Nos três primeiros anos da criança as despesas podem passar de R$ 35 mil
Carinhos, cuidados, preocupação e muito dinheiro escorrendo bolso a fora. Esta é
a realidade vivida pelos casais depois de uma resposta positiva ao teste do HCG
(o hormônio da gravidez). Eufóricos, os futuros pais - principalmente a mãe -
começa logo a comprar os enxovais, processo que se intensifica com a descoberta
do sexo do bebê. A partir da notícia de que a família vai crescer, os gastos não
param, podendo ultrapassar R$ 35 mil, somente nos três primeiros anos de vida,
sem contar com os dispêndios imprevistos. Os cálculos foram feitos com base em
cotações de preços e no consumo médio de diversos produtos verificados pelos
pais.
Pesam no orçamento familiar os móveis e decoração do quarto, despesas com
a maternidade, roupas, sapatos, fraldas, medicamentos, plano de saúde,
hotelzinho, brinquedos, festas de aniversário e, no dia-a-dia, uma
diversidade de outros gastos. Um fato complicador é que o orçamento
geralmente é formulado sem a previsão dos ônus para a realização do sonho de
se tornar pai ou mãe.
No Brasil, muitos pais ou os próprios jovens já se atentaram para a
necessidade de reservar economias para bancar a compra do primeiro carro, a
faculdade e a formatura, a festa de casamento, a aquisição da casa própria,
entre outros planos, cujo financiamento exige cifras mais expressivas. No
entanto, ainda são poucos os que se preparam financeiramente para a chegada dos
filhos.
Neste ponto, segundo especialistas, os pais se esquecem de que o ingresso de
uma nova pessoa à família demanda mudanças na estrutura do lar e gera despesas.
"O ideal é que as famílias tivessem alguma economia reservada para estes
momentos", defende a professora e especialista em educação financeira Cássia
DAquino Filocre.
A afirmação justifica-se pelo fato de que o recém-estreado ao mundo do
consumo necessita de itens fundamentais ao seu desenvolvimento e importantes à
qualidade de vida, como o leite (após o desmame materno) e as dúzias e dúzias de
fraldas descartáveis, cujos pacotes se esvaziam em curto espaço de tempo.
A invenção, juntamente com os lenços umedecidos, é considerada uma revolução
pelas mães, mas o consumo é grande e, logicamente, os gastos acompanham. Além
disso, os pais proporcionam mimos e exageros - muitos para satisfazer a própria
vaidade ou por falta de experiência ? que encarecem ainda mais a criação do
filho. Exemplo? As roupinhas e sapatinhos irresistíveis aos olhos dos pais
(entenda-se mães) mais corujas e que durante os primeiros meses de vida, o uso é
limitado a poucas vezes, se houver grande número de peças.
Tesouro
Como maneira carinhosa de tratá-los, alguns pais chamam os filhos de tesouro
e, considerando os investimentos feitos na prole, o tratamento cai bem, já que
um dos significados da palavra é "lugar onde riquezas ficam armazenadas". Ao
contrário do que alguns pais esperam, com o passar do tempo os gastos com os
filhos aumentam principalmente por causa dos investimentos em educação. Sobre
este tema, o CORREIO de Uberlândia vai produzir uma matéria que será publicada
no próximo domingo, dia 4 de março.
Famílias adotam medidas alternativas para economizar
Além de que os filhos são a melhor parte da vida, os pais têm pelo menos mais
uma certeza: os custos desta felicidade são muitos e constantes. Mas, com
algumas medidas alternativas, é possível minimizar os impactos que a prole traz
ao orçamento doméstico. A decoradora Luciana Viola economizou bem mais que a
mão-de-obra nos preparativos do quarto de seus filhos, Luca, de 2 anos e 8
meses, e Giulia, de 2 meses. Há 20 anos, a família composta por quatro irmãos
mantém a tradição de repassar roupinhas usadas pelos filhos aos sobrinhos, que
são oito.
Ela também está reutilizando diversas peças compradas para o filho mais velho
e que puderam ser adaptadas para a pequena Giulia. "Doar é muito importante, mas
tem que começar em família. É preciso economizar em alguns gastos, já que alguns
são inevitáveis, como as fraldas", frisou. De acordo com a decoradora, o consumo
diário deste produto é de 10 a 15 unidades por dia. Um pacotão, que custa R$ 25,
é suficiente para 4 ou 5 dias.
A arquiteta Márcia Oliveira Andrade Arantes também esperava utilizar diversas
peças de Felipe Marcel, de quase 3 anos, no seu segundo filho. Mas, aos três
meses de gestação, veio a notícia inesperada: ela estava grávida de trigêmeos.
"Perdi a fala durante quatro dias e eu e meu marido ficamos 15 dias sem
conversar sobre o assunto", relatou, ao falar sobre o impacto do susto.
Planejamento
Para ter o primeiro filho, de um casamento após 12 anos de namoro, a família
se programou, inclusive financeiramente, o que se repetiu na segunda gestação.
No entanto, a programação precisou ser refeita. Em vez de uma peça, cada item
foi multiplicado por três, nas compras. Até mesmo os gastos com a maternidade
geraram problema.
Segundo Márcia Oliveira, o recurso para pagar o parto estava reservado, mas
os bebês nasceram com sete meses e meio de gestação e precisaram ficar em uma
UTI neonatal, o que gerou uma dívida de R$ 16 mil com o hospital, que ainda não
foi paga por falta de recursos. Desde as primeiras horas após o nascimento,
começaram as buscas por vagas para os recém-nascidos no Hospital de Clínicas, o
que levou uma semana até que o último deles fosse transferido.
Com enxovais, os gastos foram de aproximadamente R$ 1,8 mil. No entanto, os
maiores custos vieram depois. Com quatro meses, Arthur, Rafael e Guilherme
consomem uma lata de leite em pó ? que custa R$ 12 ? a cada dois dias, para
complementar a amamentação materna. Com isso, a alimentação fica por R$ 180 por
mês. Em fraldas, são gastos mais R$ 56 e, com medicamentos, cerca de R$ 65.
Considerando somente estes três itens, sem haver imprevistos, as despesas
mensais ultrapassam R$ 300. E, segundo a mãe, o marido tem um salário fixo de R$
700, mais comissão por produtividade, no setor imobiliário. Márcia Oliveira está
afastada de sua atividade profissional.
Casais pecam pelo excesso
Planejar-se financeiramente para qualquer etapa nova da vida, inclusive a
maternidade ou a paternidade, é importante. Mas, o excesso de organização, assim
como a ausência, pode ser prejudicial. De acordo com a educadora e consultora
Cássia D?Aquino Filocre, autora de diversos livros, entre eles, "Educação
Financeira ? 20 dicas para você.....", está havendo um período de transição
entre uma época em que não se pensava em programar as finanças para ter filhos e
um planejamento "paralisante".
A especialista se refere aos casais que querem conquistar a casa dos sonhos,
carro, viagens, ascensão na carreira, entre outros objetivos, para depois ter
filhos. "Planejam tanto que acabam não tendo nunca", salientou. A desistência
pode ser em função da idade ou do desânimo em alterar a rotina do casal, ou
seja, abrir mão da comodidade.
Outro ponto negativo em programar demasiadamente a chegada de um filho são as
exigências que recaem sobre este herdeiro. "Você se preparou tanto para isto que
logo faz uma Previdência Privada para pagar a faculdade do filho. E se ele não
quiser cursar?", argumentou a especialista, alertando sobre as expectativas que
muitos pais criam em relação aos filhos.
Apesar destas ponderações, ela defende que o planejamento é uma medida
prudente; no mínimo, fazer uma poupança para os momentos de maior urgência. Ela
aconselha também que as famílias façam seguro de vida em benefício dos
herdeiros, visando garantir a eles o sustento, boa educação e atendimento médico
de qualidade em caso de falta dos pais. "Enquanto a gente está por aqui, pode-se
encontrar soluções. Mas, a morte não escolhe hora, nem idade, e quando, se tem
filho, tem que considerar esta possibilidade", ressaltou.
Investimentos
Para o economista, professor e consultor de finanças Ricardo Freitas Martins
da Costa, apesar dos consideráveis gastos com a criação dos filhos, não se deve
economizar em educação - a principal herança deixada pelos pais - e em saúde.
Ele se recorda, por exemplo, que investiu cerca de R$ 1,5 mil em vacinas
complementares às disponibilizadas pela rede pública de saúde, visando proteger
a filha Maria Eduarda, de 3 anos.
Sobre o planejamento financeiro, ele afirma que este tipo de comportamento
não é muito comum entre os brasileiros. "As famílias não aprenderam a se
planejar. Na Inglaterra, por exemplo, educação financeira começa na pré-escola",
salientou.
No entanto, segundo o consultor, educação para lidar com as finanças depende
de outro fator pelo qual a maioria dos brasileiros não tem muita simpatia, que é
a disciplina. É o comportamento disciplinar que permite à pessoa abrir mão de
consumir algo hoje em prol de algum projeto futuro como, por exemplo, ter um
filho.
Alguns dos gastos previstos
Enxoval ? o kit básico sugerido pelas lojas custa de R$ 400 a R$ 700,
dependendo das marcas escolhidas
Kit para berço ? de R$ 179 a R$ 600
Móveis e decoração (berço, guarda-roupas, cômoda, poltrona, prateleira,
criado e puff) ? de R$ 1,5 mil a R$ 3,9 mil
Maternidade ? os custos médios variam de R$ 1,5 (enfermaria) a R$ 1,9 mil
(apartamento), para partos cirúrgicos, e são cerca de R$ 100 a menos se o parto
for natural
Fraldas ? o preço do produto varia de R$ 10 o megapacotão a R$ 35, e o
consumo é de, em média, dez unidades por dia, no primeiro trimestre; oito no
segundo; seis no terceiro e quatro a partir dos nove ou dez meses. Com isso, em
um ano, os gastos ultrapassam R$ 800, (se a opção for pela marca mais cara). Ao
fim de três anos, serão aproximadamente R$ 1,5 mil, considerando que a cada ano
o consumo diminui. Quem opta pelas mais baratas gasta cerca de R$ 428 no mesmo
período.
Leite ? o ônus com este alimento depende do tempo em que a criança for
amamentada no peito. Se o uso do leite em pó for iniciado a partir dos seis
meses, como é recomendado, de uma marca que hoje custa em torno de R$ 13 a lata
(até um ano) e R$ 10 (até os três anos), cerca de R$ 1,4 mil vai passar pela
mamadeira.
Hotelzinho (período integral) ? de R$ 290 a cerca de R$ 600, com alimentação
- para criança a partir de um ano. Assim, ao fim de cada ano, serão gastos R$
3,4 mil (R$ 6,8 mil, em dois anos) ou R$ 7,2 mil (R$ 14,4 mil em dois anos).
Plano de saúde ? R$ 121 por mês (cobertura nacional e completa/Unimed). Em
três anos serão investidos R$ 4.356.
Totais ? R$ 13,2 mil (preços mais baixos) e R$ 35,2 mil (preços mais altos).
Itens para o bebê (preços intermediários)
Carrinho ? R$ 380
Bebê conforto ? R$ 220
Andador ? R$ 100
Cadeira para a papinha ? R$ 120
Cadeira para transportar a criança no carro ? R$ 380
Total ? R$ 1,2 mil.
Dicas para reduzir os gastos com o filho pequeno
Reaproveitar itens bem conservados do filho antecessor, como roupas, sapatos,
carrinho, andador, cadeira de papa, entre outros, o que pode ser feito também
por meio de doação ou empréstimo entre amigos e familiares.
Antes de comprar, não dispensar uma boa pesquisa de preços. Para isso, as
compras têm que ser antecipadas, pois nos últimos dias da gestação as andanças
geram muito cansaço.
Analisar em que estação o bebê irá nascer. Se for em época de calor, por
exemplo, a compra de macacões de plush e outros tecidos quentes deve se
restringir a algumas peças. Cobertor pode ser dispensado e mantas, só se forem
bem leves.
Deve-se evitar a compra de muitas peças (roupas e calçados) do mesmo tamanho,
pois o desenvolvimento da criança durante os primeiros meses é muito rápido.
Roupas e calçados devem ser sempre uma ou duas numerações a mais, o que
amplia o tempo de uso.
Se houver indicação pelo pediatra de uma alimentação diferenciada e cara,
faça uma avaliação com outro médico para comprovar ou não a necessidade.
Analisar as listas oferecidas pelas lojas; diversos itens nem são utilizados
ou as quantidades são maiores que o necessário. Um exemplo são as faixas
umbilicais, cujo uso é desaconselhado por muitos pediatras, e as calças
plásticas esquecidas pela maioria das mães.
Diante das vitrines, avaliar a necessidade de comprar mais uma peça, sem se
deslumbrar com a beleza e delicadeza dos itens. O mesmo tipo de avaliação vale
para móveis e decoração.
Os cuidados básicos com os objetos do bebê ajudam a conservá-los com a
aparência de novos por mais tempo. Roupas jamais devem ser lavadas na máquina,
por exemplo.