Trabalhar como autônomo ou profissional liberal tem suas vantagens, como uma
maior flexibilidade em relação a horários e liberdade para decidir como será
feito o próprio trabalho. Entretanto, também existem pontos negativos, como o
fato de não ter uma renda mensal fixa.
Sem saber exatamente quanto pode ser poupado todos os meses, como ficam as
aplicações financeiras de quem trabalha por conta própria? De acordo com o
educador financeiro e fundador do Centro de Estudos e Formação de Patrimônio
Calil & Calil, Mauro Calil, os investimentos destes profissionais são os mesmos,
o que muda é o planejamento financeiro.
“As opções e os produtos para investir são os mesmos. O mais importante é
definir bem o planejamento das finanças”, afirma Calil. Segundo ele, pelo fato
de não terem certeza de quanto irão receber no final de cada mês, os
profissionais que trabalham como autônomos precisam fazer um planejamento anual
das finanças. “Existem meses em que os ganhos são menores e outros que são
excelentes. Por isso, o importante é fazer uma média para saber quanto se pode
investir do total recebido no ano”, diz.
O planejador financeiro Valter Police Júnior concorda. “O orçamento doméstico
precisa ser pensado de maneira diferente. É importante que este profissional
tenha gastos fixos mais baixos, para evitar problemas nos meses em que seus
ganhos forem menores”, aponta.
Para Mauro Calil, o ideal é que o profissional some o salário de todos os
meses e divida por 12. Desta maneira, terá uma média de quanto recebe por mês e,
dentro deste valor, deve usar a regra de 70% e 30%. “É importante ajustar as
finanças para que todas as despesas possam ser pagas com 70% do salário. Os
outros 30% devem ser utilizados para poupar e investir”, aponta Calil.
Onde investir
Segundo Calil, onde aplicar o dinheiro vai depender dos objetivos e do
perfil de risco do investidor. O educador aconselha que, antes de decidir por
determinada aplicação financeira, sejam feitas três perguntas: Quanto será
investido, por quanto tempo e qual o objetivo do investimento. “Respondendo a
estas perguntas, mesmo sem saber, a pessoa já estará fazendo um planejamento e
conseguirá encontrar um produto adequado”, diz.
Para Police, os profissionais que não possuem um salário fixo mensal devem
privilegiar os investimentos com maior liquidez, já que podem precisar utilizar
o dinheiro em meses que têm menos trabalho. “A própria poupança e o CDB são
produtos interessantes para formar o que chamamos de 'colchão de liquidez'”, diz
Police. “Se você investir em ações, por exemplo, pode ter de vender os papéis na
baixa em caso de emergência”, completa.
Entretanto, para o longo prazo, estes profissionais também devem diversificar
os investimentos e, inclusive, aplicar em ações. “Tudo depende do objetivo e do
prazo do investimento”, aponta o planejador financeiro.
Mauro Calil concorda. “Quem não tem apetite a risco, vai precisar poupar
muito mais para conseguir alcançar o objetivo de longo prazo. Para quem pensa na
aposentadoria, por exemplo, o investimento em ações é recomendado”, afirma.
Um mês compensa o outro
Quem trabalha como autônomo deve estar preparado para os meses em que o
ganhos são menores, até mesmo por questões sazonais. “Os dentistas, por exemplo,
já sabem que dezembro e janeiro costumam ser meses em que o número de consultas
cai bastante. Por isso, é importante se preparar para esses meses” , afirma
Calil.
Segundo o educador financeiro, a melhor maneira de fazer isso é guardando
mais nos meses em que os ganhos são mais expressivos. “Em épocas de vacas
gordas, é importante 'criar gordura' para aos meses de vacas magras”, aponta
Calil.
Ele ressalta que os profissionais liberais também têm alguns gastos que
precisam ser levados em consideração. O dentista, por exemplo, pode precisar
trocar os equipamentos do consultório. O representante comercial precisa trocar
de carro com uma certa regularidade, pois precisa do veículo sempre em boas
condições para trabalha.
Por isso, é importante que estes profissionais separem uma parte dos ganhos
para este tipo de despesa e formem uma poupança prévia. “Os títulos do Tesouro
Direto são atualmente uma das melhores opções para investimentos de até dois
anos. O CDB também tem se mostrado uma aplicação interessante neste momento de
juros altos, mas é preciso negociar a taxa com o banco para que seja pago pelo
menos 98% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), aconselha Calil.
De acordo com ele, para quem não tem nenhuma disciplina para poupar e
investir, o consórcio também pode ser uma alternativa. “Hoje em dia, o consórcio
é muito mais seguro e acessível”, aponta.
Cuidados
Para Calil, as pessoas que trabalham por conta própria precisam tomar
cuidado com dois pontos principais. Em primeiro lugar, ele aponta que os
profissionais liberais sabem que o seu ganho mensal depende da quantidade de
trabalho e por isso, acabam aumentando o número de horas trabalhadas para
atingir algum objetivo financeiro.
“É a questão da invencibilidade. Um médico, por exemplo, que quer trocar de
carro e resolve trabalhar duas horas a mais por dia. Ele acaba não se
preocupando com outros aspectos da vida, como a própria saúde. Essa sensação de
invencibilidade deixa turva a questão financeira”, afirma Calil.
Outro ponto que deve ser observado pelos profissionais liberais é saber
separar a pessoa física da pessoa jurídica. “Depois de três meses de vendas
muito boas, o representante resolve trocar de carro, compra joias para a esposa
e faz programas caros com filhos. O profissional deve ter claramente qual é a
necessidade dele e estabelecer um salário. O resto ele deve economizar e
poupar”, aponta o educador financeiro.