Há pouco tempo atrás você estava planejando a sua
formatura... Depois veio o casamento, os filhos, e agora, sem saber ao certo
como, você chegou na tão temida meia-idade. É bem verdade que as pessoas estão
vivendo cada vez mais, e que muitos de nós, a custo de uma alimentação saudável
e atividade física, vamos superar tranqüilamente a barreira dos 80 anos.
Se, de um lado, isso significa mais tempo para aproveitar a vida, por outro
implica que sua reserva financeira deve garantir-lhe por mais tempo. O grande
problema é que a maior expectativa de vida das pessoas ainda não se reflete no
lado profissional, pelo menos não no que refere aos empregos corporativos
formais.
Tanto que muitas empresas obrigam seus funcionários a se aposentarem quando
alcançam entre 50 e 60 anos, apesar de estarem no auge de sua capacidade
profissional. E é por isso que, mesmo vivendo mais, as pessoas não gozam de mais
tempo para juntar seu patrimônio. Daí a importância de refletir sobre a sua
situação financeira ao chegar à meia idade, o que no Brasil tecnicamente
equivale a chegar aos 35 anos, visto que a expectativa de vida média da
população é de 71 anos.
Como você está encarando a meia-idade?
Quem já não ouviu falar na famosa crise da meia-idade? O grande problema é que,
muitas vezes, ela acaba levando as pessoas ao descontrole financeiro, visto que,
para compensar a frustração de não terem alcançado aquilo que esperavam, tanto
no âmbito profissional quanto pessoal, alguns consomem por impulso.
Por isso, antes de gastar dinheiro com a compra de bens que só vão lhe trazer
uma compensação temporária, ou de mudar radicalmente a sua vida, faça uma
análise detalhada do que efetivamente não está funcionando.
Qual é a origem de tanta frustração? Você está descontente porque sua vida
pessoal é um desastre, ou porque profissionalmente ainda não alcançou aquilo que
estabeleceu quando completou 30 anos? Até que ponto esta situação está afetando
a sua realidade financeira, e o que efetivamente pode ser feito para melhorar
sua situação atual.
Aprendendo com erros
Mesmo que esteja frustrado com as suas realizações pessoais e profissionais,
você não deve se deixar consumir por este sentimento. Reflita, sim, sobre os
erros que cometeu, mas para aprender com eles, e não para se desanimar.
Lembre-se: o objetivo deste exercício é corrigir erros de planejamento, caso
eles tenham ocorrido.
Por exemplo, se você comprometeu, por três anos, sua capacidade de investimento
porque resolveu financiar um carro importado, ao menos agora sabe que financiar
é bom, mas que deve ser algo analisado com cuidado. Não pense no que gastou a
mais com juros, mas pense no quanto pode economizar se, na troca do seu próximo
carro, planejar a compra, e pagar à vista.
Com este espírito, reveja com cuidado a sua situação financeira. Quanto
efetivamente você acumulou em patrimônio? Para onde vai o dinheiro do seu
salário? Por patrimônio, entenda-se a soma do valor dos imóveis e bens que
possui, menos as dívidas que acumulou. Com estas informações em mãos, você pode
entender se está, ou não, no caminho certo para um final de vida tranqüilo.
Dívidas nunca mais!
Se você tem dívidas no cartão, no cheque, ou no banco, esta é a hora para
resolver pendências. Ninguém consegue acumular um patrimônio se estiver atolado
em dívidas. Aqui é importante enfatizar que nem toda dívida é ruim. Existem
situações em que levantar crédito é saudável, pois ajuda na construção do seu
patrimônio. Um bom exemplo disso é o financiamento imobiliário.
A questão que se coloca aqui é o endividamento que garante apenas um conforto
material, mas não ajuda no crescimento do patrimônio. Se você tem dívidas no
cartão de crédito, porque não resistiu à tentação de consumo, está na hora de
rever esta situação.
Um erro comum entre as pessoas é esquecer de descontar as dívidas do patrimônio
que possuem. Pois é, se você tem R$ 150 mil no banco, e já acumula dívidas de R$
30 mil, não pode continuar gastando como se o seu patrimônio fosse de R$ 150
mil, pois, na verdade, ele é 20% menor. Seus amigos podem até achar que você tem
um bom patrimônio, a julgar pelo estilo de vida que leva, mas se este estilo só
for possível graças ao levantamento de dívidas sucessivas, mais cedo ou mais
tarde perderá o controle da situação.
Sem poupar você nunca vai chegar lá!
Depois de vários anos brigando com a balança, você finalmente se convenceu de
que as dietas milagrosas não adiantam. Pois bem, está na hora de você se
convencer que a situação é semelhante quando falamos de acúmulo de reserva
financeira.
Somente depois que você cortou os excessos à mesa e passou a se exercitar é que
você perdeu peso. Em finanças pessoais a situação é a mesma: você só vai
conseguir acumular algum patrimônio se cortar os excessos do seu orçamento, e
poupar de maneira consistente por toda a sua vida.
Portanto, se você ainda não acumulou o patrimônio que gostaria, não há outra
saída senão rever o seu orçamento. Daí a importância de saber exatamente para
onde vai o dinheiro, porque você vai precisar priorizar gastos. Se você vive em
família, ou seja, tem cônjuge e filhos, todos devem participar do esforço e, se
preciso, da mudança de hábitos.
Por mais que não pareça, sempre existe espaço para cortar despesas
desnecessárias. O que falta, muitas vezes, é um empurrãozinho. Faça um teste:
ande por uma semana com um bloquinho na mão e, sempre que fizer uma compra,
anote no bloco. Mas, é preciso incluir tudo, até mesmo a balinha que você
comprou enquanto esperava no carro a abertura do sinal.
Muitas pessoas acabam se surpreendendo com os chamados "gastos invisíveis" que
acumulam no mês. São eles que consomem o seu orçamento, e que devem ser cortados
para que finalmente comece a poupar.
Fazendo as contas
Agora que você tem uma idéia mais clara do que já acumulou e do quanto pode
poupar, é preciso ver se isso vai ser suficiente, ou se, efetivamente, você terá
que rever sua meta de renda na aposentadoria, ou aumentar a sua poupança até lá.
Calcule quantos anos faltam para você se aposentar, considerando que
sobreviverá, ao menos, até os 80 anos. Feito isso, especifique o tipo de renda
que pretende ter. Mas seja realista! A menos que você ganhe na loteria, mudanças
significativas de padrão de vida são difíceis, sobretudo para quem adiou o
planejamento até a meia-idade.
Por mais que ainda se considere jovem, e provavelmente o é, em termos de
planejamento financeiro não lhe restam tantos anos assim! Um erro comum entre
muitos profissionais bem-sucedidos, que gozam de bons empregos, é acreditar que
sempre poderão contar com esta renda, e que, portanto, podem deixar para depois
o seu planejamento.
Lembre-se: a vida é cheia de mudanças, e é para fazer frente ao impacto
financeiro que elas podem ter na nossa vida que o planejamento é importante!