Com tantos índices de inflação, a tendência é que a maioria das pessoas fique
confusa na hora de determinar qual deles é o mais relevante para determinar os
efeitos da alta dos preços no orçamento. Afinal de contas, além da quantidade de
índices diferentes, a inflação medida por eles muitas vezes varia bastante.
Se você não está muito familiarizado com o tema, vale a pena dedicar algum tempo
ao entendimento de como funcionam os índices de inflação, antes de prosseguir.
Atacado ou varejo
Antes de escolher o melhor índice, é preciso entender quais são as principais
diferenças. Para a grande maioria das pessoas, os índices mais adequados são
aqueles que medem a variação dos preços ao consumidor, ou seja, no nível de
varejo. De fato, são estas as variações nos preços que afetam diretamente nosso
bolso.
Dentre os índices de preços ao consumidor, os mais utilizados são o IPCA, que é
usado para balizar as metas de inflação do governo, o INPC, também calculado
pelo IBGE, o IPC da Fipe e o IPC-M e IPC-DI, calculados pela Fundação Getúlio
Vargas.
Já para boa parte das empresas, os índices de preços no atacado, que medem a
inflação no nível do produtor, podem ter maior relevância, pois medem de forma
mais fiel a variação dos preços dos insumos de produção. Os mais utilizados são
o IPA-M e o IPA-DI, calculados pela FGV.
Faixa de renda e região
Outra importante diferença entre os índices, principalmente no que diz respeito
àqueles que medem os preços ao consumidor, é a faixa de renda utilizada.
Enquanto índices como o INPC, por exemplo, focam em faixas mais baixas de renda,
cobrindo a parcela da população que recebe entre um e oito salários mínimos, o
IPCA trabalha com a faixa entre 1 e 40 salários.
Já o IPC da Fipe foca na faixa entre 1 e 20 salários, enquanto o IPC-M e o
IPC-DI consideram a faixa entre 1 e 33 salários. Vale destacar que as diferentes
faixas levam a ponderações diferentes, de forma que os produtos têm peso maior
ou menor no índice, dependendo da faixa salarial escolhida.
Outra importante diferença é a região de coleta dos dados. Enquanto o IPC da
Fipe considera apenas preços colhidos no Município de São Paulo, os demais
índices são nacionais, trabalhando com 11 regiões metropolitanas no caso dos
índices do IBGE e 12 nos índices da FGV.
Usos mais comuns
Em função de suas diferenças metodológicas, estes índices têm sido
tradicionalmente usados para diferentes funções. Por exemplo, o INPC, por
trabalhar com uma faixa entre um e oito salários mínimos, é muito usado para
dissídios salariais, enquanto uso do IPCA tem aumentado, refletindo a decisão do
governo de utilizá-lo como referência para o sistema de metas de inflação.
Índices combinados, ou seja, que são uma combinação de outros índices, como o
IGP-M e o IGP-DI calculados pela FGV, são utilizados para servir de base para a
correção de preços administrados, como tarifas de telefone, eletricidade e
outros serviços. Vale lembrar que estes índices têm um forte componente de
preços no atacado (60%), e participações menores de preços ao consumidor (30%) e
para a construção civil (10%).
Escolha o seu índice
A escolha do melhor índice vai depender de vários fatores, entre eles sua faixa
de renda, onde você mora e a composição de suas despesas. Por exemplo, os
índices ao consumidor são mais recomendados para a grande maioria das pessoas,
mas para aqueles que tem elevadas despesas em dólares, os índices combinados
podem ser uma melhor alternativa.
Se você tem um baixo consumo de produtos importados ou não tem financiamentos em
moeda estrangeira, o IPCA é a melhor opção, o que não acontece caso você tenha
maiores despesas corrigidas pela moeda norte-americana.
Deste modo, o bom senso deve prevalecer, tanto na escolha do índice mais
adequado como na hora de renegociar contratos. Como não existe índice perfeito,
pois nenhum deles reproduz fielmente a composição de suas despesas, a melhor
saída é adotar um grau maior de flexibilidade.