Impostos, as férias de fim de ano, as compras de Natal, material e matrículas
escolares. Todo ano é a mesma coisa: nem bem as pessoas voltam ao ritmo, as
contas já começam a chegar. Nessa hora, o bolso de quem não se planejou sofre. É
aí que surge a tentação de mexer nos investimentos para quitar todos os débitos.
Antes de fazer isso, contudo, o melhor é pensar se, de fato, vale a pena. E a
conta não é simples. Não basta analisar o valor a ser retirado. Mexer nos
recursos das aplicações exige uma análise que leva em conta o orçamento, o tipo
de investimento, a rentabilidade deles e a sua disponibilidade para repor o que
retirou.
Para o educador financeiro e fundador do Centro de Estudos e Formação de
Patrimônio Calil e Calil, Mauro Calil, essa decisão deve levar em conta, também,
as vantagens de se pagar as contas à vista. “Depende do investimento e do
desconto que você terá com o pagamento à vista”, afirma.
Comparar o desconto com o rendimento da aplicação é um ponto essencial, na
avaliação do coordenador do curso de Gestão Financeira da FGV Management,
Ricardo Teixeira. “Para tomar essa decisão, o ideal é que o investidor faça um
planejamento”, ressalta.
Na ponta do lápis
Nesse planejamento, o primeiro passo é olhar atentamente o orçamento. Muitas
vezes, é possível pagar as contas fazendo uma readequação nas finanças, cortando
supérfluos e diminuindo gastos fixos. Um orçamento equilibrado pode impedir que
recursos de investimentos sejam retirados.
Se mesmo com o orçamento em dia não for possível pagar as contas à vista,
então, é hora de colocar no papel os prós e contras de se mexer nas aplicações.
O primeiro passo é comparar o percentual de desconto que se pode ter com esse
pagamento, principalmente no caso de impostos, e a rentabilidade com os
investimentos.
Calil toma o desconto do IPVA (Imposto sobre Propriedades de Veículos
Automotores) como exemplo para a conta que os investidores devem fazer. Para o
pagamento à vista do imposto, os contribuintes paulistas têm desconto de 3%.
Para quem pretende parcelar, é possível fazer o pagamento em três prestações.
“A poupança rende 0,7% ao mês. Em juros simples, em três meses, você tem um
rendimento de 2,1%. Então, nesse caso, retirar da poupança vale a pena porque o
percentual de rendimento é menor que o desconto”, afirma.
Considerando outros tipos de investimento, a conta complica um pouco. “No
caso de renda variável, o ideal é não mexer, a não ser que a aplicação tenha
três anos ou mais”, ressalta o educador. “Se você está em um momento de baixa no
mercado, talvez seja uma alternativa mexer”, aponta Teixeira.
Nesses casos, Calil ressalta que utilizar dividendos e juros sobre capital
próprio pode ser uma alternativa para não retirar recursos das aplicações.
“Nesse caso, o dinheiro não está saindo do seu bolso, mas do caixa da empresa na
qual você investe”, explica.
Juros
Para o professor da FGV, o investidor precisa analisar outra questão antes
de decidir mexer nos investimentos para quitar as contas de início de ano: os
juros. “Ele precisa ver se ele vai pagar juros caso não pague à vista e quanto
de juros ele vai pagar se parcelar o pagamento”, ressalta Teixeira.
Para ele, se nesse pagamento parcelado não incidir juros, talvez seja uma
opção fazer o parcelamento e não mexer nas aplicações. Contudo, se no pagamento
parcelado incidir juros, é bom repensar as contas e tentar mesmo pagar à vista.
Um ponto ressaltado tanto por Calil como por Teixeira é o fato de o
investidor não ter dívidas. “Estamos partindo do princípio de que a pessoa com
investimento não tem juros para pagar, não tem dívidas, só recebe juros”, afirma
Calil.
Dívidas e investimentos não combinam, na avaliação de Teixeira. Se a pessoa
tiver algum recurso na poupança ou alguma outra aplicação, mas têm débitos
atrasados, o ideal é quitá-los primeiro. No caso das contas de início de ano que
começam a chegar, vale a análise da aplicação e do orçamento.
A hora de repor
“E se eu dispus dos recursos da minha aplicação para pagar as contas?”.
“Reponha o mais breve possível”, ressalta Teixeira. Mas, até a hora de repor a
conta não é tão simples. “A utopia do planejador financeiro seria repor com, no
mínimo, os juros da aplicação. Dificilmente isso acontece, mas seria o correto”,
diz Calil.
Mesmo quem utilizou os dividendos ou os juros sobre capital próprio de
aplicações de renda variável, o educador sugere a reposição. “Nesse caso, não
precisa repor de uma vez, mas reponha”, afirma.
Para o professor da FGV, a decisão de mexer nos investimentos depende da
situação de cada um. Contudo, ele reforça a necessidade de fazer um
planejamento. “O mais importante, é se planejar bem para saber se a decisão
caberá no orçamento, com realismo”, completa Teixeira.