Lembro-me de ter assistido certa vez a uma entrevista com o ator norte-americano
Peter Coyote, na qual ele confessava, com desconcertante sinceridade, o
seguinte: "Minhas finanças lembram uma montanha russa: neste exato momento,
estou bem no meio de uma daquelas descidas de virar o estômago." Pois é, atores
de cinema, mesmo os bons de famosos, que ganham cachês normalmente cotados em
milhões de dólares, também "sofrem" com o problema de terem renda flutuante no
mês a mês. O que fazer quando seus ganhos mensais mais parecem uma gangorra,
estando por cima num mês mas tristemente por baixo no outro?
Esta é a complicada situação de quase todos os corretores de imóveis e
representantes de vendas comissionados, por exemplo. Também se incluem neste
grupo uma série de profissionais liberais como médicos, dentistas e advogados,
que têm de conviver com a desagradável condição de terem renda mensal flutuante.
Esta também vem se tornando a realidade de um número crescente de
ex-funcionários de empresas que decidem se estabelecer por conta própria,
geralmente como prestadores de serviços autônomos no ramo profissional dentro do
qual sempre atuaram, ou mesmo abrindo seu negócio próprio.
Se os seus ganhos mensais variam muito de um mês para outro, talvez esta seja
uma realidade que você não possa mesmo evitar, algo próprio da sua atividade
profissional. Mas nem por isso você deve deixar suas finanças pessoais sejam
vitimadas pelo caráter errático da sua renda mensal, certo? O importante é
evitar apelar para o socorro do "dinheiro dos outros" (cheque especial,
empréstimos pessoais e dívidas em geral) como forma de compensar os meses de
renda mais baixa que o normal. Para isso, você deve se planejar para formar uma
reserva financeira complementar, um "colchão financeiro" que irá regular sua
renda variável, complementando os ganhos insuficientes nos meses em que a
variação da renda for para baixo da média.
MÉTODO PARA FORMAR SEU "COLCHÃO ANTI-FLUTUAÇÃO"
Em primeiro lugar, você deve determinar sua provável renda daqui para a
frente durante todo um ano. Dividindo essa renda anual por 12 meses, você obterá
o valor da sua renda média mensal. É com esse dinheiro (no máximo!) que você
terá de se acostumar a viver todos os meses. Para fazer a projeção deste valor,
você pode se basear na sua experiência dos ganhos passados, tomando-os como guia
para o provável comportamento dos seus ganhos futuros. Sugerimos tomar como
referência sua renda média mensal nos últimos 24 meses, um período de tempo
bastante adequado para servir de projeção. Se você acredita que a partir daqui
sua situação de ganhos vai piorar, aplique um desconto de pelo menos 10% sobre a
renda média estimada. Mas se você acha que seus ganhos poderão melhorar, bem,
pode acrescentar aí uns 10%.
Em seguida você deve determinar o período de cobertura do seu "colchão", ou
seja, o número de meses para os quais você deseja formar uma reserva financeira
com o propósito de complementar as flutuações mensais para baixo nos seus
ganhos. Recomendamos pensar num período mínimo de 6 meses, e ideal de 12 meses.
Se você estiver financeiramente preparado para flutuações da sua renda no
período de um ano a contar de hoje, certamente poderá dormir bem mais tranqüilo
desde já. Seu próximo passo será determinar um percentual de provável queda na
sua renda mensal. Partindo da sua experiência e do seu "sexto sentido", imagine
quanto sua renda pode ficar, num mês de ganhos mirrados, abaixo da média
estimada.
Muitos profissionais têm ganhos mensais que podem chegar a serem 30%
inferiores (ou até mais!) do que a sua renda média mensal projetada. Partindo
daí, obtenha o valor correspondente deste percentual em reais e multiplique por
6. Você terá achado o valor necessário do colchão de proteção para um ano
inteiro. Tendo acumulado esse "colchão", quando a renda de um mês ficar abaixo
da média, você poderá sacar desta reserva o suficiente para complementar a renda
daquele mês, igualando-a à renda média estimada. Mas como fazer para juntar essa
reserva? Quando a renda de um mês específico for "maior" que a média, nem pense
em torrar a diferença a mais. Ela deve ser poupada e investida para formar e
reforçar seu "colchão".
Um exemplo: o sujeito calculou, com base nos últimos dois anos, que sua renda
média mensal foi de R$ 3 mil. Sabendo que 2004 não será um ano fácil, ele
aplicou um desconto de 10% e obteve a renda mensal de R$ 2,7 mil. É com essa
quantia que sua família terá que viver no mês a mês. Em seguida, o sujeito
previu que sua renda pode cair até 30% nos meses de "faturamento baixo", ou
seja, pode ficar até R$ 810 abaixo da média (= 30% X R$ 2,7 mil). Partindo daí,
formou um colchão para 12 meses de $4.860 (= 6 X $810). Esperto e disciplinado,
o sujeito ganhou no mês passado R$ 3,2 mil "limpos", dos quais separou R$ 500 (=
R$ 3,2 mil - R$ 2,7 mil) para reforçar seu "colchão". Entendeu? Esse método
requer, como qualquer ferramenta de planejamento financeiro pessoal, um pouco de
organização e força de vontade da sua parte. Mas ele vem ajudando muita gente a
regular sua renda flutuante e se manter longe das dívidas! Então, use e abuse
dele você também!