quantidade de dinheiro, ou se necessita apresentar uma visão completa
do seu negócio. Pode variar de 15 a 40 páginas mais material anexo;
- Plano de Negócios Resumido: é utilizado quando se necessita
apresentar algumas informações resumidas a um investidor, por exemplo, com o
objetivo de chamar sua atenção para que ele lhe requisite um plano de
negócios completo. Deve mostrar os objetivos macros do negócio,
investimentos, mercado, e retorno sobre o investimento e deverá focar as
informações específicas requisitadas. Geralmente varia de 10 a 15 páginas.
- Plano de Negócios Operacional: é muito importante para ser
utilizado internamente na empresa pelos diretores, gerentes e funcionários.
É excelente para alinhar os esforços internos em direção aos objetivos
estratégicos da organização. Seu tamanho pode ser variável e depende das
necessidades específicas de cada empresa em termos de divulgação junto aos
funcionários.
Independente do tamanho e tipo do plano de negócios, sua estrutura deve
conter as seções anteriormente apresentadas não de forma isolada e sim com
estreito relacionamento, de maneira a completar o ciclo de planejamento do
negócio, com ações coerentemente definidas e com projeções de resultados viáveis
de se obter, com base em uma análise criteriosa de mercado e da situação atual
da empresa.
4 - O Plano de Negócios como Ferramenta de Gerenciamento
Para que o plano de negócios possa se tornar um instrumento eficaz de
gerenciamento é importante que as informações nele existentes possam ser
divulgadas internamente à empresa de uma forma satisfatória. Boas informações
trancadas em uma gaveta ou perdidas em uma montanha de papéis na mesa de um
executivo não são propriamente utilizáveis e acabam fatalmente por cair no
esquecimento. Como colocado anteriormente, o plano de negócios pode e deve
também ser utilizado como uma ferramenta de gestão.
Sendo assim, as informações apresentadas no plano de negócios também devem
ser utilizadas internamente, guiando e validando os esforços de melhoria da
empresa. Para que isso aconteça, é necessário que exista um monitoramento
periódico da situação atual em relação aos números previstos, ou metas, do
plano.
Uma forma simples e bastante eficiente de se fazer isso é a criação de um (ou
vários) Painel de Metas da empresa. Rentes (Rentes et al., 1999) propõe a
criação desse tipo de instrumento para guiar qualquer processo de melhoria
organizacional. Este painel é um sistema visível de medidas de desempenho, que
deve mostrar de forma simples, preferencialmente gráfica, a evolução da empresa
ao longo do tempo, em termos dos seus valores de avaliação. É, portanto,
composto por um conjunto de gráficos que devem ser apresentados em displays ou
paredes, em locais acessíveis aos gerentes e funcionários relevantes. Estes
painéis devem ser um "espelho" do plano de negócios, apresentando as mesmas
informações e parâmetros numéricos ali considerados. É uma ferramenta dinâmica
que exige a criação de um procedimento de atualização periódica dos dados, de
forma a se ter sempre uma visão do momento da empresa, do seu passado e das
metas previstas.
Esse Painel (ou Painéis) de Metas fornece um conjunto de medidas de
desempenho de "equilíbrio" da empresa, que deve cobrir todas as áreas de análise
empresarial, aos moldes do balanced scorecard proposto por Kaplan e Norton
(Kaplan & Norton, 1996a). Nos casos de empresas mais maduras, essas medidas
gerais podem por sua vez ser desdobradas em medidas de desempenho de áreas
específicas da empresa, podendo chegar, quando necessário, até a uma definição
de objetivos individuais (Kaplan & Norton, 1996b), alinhados com os objetivos da
empresa como um todo.
Desta forma, o plano de negócios pode se transformar em um instrumento
dinâmico de implementação da estratégia da empresa. Ele deixará de correr o
risco de ser apenas um mito e se tornará uma ferramenta fundamental de gestão
que, certamente, auxiliará o empreendedor a alcançar o sucesso almejado, ou
ainda, mostrará a esse mesmo empreendedor que o momento não é propício para o
negócio vislumbrado, evitando decepções futuras.
5 - Considerações Finais
Com o constante aumento do desemprego, muitos ex-funcionários de empresas têm
se jogado, sem qualquer preparo, na aventura de montar um negócio próprio, com o
sonho de independência financeira, de liberdade e de ficar rico. A história tem
mostrado que uma pequena parcela desses mesmos aventureiros, também chamados de
empreendedores, são os grandes responsáveis pelo desenvolvimento econômico e
crescimento do país. Porém, a grande maioria encontra uma nova decepção quando
opta pelo negócio próprio e acaba conhecendo uma realidade cruel, a qual mostra
quão vil é o mercado com aqueles que não estão preparados.
A economia de mercado não permite aos principiantes ou apenas sonhadores
saírem vitoriosos. Isso não significa que se deve aceitar os fatos e deixar que
o mercado sempre imponha as regras do jogo. Pode-se sim, com um planejamento
eficaz, contínuo e, o mais importante, com uma análise realista, construir
empresas de sucesso mesmo em tempos de crise. Para isso, o futuro empreendedor
deve compreender as regras do jogo antes de jogar e se convencer, a partir de
dados concretos, que há uma possibilidade de sucesso no futuro empreendimento. O
problema é que as ferramentas disponíveis a esses empreendedores, destinadas a
fornecer-lhes suporte nesta tarefa, são mal compreendidas e precariamente
utilizadas. O plano de negócios é um exemplo claro de ferramenta de gestão
comprovadamente eficiente em muitos casos, mas que, em outros, pelo fato de não
ser adequadamente compreendida, acaba não agregando valor à ação empreendedora e
cai no descrédito. Os fatores principais que levam a esse cenário são muitos,
mas o principal é o fator cultural do brasileiro que não crê no planejamento e
prefere errar e aprender com os erros. Essa experiência de aprender com os erros
seria sempre válida se fosse possível repeti-la mais de uma ou duas vezes, o que
geralmente não ocorre.
Apesar dos problemas citados, ações estão sendo tomadas ainda que em alguns
setores específicos, e que certamente serão multiplicadas pelos que estão
passando pela experiência de conhecer e usar o plano de negócios. Espera-se que,
em pouco tempo, os resultados obtidos em função do uso dessa ferramenta de
gestão sejam cada vez mais evidentes e que, dessa forma, o mito plano de
negócios torne-se uma realidade determinante do sucesso dos negócios
empreendidos pelos brasileiros.