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Banco / Cheque / Conta - Tarifas bancárias, uma pesada conta invisível 

Data: 30/05/2007

 
 

Elas vêm em conta-gotas nos extratos e já são responsáveis por 15% das receitas dos bancos 
 

Joinville - Elas vêm em contagotas nos extratos bancários. Uma aqui, outra ali, e sem que o consumidor perceba vão sugando seus recursos e engordando sem parar o lucro dos bancos. São tantas tarifas cobradas e de diferentes valores que chegam a confundir os clientes. Muitos, na verdade, nem sabem o que pagam.

E o que é pior, em algumas tarifas, os valores apresentam grandes diferenças de uma instituição para outra, confundindo ainda mais os consumidores. A tarifa de cartão magnético comum para débito, saque e consultas, por exemplo, custa R$ 3,00 a cada 30 dias no Banco do Brasil, enquanto que na Caixa custa R$ 9,00 a cada 365 dias, de acordo com dados do BC (valores máximos). Nesse caso, em um ano, o cliente do BB pagaria R$ 36,00 pelo serviço, quatro vezes a mais do que na Caixa.

Só que, por outro lado, o Banco do Brasil não cobra tarifa para abertura de conta, enquanto que a Caixa cobra R$ 15,00, também de acordo com dados do Banco Central. Essas diferenças, que dificultam a escolha da instituição ideal, acontecem porque não existe padronização tarifária no Brasil. Os valores são definidos pelas próprias instituições de acordo com a política de cada uma.
Pela resolução 2.303/96, do Banco Central do Brasil (BCB), os bancos só são obrigados a comunicar ao BCB e a seus clientes a cobrança de nova tarifa e o aumento do valor de tarifa já existente com 30 dias de antecedência. "Os bancos estão ganhando muito e é em função das facilidades que eles têm. O marco regulatório é bastante flexível para essas instituições", destaca o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio Econômicos (Dieese/SP), Murilo Barella.

Apesar das tarifas - incômodas ao bolso dos clientes - já serem muitas, a tendência é aumentarem ainda mais. "A queda de juros daqui pra frente é uma realidade e essa fonte de receita deverá ser paulatinamente substituída pela proveniente de prestação de serviços. Isso significa que os bancos vão continuar enfiando tarifas no consumidor", afirma Barella.

A máxima de que de grão em grão a galinha enche o papo não é em vão e funciona para os bancos. Tanto é que com tarifa daqui, tarifa dali, que isoladamente parecem pequenas, eles vão conseguindo montantes generosos. Atualmente, as tarifas representam cerca de 15% do total das receitas dos bancos, segundo o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira. E quem paga é o consumidor.

Barella também ressalta a importância dessas cobranças nos ganhos dos bancos. Segundo ele, a prestação de serviços - que é composta pelas tarifas cobradas, mais rendimentos de administração de recursos, cartões e operações de crédito e serviços de recebimentos - é a terceira receita das instituições bancárias. "Com essa receita, os bancos pagam todas as despesas de pessoal e ainda sobram cerca de 20% de lucro", afirma.

Os números são surpreendentes e quem paga é o consumidor. De acordo com Murilo, no primeiro semestre desse ano, sete dos principais bancos do país (BB, CEF, Bradesco, Itaú, Unibanco, Nossa Caixa e HSBC) obtiveram R$ 14,8 bilhões de receitas de prestação de serviços, ficando atrás apenas das receitas de operações de crédito (R$ 31 bilhões) e das operações de tesouraria (R$ 23,5 bilhões).

Preços variam até cinco vezes

Mesmo com a cobrança pelos bancos de valores semelhantes para alguns serviços básicos, algumas diferenças são evidentes e significam aumento de despesas para os consumidores. Comparando os valores máximos das tarifas - informadas pelo BC - de nove das principais instituições brasileiras, se descobre preços acima de cinco vezes mais altos em algumas em relação a outras.

A manutenção do cartão magnético comum de débito que custa R$ 9,00 a cada 365 dias na Caixa Econômica Federal, custa R$ 36,00 no Banco do Brasil e no Bradesco e R$ 47,40 no Unibanco. Tirar extrato eletrônico em terminal automático é mais barato no Safra (R$ 0,50) e mais caro no Santander (R$ 3,00). Nas outras instituições, varia de R$ 1,20 a R$ 2,50.

Consumidor não tem como escapar das tarifas

Atenção é fundamental para evitar perdas

Joinville - A utilização dos bancos é praticamente indispensável aos cidadãos. A maioria das transferências de dinheiro são intermediadas por essas instituições, sem que muitas alternativas sejam concedidas aos consumidores. Com essa realidade, os bancos criam tarifas e acabam envolvendo os clientes, que se vêem obrigados a pagar para evitar problemas."O que se verifica é que em certos serviços básicos dos bancos os valores são praticamente os mesmos em todos eles. O que diferencia é a montagem dos pacotes", destaca o economista do Dieese, Murilo Barella.

Segundo ele, as instituições sabem que para o cliente mudar de banco significa começar do zero e que uma conta nova induz dificuldades de crédito no mercado. "Depois de entrar num banco, é difícil sair", ressalta. Um dos exemplos usados por Barella para explicar o processo de envolvimento do consumidor é a parceria das instituições bancárias com as grandes redes varejistas.

Eles disponibilizam todo o sistema de funcionalidade do crédito, conquistam as pessoas a utilizarem e ganham dos dois lados. "Cobram tarifa do usuário e das empresas", destaca. É simples de entender: num financiamento para compra de um carro, por exemplo, o banco cobra o serviço da concessionária e cobra por folha de boleto do consumidor.

Para o consumidor, a saída, segundo ele, é ficar atento, negociar com os bancos e ser duro na negociação. Acompanhar todas as entradas de débito não autorizados e, em caso de o problema não ser solucionado, utilizar o Procon. Se for abrir conta nova, analisar a real necessidade desse serviço. "O consumidor tem que ser firme e buscar informações", destaca. (Marcia Costa)

Aposentado confere tudo

Videira - Conferir cada extrato bancário, as taxas cobradas mensalmente ou no oferecimento de algum serviço é uma forma de controlar possíveis cobranças abusivas por parte das instituições bancárias. O problema é que poucos usuários têm o hábito de fazer essa conferência, que é simples e deve ser confrontada com o pacote contratado junto ao banco. Em qualquer suspeita de abuso, o consumidor pode reclamar aos órgãos de defesa.

O aposentado Osmar Nunes, de Videira, sempre conferiu minuciosamente seus extratos bancários para saber se os valores lançados estão corretos. "Observo todas as taxas cobradas pelo banco, os números e os valores dos cheques e se a CPMF está sendo cobrada da forma certa. Assim, sei se meu saldo está correto ou se houve algum equívoco por parte da agência bancária. É um hábito que tenho desde que abri minha primeira conta corrente.

Preços devem ser conhecidos

Joinville - Saber o que está pagando e qual o valor de cada tarifa é fundamental para controlar a conta e visualizar maneiras de gastar menos. Esse é o primeiro cuidado que os consumidores devem ter, segundo o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira. "Hoje em dia, o cliente paga tudo e precisa saber o que está pagando. Só sabendo os custos é possível racionalizar os gastos", destaca ele.

Outra recomendação importante é definir quais os serviços que mais usa para procurar um pacote oferecido pelo banco que se adapte melhor ao seu perfil. Pagar cada tarifa individualmente custa mais caro para o cliente. "É a mesma coisa que pagar um almoço diariamente. Se você paga cerca de R$ 2,50 por refeição, tira o valor total e reserva para pagar todo dia, é mais econômico do que ir ao banco num dia e pegar R$ 10,00, no outro R$ 30 e depois mais um pouco", avalia.

Conferir os extratos bancários também é fundamental para avaliar o que é e o que não é cobrado. "A pessoa poderá cuidar para usar o menos possível o que tem tarifa e exagerar no uso do que não tem", ressalta Oliveira. Ele recomenda aos consumidores negociarem com os bancos e pleitearem descontos nas tarifas. "Barganhar é válido e importante."

Reclamações estão em alta

Até setembro, número de denúncias contra bancos no Procon cresceu 36,14%

ANDRÉ LÜCKMAN

Florianópolis - O Programa Estadual de Defesa do Consumidor (Procon) registra um aumento de 36,14% nas reclamações contra bancos e outras instituições financeiras. Entre janeiro e setembro de 2005 são 113 registros, contra uma média de 83 reclamações no mesmo período dos últimos cinco anos. O principal motivo para tanta bronca é aquele conhecido calo no pé do setor produtivo brasileiro: os juros abusivos.

O gerente do Procon em Santa Catarina, Azize Dibo Neto, afirma que a maior parte dos problemas ligados a instituições bancárias é resolvida por meio de acordo, e estima um índice de soluções que encosta nos 80%. Mas o sucesso do acordo depende muito da instituição envolvida", ressaltou.

"Um ponto positivo é que já fomos procurados por várias diretorias de bancos, que forneceram canais diretos de comunicação. É uma atitude que facilita os acordos, já que quanto menor o número de processos melhor vai ser para todas as partes", ressaltou.

O cálculo indevido ou ilegal de encargos ou juros, a principal reclamação registrada no Procon, exige cuidados especiais. Cada contrato é único, e tem que ser analisado na sua totalidade. "O cálculo de juros demanda avaliação caso a caso, de acordo com as leis vigentes na data da assinatura do contrato", disse.

Dibo Neto considera ainda que, de maneira geral, a legislação é muito protecionista aos bancos, então os órgãos de defesa do consumidor têm dificuldade em resolver estes impasses. "Aqui utilizamos muito aquela máxima de que quando o consumidor se sente lesado, ele quer resolver o problema, e não acompanhar um processo", exemplificou.

Do outro lado, o problema com maior índice de resolutividade apontado por ele é o de cobranças indevidas. "Em quase todas as situações em que se constata uma cobrança que não devia estar ali o estorno de crédito é dado automaticamente", diz.

Saída

O coordenador do órgão afirmou ainda que não tem dúvidas de que, quando o consumidor se sente lesado de alguma maneira, vale a pena entrar com recurso no Procon. "Às vezes, a pessoa desanima com o tempo que leva, especialmente quando os valores são pequenos, acha que não vale a pena.
 
Mas nós acreditamos que a inércia é sempre pior, e o consumidor deve sim buscar pelos seus direitos", disse. Porém, é bom lembrar que nem sempre o consumidor tem a razão, e que antes de qualquer ação o mérito da reclamação deve ser analisado.

Pesquisa continua sendo a melhor arma de defesa do consumidor

Blumenau - O conselho dos especialistas para quem pensa em abrir uma conta bancária ou já possui uma e quer economizar no custo de manutenção é pesquisar diferentes opções de serviço e comparar preços detalhadamente. Se não fizer isso e optar por um banco qualquer, a pessoa estará aceitando toda e qualquer tarifa ou taxa que a instituição venha a praticar. "Como vivemos em uma democracia e também numa economia de mercado, não há qualquer tipo de impedimento legal para as tarifas que um banco resolva cobrar", alerta o advogado Mauro Dorigatti, especialista em direito do consumidor.

Já quanto à cobrança de juros, ele diz que é comum pedir-se na Justiça o ressarcimento de abusos. Quando fica comprovado que os valores cobrados pelo banco não estão pactuados entre as partes, a instituição pode ser obrigada a devolver a diferença. Foi o que aconteceu com o fiscal Querubim Oliveira Costa Filho, funcionário da Prefeitura de Blumenau. Ao enfrentar em certa ocasião dificuldades orçamentárias, ele recorreu ao cheque especial como alternativa e viu sua dívida crescer assustadoramente. "Nesse tipo de situação você assina qualquer coisa, porque está com a cabeça na guilhotina", ilustra ele.

Depois de procurar Dorigatti para pedir na Justiça a revisão de sua dívida no início do ano passado, conseguiu reduzir a taxa de juros cobrada pelo banco de quase 200% para 88%. Em uma decisão judicial assinada pela juíza Sônia Eunice Odwazny, Costa obteve no último dia 19 uma liminar determinando o cancelamento do registro de seu nome junto ao SPC e Serasa.



 
Referência: febraban.org.br
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