Ao longo dos últimos dois meses os mortais cotistas foram
sabatinados pelos seus gerentes de bancos sobre a alteração nas regras dos
fundos com a famosa “marcação a mercado” dos títulos de renda fixa. Após anos
fazendo apologia contra a caderneta de poupança e vendendo os fundos DIs e de
renda fixa como substitutos quase que perfeitos – praticamente sem risco – com
uma rentabilidade bem superior, os “especialistas” mudaram seu discurso tentando
convencer seus clientes de que as perdas apresentadas eram contábeis. Seguindo
este raciocínio, o cotista só realizaria a perda se resgatasse suas cotas.
Estes gerentes, para preservar o volume de seus fundos e
instruídos pelos estrategistas dos bancos, afirmam aos clientes que os
“fundamentos” da economia são sólidos, que o Brasil melhorou muito suas contas e
que a dívida do governo é completamente administrável. O que não dá para
entender é que a alteração das regras só afetou o preço porque o “mercado”,
formado por estes mesmos bancos, duvida da capacidade do governo resgatar estes
títulos (pagar sua dívida). Com isto, os títulos emitidos pelo governo são
negociados pelos bancos abaixo (com deságio) do seu valor justo (de face). Cadê
a confiança nos fundamentos?
A incoerência aumenta quando o próprio governo, encurralado com
a onda de saque dos fundos, volta atrás em sua decisão e permite que os títulos
de renda fixa de curto prazo (vencimento até um ano) sejam contabilizados como
antigamente (pela curva, ou seja apropriando diariamente os juros prometidos
para o período).
A partir daqui, pelo menos, os bancos passaram a apresentar uma
postura mais coerente. A maioria dos bancos de varejo divulgou a intenção de
manter a marcação a mercado dos fundos atuais. O que os bancos estão fazendo é
lançando novos fundos com esta nova (ou velha) contabilização. Estes fundos
estão sendo classificados como Fundos de Curto Prazo – muito parecidos com os
Money Markets americanos. A oscilação das cotas destes novos fundos deverá ser
menor, espera-se inclusive que seja sempre positiva. Porém a rentabilidade deve
ser baixa, uma vez que os produtos já disponíveis apresentam taxas de
administração bastante salgadas. O que torna a poupança uma alternativa
atraente.
Sendo assim, é muito importante o investidor fazer algumas
perguntas ao seu gerente antes de aplicar nestes fundos. Vejamos um exemplo de
roteiro.
Qual a “expectativa” de rentabilidade deste fundo em um ano?
R: 19%
Esta rentabilidade é líquida da taxa de administração? Em caso negativo
qual o valor da taxa de administração?
R: Esta expectativa é bruta e a taxa de administração é de 3,5% ao ano.
Qual a alíquota do IR para este tipo de fundo?
R: 20%
Existe outro custo, além da taxa de administração e do IR?
R: Sim, existe a CPMF de 0,38% do valor da aplicação.
Com estas perguntas você pode calcular a rentabilidade final da seguinte
maneira:
Rentabilidade Líquida da Taxa de Administração: 19% -3,5% = 15,5%
Rentabilidade Líquida do IR: 15,5% X (100%-20%) = 12,40%
Rentabilidade Final descontando a CPMF: 12,40% – 0,38% = 12,02%
Compare este valor com a remuneração projetada para a caderneta
de poupança (o seu gerente pode conseguir este valor). Temos que considerar que
a caderneta é isenta de IR e de CPMF. Porém, sua rentabilidade só é creditada no
dia do aniversário. Ou seja, se você sacar antes da data perde a remuneração de
todo o período. Já nos fundos a rentabilidade é apropriada diariamente. Um dado
fundamental e que depende apenas de você, é saber o período que o dinheiro
ficará aplicado. Quanto mais tempo investido na opção errada, maior o prejuízo.