As características que formam o profissional desejável pelas organizações
modernas acompanham de tal forma as céleres mudanças do mercado de trabalho, que
muitos profissionais veem-se totalmente desorientados em suas escolhas.
Perguntas como "Em que direção olhar?"; "Em que área especializar-se?"; "Em que
lugar locar-se?"; "Como manter-se atualizado para garantir a empregabilidade?",
entre outras do gênero, são frequentes nos círculos educacionais e
organizacionais.
As decisões pessoais e profissionais tornam-se cada vez mais difíceis e
dolorosas diante de tanta oscilação, instabilidade e turbulência no mundo
empresarial. Não existe mais ato isolado; a parte atinge o todo e o todo atinge
as partes, por mais distantes que estejam.
Depois da crise no sistema financeiro, iniciada nos EUA e irradiada até os
confins da Terra, ninguém mais duvida disto. O mundo realmente virou uma
"aldeia" global, com conexões diretas.
Diante desta nova realidade penso em Recursos Humanos como um instrumento
indispensável na adaptação necessária tanto das organizações como dos
colaboradores aos novos modelos desenhados pelos tempos modernos. E, para isto,
é necessário que o próprio RH passe por mudanças essenciais.
Primeiro: deixando de ser um agente burocrático para se tornar estratégico.
Segundo: assumindo posturas decisórias dentro das organizações, deixando de ser
mero coadjuvante. E terceiro: flexibilizando suas políticas de acordo com as
diversas situações de enfrentamento, pois o engessamento estrutural não cabe
mais nesta realidade dinâmica, onde não basta apenas conservar, tem que criar
para conquistar. A partir destas mudanças e outras necessárias, RH torna-se um
poderoso instrumento na orientação e reorganização em matéria de gestão.
Tentando trazer luz aos profissionais que enfrentam situações semelhantes -
com dúvidas de como construir ou redefinir um perfil desejável, que atenda às
necessidades do mercado de trabalho atual - não é prudente nenhuma ação radical,
extremista, mudanças de polos e revoluções, os famosos "chutes no balde", e sim
a utilização da sensibilidade para discernir os cenários contemporâneos.
A sensibilidade não advém somente do tato, mas, utiliza-se de todos os
sentidos da percepção, incluindo a capacidade de observação. Para aclarar esta
ideia, servimo-nos do exemplo da coruja. Considerada como o símbolo da
filosofia, por sua capacidade de girar o pescoço a 180 graus, o que equivale a
uma visão de 360 graus, sem precisar movimentar o corpo ou fazer qualquer tipo
de esforço, alcançando assim, uma visão total em seus entornos.
O profissional deve estar atento a tudo o que acontece em sua volta, não pode
ser alguém com cabresto, que só enxerga o que está à sua frente ou apavorado,
que provoca tempestades em cada mudança de cenário. O ambiente que circunda as
organizações está assumindo formas e dimensões diferentes em todos os sentidos e
com uma rapidez inimaginável. É preciso estar atento a estas novas mudanças e
novos rumos de forma analítica, porém, com serenidade. O mundo não está
acabando, está apenas mudando.
Além da sensibilidade para observar os giros do planeta, a flexibilidade é
outra exigência fundamental, que complementa o perfil desejável ao profissional
no atual momento histórico. O modelo organizacional tradicional foi estruturado
dentro de padrões de relativa estabilidade e permanência, inspirado no início do
Século XX para as condições da Era Industrial, onde as organizações eram feitas
para durar para sempre, como se fossem prontas, perfeitas e acabadas, não
necessitando de melhorias ou ajustes com o passar dos tempos.
Isso automaticamente refletia no perfil desenvolvido pelos colaboradores, que
eram fotocópias das organizações, que tinham seus cargos definidos, atribuições
estritamente delimitadas, especialidades, regras estabelecidas, departamentos
funcionais, hierarquia formal, cadeia de comando e assim por diante. Na
realidade, um modelo estático e conservador, onde não se previa qualquer mudança
ou flexibilidade.
Ao contrário do passado, a flexibilidade hoje exigida é caracterizada pela
substituição das estruturas e comportamentos engessados, básicos na cultura
organizacional mecanicista. É a abertura para: o novo; o dinamismo; a
auto-educação; as decisões descentralizadas; o trabalho em equipe; o diálogo; a
transparência e a comunicação; a criatividade e a inovação; revisões constantes
dos paradigmas adotados; a agilidade e a rapidez sem perda de qualidade; o
respeito ao cliente e ao meio ambiente; o pensar reflexivo; a valorização das
relações horizontais; e a multifuncionalidade.
A sensibilidade e a flexibilidade darão ao profissional a praticidade de
ações necessárias no enfrentamento dos desafios gerados pelas novas culturas
administrativas, impostas à nossa geração. Não existe mágica, nem receita pronta
para o sucesso profissional.
O que existe são tendências, que se bem observadas e corretamente
processadas, podem se tornar importantes aliadas para um alinhamento entre as
características das empresas modernas e o perfil desejável dos colaboradores.
Imperativo torna-se, aprender através do legado das experiências pessoais e
coletivas a capacidade contínua de se adaptar e mudar constantemente para se
construir um perfil desejável às organizações contemporâneas.