A atratividade dos cartões de crédito para o público
consumidor é inegável, e isso já se reflete na maior procura pelo mesmo como
meio de pagamento. Dados divulgados pelo Banco Central (BC) ao final de junho
confirmam essa tendência, ao constatar que, pela primeira vez na história do
Brasil, o número de transações envolvendo cartões superou ao de pagamentos
efetuados com cheques.
Em 2004, segundo o BC, os cartões responderam por 37% dos pagamentos efetuados
no país, enquanto os cheques responderam por pouco menos 36% dos pagamentos.
Vale lembrar que em 1999, ou seja, apenas cinco anos antes, os cartões
respondiam por 16% dos pagamentos enquanto os cheques eram usados em 63,5% das
vezes.
Conceder crédito sem orientação é arriscado!
E a tendência deve aumentar, visto que as administradoras de cartão de crédito
já anunciaram intenção de crescer nas classes C, D, E da população. A Visa, por
exemplo, estima que no Brasil uma parcela maior dos seus cartões esteja nas mãos
de pessoas que pertencem às classes C, D e E do que com as classes A e B - o que
parece confirmar o aumento da penetração dos cartões entre a população de menor
poder aquisitivo.
O objetivo não é negar as vantagens dos cartões de crédito, até porque elas são
óbvias, a flexibilidade, o menor custo de transação contribui para a maior
eficiência do sistema financeiro, favorecendo a todos, isso sem falar no fato
que os cartões dão acesso a crédito pré-aprovado para pessoas que, até então,
podiam não ter acesso a esse produto, pois não possuíam sequer conta bancária.
Não se pode esquecer, entretanto, que uma grande parcela dos brasileiros,
sobretudo, nas classes C, D e E, não entende como funcionam os produtos
financeiros e não adota qualquer tipo de planejamento financeiro. Na prática,
isso significa que não conseguem entender ao certo as vantagens e os riscos
associados ao uso do cartão de crédito.
Inadimplência merece atenção
Frente a essa realidade, não se pode ignorar o efeito devastador que o aumento
da oferta de cartões junto à parcela de menor poder aquisitivo da população pode
ter, caso não seja acompanhado por campanhas educacionais, que orientem essa
parcela da população no uso do crédito.
Com juros médios de cerca 10% ao mês, muito acima da média cobrada nos cheques
(8%) ou empréstimos pessoais (5%), os cartões de crédito oferecem flexibilidade,
mas a um custo que poucos podem arcar. Não é de se surpreender, portanto, que a
inadimplência os cartões de crédito esteja em 19%, segundo a Abecs (Associação
Brasileira de Empresas de Cartão de Crédito).
Este valor é muito acima da média do setor financeiro que, segundo o Banco
Central divulgou nesta quarta-feira (27), é de 12,2% nas operações de crédito ao
consumo. Vale lembrar que a taxa média do BC inclui as modalidades que são
acompanhadas pelo BC, o que não inclui as operações com cartão de crédito. A
diferença é ainda mais significativa se considerarmos, por exemplo, a
inadimplência média nas operações de cheque especial (7,8%) e de empréstimo
pessoal (10,2%).
Por que não investir em educação?
Essa é uma situação que exige atenção. Tomar crédito não precisa - como já
discutimos anteriormente, ser uma decisão negativa para as finanças pessoais de
uma pessoa. Porém, como quase tudo quando o assunto é dinheiro, deve-se planejar
a tomada de crédito, o que só é possível com o correto entendimento do produto,
de suas vantagens e riscos.
É por isso que o crescimento do volume de concessões no cartão, sobretudo nas
classes de menor poder aquisitivo, deve ser acompanhado por políticas de
orientação. Cabe às instituições financeiras que atuam no setor, assim como ao
governo, que tem incentivado o crescimento deste tipo de linha junto à população
de baixa renda, organizar campanhas educacionais que orientem a população nessa
decisão. Senão, aquilo que hoje é favorável para a economia, amanhã pode ser
prejudicial.