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Investimentos / Fundos - Empresas divulgam resultados: como investidor, o que devo olhar? 

Data: 04/04/2011

 
 

Empresas de capital aberto são obrigadas a divulgar seus resultados periodicamente, com o intuito de informar investidores e reguladores sobre sua saúde financeira e econômica. Mas os dados podem parecer um tanto confusos, principalmente para quem é novo no mercado acionário. O que o investidor deve olhar e quais as ressalvas que se deve fazer aos dados que estão ali expostos?

Antes mesmo de responder a esta pergunta, é bom distinguir as informações divulgadas ao mercado. Nas demonstrações financeiras, o investidor terá uma série de relatórios que categorizam e quantificam as principais contas da companhia. Dentre as mais usadas, estão o balanço patrimonial e a demonstração dos resultados.

No balanço patrimonial, detalham-se ativos, passivos e o patrimônio de uma empresa. Em termos de unidade monetária, ele mostra o que a empresa possui (ativos), o quanto deve (passivos), o quanto seus acionistas já investiram na empresa (capital) e o quanto ganhou ou perdeu desde sua abertura (reserva de resultados). O balanço apresenta estas informações em uma determinada data, como último dia de um trimestre, semestre ou ano.

No demonstrativo de resultados, por sua vez, detalham-se receitas e despesas de uma empresa. Em termos de unidades monetárias, ele mostra o que a empresa recebe, o quanto gasta e o resultado de suas operações. Ele apresenta estas informações em um determinado intervalo de tempo, sendo que as empresas listadas são obrigadas a publicar demonstrativos trimestrais e anuais.

O que olhar?
De acordo com o economista chefe da corretora Souza Barros, Clodoir Vieira, o que o investidor deve olhar é o lucro líquido da companhia, se tem sido constante ou se tem crescido. Mas não se deixe enganar por informações tão positivas. “Nesse momento, primeiro o investidor tem de ver a origem da melhora do resultado da empresa. Às vezes, foi algo extraordinário”, explicou.

Esses dados fazem mais sentido se comparados com o setor. Confira se as vendas da empresa crescem ou caem e o que está acontecendo com as companhias que atuam no mesmo setor.

Vieira indica também que os investidores analisem se estão aumentando as despesas administrativas da companhia, se o crescimento está sendo maior até mesmo do que o da própria empresa. “Em 2008, tiveram empresas que aumentaram as despesas com vendas, mas que não apresentaram melhora nos resultados”, exemplificou, dizendo que isso não é nada positivo e que o aplicador deve analisar se é apenas uma readequação operacional ou algo que persiste.

As dívidas
O estrategista da TCX, Edgar Tamaki, também disse que o investidor deve analisar a evolução da receita, mas que ele não deve deixar de lado a estrutura e o controle de custos da companhia. “A empresa mantém um padrão? Houve aumento exagerado de custos? Se sim, então pode ser um sinal de uma administração que não tem muito controle”, afirmou.

Outro aspecto interessante é olhar as despesas financeiras, ainda mais em um cenário da taxa básica de juro em alta. Empresas muito endividadas no curto prazo podem ter uma despesa alta por conta da elevação da Selic.

De forma geral, Tamaki afirmou que os resultados devem se tornar uma base para o investidor saber se a empresa na qual ele investe é realmente boa ou não, se deve estar no portfólio dele. A decisão sobre compra ou venda de mais papéis em determinada hora, por sua vez, deve ser tomada baseada no acompanhamento que o acionista faz do mercado.

Segundo o educador financeiro - e fundador do Centro de Estudos e Formação de Patrimônio Calil & Calil - Mauro Calil, o balanço patrimonial e o demonstrativo de resultados servem para acompanhar a saúde financeira e econômica da empresa. Entre os itens a serem analisados pelo investidor, ele cita o Ebitda (sigla que vem do inglês "Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization), além do lucro final. “É daí que sai o dividendo”, reforçou.

Para ele, o investidor que tem dúvidas quanto aos resultados pode acompanhar as reuniões públicas das companhias para começar a ter maior facilidade em lidar com os termos técnicos.

Periodicidade x atitude
As divulgações de resultados ocorrem em diversas periodicidades, desde trimestralmente a até anualmente. Segundo Vieira, os relatórios trimestrais são uma forma de ir orientando o investidor sobre os rumos da empresa. “Os trimestrais são um parâmetro. Se o planejamento é de longo prazo, pegue o anual”, ressaltou.

Tamaki concorda que o investidor nunca deve olhar para a divulgação de resultados separadamente, sendo que deve-se comparar as informações com aquelas que foram divulgadas no mesmo período do ano anterior, para ter uma noção de evolução em termos de despesas e receitas.

“Por exemplo, a Saraiva é forte no começo do ano, porque vende livros e materiais escolares. Para eliminar a sazonalidade, tem de comparar os primeiros trimestres dos anos. Assim, o investidor tem uma noção de como foram as vendas”, ressaltou Tamaki. Mas, de acordo com ele, não se pode esquecer que existem mudanças na economia de ano para ano. “Em 2009, a economia estava ´bombando`, em 2010 ela estava menos aquecida e, em 2011, vai aquecer menos ainda”.

De acordo com Calil, ainda é interessante somar os últimos quatro trimestres e comparar com o período imediatamente anterior, para analisar se a companhia está em crescimento e, principalmente, se ela está entregando o que promete. “O mercado gosta de empresas sem surpresas, sejam negativas ou positivas demais, que podem gerar questionamentos”, disse.

Ele afirmou que dois trimestres seguidos de resultado negativo já são um motivo para acender o sinal vermelho, mesmo se o investidor tem uma visão de longo prazo. “Visão de longo prazo não é teimosia. Se a empresa segue aos seus propósitos, legal. Se não, tchau e até logo!”, afirmou.



 
Referência: InfoMoney
Autor: Flávia Furlan Nunes
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