Em ambientes corporativos, profissionais competitivos geralmente conseguem se
sobressair aos demais. Contudo, uma característica que, no mercado de trabalho
atual, é considerada positiva pode se transformar em negativa se forem
ultrapassados certos limites. Esses limites, segundo especialistas ouvidos pelo
InfoMoney, esbarram principalmente na ética de cada profissão.
Nem todo profissional considerado competitivo possui essa característica de
maneira saudável. Para o vice-presidente da De Bernt Entschev, Bernardo Entschev,
a competitividade saudável respeita o desenvolvimento de todos que atuam em
torno desse profissional competitivo. “Quando essa competitividade começa a
prejudicar a equipe, não é interessante para a empresa, porque a equipe acaba
sendo desmantelada”, afirma.
A competitividade extrema e prejudicial é aquela que leva o profissional a
“puxar o tapete” de seus colegas, a fim de se destacar. “É a competitividade
pela competitividade pura e simples”, considera a consultora de Recursos Humanos
do Grupo Soma Desenvolvimento Corporativo, Juliana Saldanha. “Essa
característica é saudável quando ela se alinha com o objetivo da empresa, se
tornando um meio para elevar a produtividade”, acredita.
Para ela, um profissional competitivo que não ultrapassa os limites de seu cargo
e profissão não enfrenta grandes problemas, por ter essa característica. Ao
contrário: ele só ajuda a equipe a buscar por respostas mais rápidas e
criativas. “A competitividade saudável melhora os resultados”, diz.
O competitivo
Embora seja clara a questão de existir uma competitividade prejudicial e uma
saudável, nem todo mundo que busca resultados no ambiente de trabalho pode ser
considerado competitivo. Para a psicóloga e psicoterapeuta Clarice Barbosa, o
competitivo é persistente e gosta de desafios – características essenciais para
lidar com o mercado que é igualmente competitivo.
Onde está o problema, então? No jogo de cintura desses profissionais. “Vivemos
em uma sociedade competitiva. E muitos foram estimulados a competir desde
pequenos. Aqueles que foram ensinados a competir olhando para o resultado final
costumam desenvolver medo de serem rejeitados quando não conseguem vencer”,
explica a especialista. “Eles se tornam competitivos, mas não sabem lidar com as
frustrações”, completa Clarice.
Nessa facilidade ou não de lidar com os erros e acertos é que se encontra a raiz
da competitividade saudável e da prejudicial. Aquele profissional que só visa à
vitória, fará de tudo para que isso ocorra, ainda que alguém saia ferido no meio
do caminho. “Ele perde a noção dos limites e os ultrapassa”, diz a psicóloga.
Para Juliana, do Grupo Soma, é aí que a competitividade que poderia ajudar o
profissional acaba atrapalhando. “Ele perde o foco e passa a agir pensando nele
mesmo”.
E nem só o ambiente onde são criados tornam os profissionais cada vez mais
competitivos. Para a consultora, as empresas estimulam essa competitividade.
“Muitos profissionais têm remuneração variável. Isso já estimula essa
característica”, reforça Juliana.
“Os competitivos são focados em resultado, são pessoas que verbalizam que vão
lidar pelas metas”, reforça Entschev. “A regra do mercado é trazer resultado,
por isso, esse mercado estimula cada vez mais essa competitividade”, afirma.
Esse foco do mercado, aliado às elevações de nível cada vez mais rápidas, tem
grande parcela de culpa na formação de profissionais competitivos ao extremo.
Estabelecendo limites
Não tem jeito, a competitividade é parte de nossa essência e, se não for,
acabamos desenvolvendo essa característica ao longo do tempo. Por isso, é melhor
mesmo concentrarmos essa energia de modo positivo tanto para o desenvolvimento
profissional como pessoal. Para Entschev, existe um limite que deve ser imposto
pela empresa.
“O profissional competitivo tem planejamento de carreira orientado para os
resultados e tem os seus objetivos alinhados com os da empresa. É um
profissional que tem visão de longo prazo, é automotivado e busca o
autodesenvolvimento”, lembra Juliana. Por isso, é preciso que ele desenvolva
essa característica sempre de olho nos limites da empresa e na sua ética
profissional.
Clarice, por sua vez, lembra que, por trás da competitividade, existe uma
vontade de crescer e isso é positivo. Por isso, ela não fala em limites e sim em
“filtros”. “Esse filtro é a pessoa se perguntar se ela está indo além dos seus
limites. O profissional precisa resgatar sua ética profissional”. Entschev
reforça: “o excesso de competitividade não é atraente para o mercado”.