Investimentos / Fundos - Empresas divulgam resultados: como investidor, o que devo olhar?
Empresas de capital aberto são obrigadas a divulgar seus resultados
periodicamente, com o intuito de informar investidores e reguladores sobre sua
saúde financeira e econômica. Mas os dados podem parecer um tanto confusos,
principalmente para quem é novo no mercado acionário. O que o investidor deve
olhar e quais as ressalvas que se deve fazer aos dados que estão ali expostos?
Antes mesmo de responder a esta pergunta, é bom distinguir as informações
divulgadas ao mercado. Nas demonstrações financeiras, o investidor terá uma
série de relatórios que categorizam e quantificam as principais contas da
companhia. Dentre as mais usadas, estão o balanço patrimonial e a demonstração
dos resultados.
No balanço patrimonial, detalham-se ativos, passivos e o patrimônio de uma
empresa. Em termos de unidade monetária, ele mostra o que a empresa possui
(ativos), o quanto deve (passivos), o quanto seus acionistas já investiram na
empresa (capital) e o quanto ganhou ou perdeu desde sua abertura (reserva de
resultados). O balanço apresenta estas informações em uma determinada data, como
último dia de um trimestre, semestre ou ano.
No demonstrativo de resultados, por sua vez, detalham-se receitas e despesas de
uma empresa. Em termos de unidades monetárias, ele mostra o que a empresa
recebe, o quanto gasta e o resultado de suas operações. Ele apresenta estas
informações em um determinado intervalo de tempo, sendo que as empresas listadas
são obrigadas a publicar demonstrativos trimestrais e anuais.
O que olhar?
De acordo com o economista chefe da corretora Souza Barros, Clodoir Vieira,
o que o investidor deve olhar é o lucro líquido da companhia, se tem sido
constante ou se tem crescido. Mas não se deixe enganar por informações tão
positivas. “Nesse momento, primeiro o investidor tem de ver a origem da melhora
do resultado da empresa. Às vezes, foi algo extraordinário”, explicou.
Esses dados fazem mais sentido se comparados com o setor. Confira se as vendas
da empresa crescem ou caem e o que está acontecendo com as companhias que atuam
no mesmo setor.
Vieira indica também que os investidores analisem se estão aumentando as
despesas administrativas da companhia, se o crescimento está sendo maior até
mesmo do que o da própria empresa. “Em 2008, tiveram empresas que aumentaram as
despesas com vendas, mas que não apresentaram melhora nos resultados”,
exemplificou, dizendo que isso não é nada positivo e que o aplicador deve
analisar se é apenas uma readequação operacional ou algo que persiste.
As dívidas
O estrategista da TCX, Edgar Tamaki, também disse que o investidor deve
analisar a evolução da receita, mas que ele não deve deixar de lado a estrutura
e o controle de custos da companhia. “A empresa mantém um padrão? Houve aumento
exagerado de custos? Se sim, então pode ser um sinal de uma administração que
não tem muito controle”, afirmou.
Outro aspecto interessante é olhar as despesas financeiras, ainda mais em um
cenário da taxa básica de juro em alta. Empresas muito endividadas no curto
prazo podem ter uma despesa alta por conta da elevação da Selic.
De forma geral, Tamaki afirmou que os resultados devem se tornar uma base para o
investidor saber se a empresa na qual ele investe é realmente boa ou não, se
deve estar no portfólio dele. A decisão sobre compra ou venda de mais papéis em
determinada hora, por sua vez, deve ser tomada baseada no acompanhamento que o
acionista faz do mercado.
Segundo o educador financeiro - e fundador do Centro de Estudos e Formação de
Patrimônio Calil & Calil - Mauro Calil, o balanço patrimonial e o demonstrativo
de resultados servem para acompanhar a saúde financeira e econômica da empresa.
Entre os itens a serem analisados pelo investidor, ele cita o Ebitda (sigla que
vem do inglês "Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization),
além do lucro final. “É daí que sai o dividendo”, reforçou.
Para ele, o investidor que tem dúvidas quanto aos resultados pode acompanhar as
reuniões públicas das companhias para começar a ter maior facilidade em lidar
com os termos técnicos.
Periodicidade x atitude
As divulgações de resultados ocorrem em diversas periodicidades, desde
trimestralmente a até anualmente. Segundo Vieira, os relatórios trimestrais são
uma forma de ir orientando o investidor sobre os rumos da empresa. “Os
trimestrais são um parâmetro. Se o planejamento é de longo prazo, pegue o
anual”, ressaltou.
Tamaki concorda que o investidor nunca deve olhar para a divulgação de
resultados separadamente, sendo que deve-se comparar as informações com aquelas
que foram divulgadas no mesmo período do ano anterior, para ter uma noção de
evolução em termos de despesas e receitas.
“Por exemplo, a Saraiva é forte no começo do ano, porque vende livros e
materiais escolares. Para eliminar a sazonalidade, tem de comparar os primeiros
trimestres dos anos. Assim, o investidor tem uma noção de como foram as vendas”,
ressaltou Tamaki. Mas, de acordo com ele, não se pode esquecer que existem
mudanças na economia de ano para ano. “Em 2009, a economia estava ´bombando`, em
2010 ela estava menos aquecida e, em 2011, vai aquecer menos ainda”.
De acordo com Calil, ainda é interessante somar os últimos quatro trimestres e
comparar com o período imediatamente anterior, para analisar se a companhia está
em crescimento e, principalmente, se ela está entregando o que promete. “O
mercado gosta de empresas sem surpresas, sejam negativas ou positivas demais,
que podem gerar questionamentos”, disse.
Ele afirmou que dois trimestres seguidos de resultado negativo já são um motivo
para acender o sinal vermelho, mesmo se o investidor tem uma visão de longo
prazo. “Visão de longo prazo não é teimosia. Se a empresa segue aos seus
propósitos, legal. Se não, tchau e até logo!”, afirmou.
Referência:
InfoMoney
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Autor:
Flávia Furlan Nunes
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