O investimento na bolsa de valores é cercado de mitos, mas também existem
algumas verdades sobre este tipo de aplicação financeira.
Muitos insistem em comparar a bolsa de valores a um cassino. Outros acham que
este é um investimento apenas para quem tem muito dinheiro. Há também aqueles
que acreditam que quem não suporta riscos deve ficar bem longe deste tipo de
aplicação. Mas será que isso tudo é mito ou verdade?
Para esclarecer, consultamos o analista da Leme Investimentos, João Pedro
Brugger, e o sócio-diretor da AZ Investimentos, Ricardo Zeno. Confira:
O longo prazo é um grande aliado da bolsa de valores
Verdade
O sócio da AZ ressalta que investir no longo prazo aumenta e muito as chances de
obter sucesso com os investimentos em renda variável.
“As ações sofrem altas e baixas e oscilam de acordo com o humor do mercado. O
preço dos papéis incorpora movimentos como crises e, se você precisar vender
logo, pode acabar tendo prejuízo”, diz.
Entretanto, quando se compram ações de boas companhias com objetivos de longo
prazo, as chances de lucro são mais elevadas. “Ao longo do tempo, mesmo que
sofram oscilações e quedas no curto prazo, ao longo do tempo, a chance das ações
se valorizarem é maior, porque as empresas tendem a crescer”, afirma Zeno.
De acordo com Brugger, da Leme, a tendência é que a volatilidade do mercado
acionário fique cada vez mais acentuada, fazendo com que o investimento de longo
prazo seja ainda mais interessante. “Com mercado globalizado e o fluxo de
informação mais acessível, os movimentos de curto prazo estão muito mais
bruscos. Assim, quem investe no longo prazo tem mais chance de ter um retorno
positivo”, diz.
Para investir na bolsa é preciso ter muito dinheiro
Mito
Muitas pessoas pensam que para investir na bolsa de valores é preciso ter muito
dinheiro. Mas, de acordo com Zeno, este é mais um mito do mercado de ações. “Em
primeiro lugar, é possível investir quantias muito pequenas, comprando apenas
uma ação”, diz.
Entretanto, ele ressalta que não vale a pena investir valores muito baixos,
por conta das taxas que são cobradas. “Se você investir R$ 100, por exemplo, e
tiver uma taxa de custódia padrão da bolsa, de R$ 6,90, já sairá com um
'rendimento líquido negativo' de 6,9%”, afirma.
Por isso, para valores menores, ele aconselha que o investidor procure por
clubes de investimentos, onde as taxas são diluídas entre todos os
participantes, ou então aplique por meio dos ETFs (Exchange Traded Funds), que
buscam obter o retorno de determinado índice, como o Ibovespa, e possuem taxas
mais baixas.
Antes de investir, é importante conhecer a empresa
Verdade
Para quem pretende investir com foco no longo prazo, conhecer a empresa e
acreditar nos seus fundamentos é essencial, afirma o diretor da AZ. “Você tem
que saber o que está comprando. É importante saber se esta empresa tem boas
perspectivas, se ela tem registrado lucro, se distribui dividendos, uma série de
coisas”, diz.
O analista da Leme tem a mesma opinião. “É fundamental conhecer a empresa em
que se está investindo”, diz. “Para quem se baseia em analise técnica (leitura
de gráficos, para investimentos de curto prazo), este conhecimento não faz tanto
sentindo, mas para quem quer ser sócio da empresa e investir no longo prazo, é
muito importante”, completa.
Segundo Zeno, caso o investidor não tenha tempo ou condições de fazer uma
análise, também pode delegar esta função a terceiros. “Você pode investir por
meio de fundos de ações, onde o gestor é quem é responsável por analisar as
empresas que farão parte do portfólio”, afirma Zeno.
Para investir, é preciso ser um especialista ou ter muito conhecimento
Mito
Para investir em ações não é preciso ser um grande especialista ou ter
conhecimento muito avançado de economia e finanças. De acordo com Zeno, o mais
importante é que o investidor seja bem informado e esteja atento sobre o que
está acontecendo com a empresa em que ele está investindo.
O analista da Leme concorda. “Não precisa ser um grande especialista, mas é
sempre bom ter noções básicas e o mínimo conhecimento sobre a empresa em que se
está investindo”, diz.
Quem investe em ações precisa acompanhar diariamente o mercado
Mito
Se você pensa que, para investir na bolsa, é necessário acompanhar o mercado
de perto todos os dias, está enganado. Isso só é valido para aqueles que operam
no curto ou curtíssimo prazo e precisam estar ligados em todos os movimentos da
bolsa e possíveis fatores que façam as ações subirem ou caírem.
“Se você investe pensando no longo prazo, não interessa se as ações caíram ou
subiram hoje ou amanhã. Isso não vai alterar o seu objetivo futuro, como a
aposentadoria ou o pagamento dos estudos do seu filho”, lembra Zeno.
A bolsa é como um cassino
Mito
Para quem pensa que ganhar ou perder na bolsa é uma questão de sorte, é
melhor mudar este conceito. De acordo com Brugger, a bolsa em nada se parece com
um cassino, já que não é a sorte que define perdas ou ganhos neste mercado.
“Não faz nenhum sentido investir em renda variável baseado apenas na sorte”,
afirma.
Segundo ele, para obter sucesso, é preciso saber analisar a empresa e
escolher os ativos de companhias com mais chance de valorização, pensando no
longo prazo. “Quem faz uma análise e investe com consciência com objetivos de
longo prazo tem muito mais chance de obter sucesso”, afirma.
Quem não suporta correr riscos deve ficar longe da bolsa
Verdade
Se você não pode ver o sinal de negativo ao lado da rentabilidade do seu
investimento que já entra em desespero, a bolsa de valores não é o seu lugar.
Isto porque este é um mercado de renda variável, onde é preciso ter um certo
“sangue frio” para enfrentar as oscilações dos papéis sem perder o sono com
isso.
“O emocional é algo muito importante quando se fala de investimentos. As
pessoas que não conseguem aceitar uma queda das ações podem acabar entrando em
desepero e vendendo na baixa, com prejuízo”, afirma Zeno.
Por isso, ele ressalta que é importante que o investidor conheça o próprio
perfil de risco antes de optar pelo investimento em ações. “Existem diversos
graus de aversão ao risco. Algumas pessoas podem alocar uma grande parte dos
investimentos em ações, outras uma parte menor, enquanto existem aquelas que
simplesmente não investem nada porque não querem correr nenhum risco”, afirma.