Filhos - Crianças e dinheiro: uma combinação perigosa?
Metade dos brasileiros com idade entre 28 e 60 anos afirma
que aprendeu o hábito de poupar com os pais. A constatação se baseia em
levantamento feito pela Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), que envolveu
1.500 pessoas das classes A, B e C localizadas em seis capitais do País: São
Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Distrito federal e Belo
Horizonte.
O estudo constata também que mais de 80% dos entrevistados pretende passar este
hábito aos seus filhos. E esta parece efetivamente ser a decisão correta, uma
vez que as crianças de hoje precisam, mais do que nunca, de orientação sobre o
uso do dinheiro.
Alvo de propaganda
Pare e reflita: você não acha que seu filho hoje tem mais acesso ao dinheiro do
que você tinha na idade dele? Se, no passado, em geral as crianças levavam
lanche de casa, e deixavam para depois dos 10 anos o hábito de receber dinheiro
dos pais e escolher o que comer na escola, hoje em dia este tipo de situação é
cada vez mais comum, até mesmo entre aqueles que ainda não chegaram ao primário.
Junte-se a isso o fato de que as crianças se transformaram em um dos alvos
preferidos dos anunciantes, que passaram a usar o poder de influência delas
sobre os pais, para desenvolver os mais variados produtos com apelo infantil.
Assim, é possível encontrar desde produtos de higiene até alimentos, sobretudo
congelados, com apelos infantis. Isso sem falar dos produtos voltados
exclusivamente ao "pequeno" público.
"Querer" não significa "precisar"
O grande problema é que, apesar de terem mais dinheiro no bolso e estarem mais
expostas à propaganda, as crianças não conseguem entender a diferença entre
"querer" e "precisar". Esta, aliás, não é uma característica das crianças de
hoje. A diferença reside no fato de que, no passado, elas simplesmente não
participavam das decisões de consumo da família como agora!
Entender esta diferença é um dos primeiros passos da educação financeira de
qualquer pessoa, independente de faixa etária. Mas, entre as crianças, que ainda
não estão familiarizadas com o conceito de trabalho e remuneração, fica ainda
mais difícil impor limites ao "querer".
Exatamente por isso, um dos primeiros passos no sentido de contribuir para a
maior educação financeira dos seus filhos é passar a eles o conceito de que o
dinheiro é um recurso limitado e que, como tal, deve ser usado com moderação.
É inegável que a qualidade de vida atual, mesmo entre as famílias de menor poder
aquisitivo, é muito maior do que a que tivemos enquanto crianças. Computadores,
celulares, DVD e microondas são comodidades que não tínhamos, mas que queremos
assegurar aos nossos filhos.
O objetivo aqui não é defender que as crianças não tenham acesso a estes
produtos, até porque isso significaria isolá-las da realidade atual, mas
simplesmente que tenham consciência de que são produtos caros e não
descartáveis, que exigem planejamento para serem adquiridos. Mais ainda, os pais
não devem se sentir obrigados a realizar todos os sonhos de consumo dos filhos.
Planejamento vem de casa
Sua obrigação é sim, com a formação desta criança. E, para isso, é importante
começar desde cedo a discutir com elas como planejar a realização dos seus
sonhos de consumo. Não é porque seu filho quer um brinquedo no Dia das Crianças,
que estoura o seu orçamento ou o obriga a entrar no limite do cheque especial,
que você deve realizar esta vontade.
Ao invés disso, pode valer a pena estabelecer para ele um limite compatível com
o seu orçamento, ou seja, do que pode mesmo ser gasto. Esta deve ser a
referência dele ao escolher o seu presente. Com isso, aprende a pesquisar preços
e a tomar decisões de como gastar melhor o dinheiro que possui.
Mas a lição não precisa parar aí! Por que não ajudá-lo a planejar a compra do
brinquedo que tanto quer? Você pode até contribuir com uma parte do custo, mas a
criança deve se esforçar, através de "trabalhos" ou "atividades" que vocês podem
concordar, ou simplesmente através da gestão mais eficiente da mesada que
recebe.
Agindo assim, você garante que seu filho, um dia, quando entrevistado, responda
que aprendeu com os pais o hábito de poupar. Não existe presente melhor para o
futuro dele!
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