Análise técnica (ações) - Mitos, vantagens e umas boas verdades sobre as operações de day trade
O fascínio pela independência financeira e ganhos rápidos com títulos de
renda variável vem atraindo cada vez mais pessoas físicas ao mercado de ações. O
salto da categoria na BM&F Bovespa prova o fato: em 2002, o número dos
investidores pessoa física na bolsa paulista era de 85,2 mil; já em novembro de
2010, eram mais de 614 mil, segundo dados da bolsa.
O incremento, em grande parte subsidiado pelo avanço do Home Broker, popularizou
a figura do trader, investidor que dedica parte do seu tempo observando o
movimento diário do mercado, a fim de captar boas oportunidades de compra ou
venda.
Dentro desta categoria estão os positions (focados em investimentos de longo
prazo), swing traders (focados em investimento de curto prazo) e day traders,
estes em busca de operações de curtíssimo prazo. E essa diferença de maturação
do investimento reflete diretamente na periodicidade dos gráficos utilizados por
cada um.
Fazendo uma ligação com a análise técnica, os positions utilizariam os gráficos
semanais e mensais, mas, com grande frequência, esses investidores se baseiam na
análise fundamentalista da empresa.
A segunda leva de investidores exploram mais os gráficos diários, atrás de
fundos e topos importantes, com o intuito de capturar tendências terciárias. Já
os day traders são mais agressivos, dedicando seu tempo à volatilidade do
mercado, auxiliados por gráficos entre a escala de 1 a 15 minutos no máximo, em
caso de papéis com boa liquidez.
Requisitos de um day trader
Na visão de Rafael Pacheco, sócio da XTH Educação Financeira, para operar
day trade o investidor deve ter muito conhecimento técnico e experiência no
mercado, tendo em vista que são operações rápidas e com alto grau de
alavancagem, fato que potencializa o risco de perda, como também de ganho.
Além de disciplina e planejamento, indispensável em qualquer operação no
mercado, Pacheco lista mais alguns requisitos importantes para o day trader:
Tempo para se dedicar ao mercado;
Bom volume de capital disponível;
Bom desempenho emocional sob pressão;
Bom controle de risco.
“A questão tempo é fundamental no day trade”, afirma o sócio da XTH. “Operar no
seu trabalho, enquanto dá conta de suas atividades, suscetível a interrupções
frequentes, não é uma boa ideia”, ressalta. Para ser bem sucedido, é necessário
reservar um período do dia para operar, geralmente na abertura do pregão.
Em um day trade, é necessário supor que o operador conseguirá variações na ordem
de 1% a 2%, tendo em vista os custos implícitos na operação e a possibilidade de
alavancagem sem juros concedida pelas corretoras, o que potencializa o ganho.
Daí a necessidade do bom controle de risco.
Para Pacheco, a relação "lucro x custo" começa a ficar favorável quando o
montante a ser operado ultrapassa os R$ 20 mil. Caso ao contrário, “simplesmente
não vale a pena o esforço” - com exceção aos trades iniciais, quando o trader
está aprendendo a “operar pequeno” a fim de ganhar experiência. Os simuladores
são uma boa ferramenta também, mas a tendência de abandonar a carteira é muito
grande, uma vez que o dinheiro utilizado é fictício.
Os mitos do day trade
Antes de iniciar as operações de day trade, muitos investidores vão aos
fóruns para colher mais informações sobre a modalidade de operação e geralmente
encontram inúmeras opiniões, tanto a favor como contra o day trade.
Pela incongruência das informações, foram criados muitos mitos em torno desse
tipo de operação, estes desmistificados por Leandro Martins, analista e
professor do Seu Consultor Financeiro.
Um destes mitos é que operações de day trade são lucrativas apenas para a
corretora, tendo em vista o fluxo de compra e venda diário. Na visão de Martins,
aqueles investidores que operarem sem disciplina e sem um ótimo conhecimento do
instrumental de análise técnica certamente irão conviver com essa realidade.
Muitos dizem que o day trade é uma operação estressante, pois é preciso ficar
várias horas à frente do computador e, necessariamente, operando o dia todo. “Na
verdade, a forma mais recomendada de operar day trade é utilizando uma boa
técnica metodológica, onde se pretende operar poucas vezes, acompanhando a
volatilidade ocorrida durante o pregão”, ressalta o analista, que completa:
“Esta volatilidade é conseguida, na maioria das vezes, nas primeiras duas horas
de pregão”.
Outro mito muito comum, também recorrente entre os swing traders, é que só se
consegue ganhar na alta. Segundo Martins, o day trader pode operar vendido sem
custos adicionais, podendo até casar a operação com opções. No caso do swing
trade, o aluguel de ações é uma ferramenta extremamente útil para operações na
ponta vendedora, com atenção às taxas cobradas pela corretora.
Vantagens do day trade
A possibilidade de alavancagem sem juros e a relativa independência em
relação à tendência primária e secundária do mercado são algumas vantagens do
day trade, avalia o professor do Seu Consultor Financeiro, além da possibilidade
de “dormir tranquilo”, pois um day trader nunca encerra o dia posicionado.
Outro ponto importante é o risco da operação, que relativamente é menos
arriscada em relação aos investimentos de periodicidade maior, pois nas
variações diárias há o risco da ocorrência de gaps, além do stop do day trade
ser mais curto, pondera Martins.
Do mesmo jeito que potencializa os ganhos, a alavancagem pode ser maléfica para
o investidor menos experiente, enfatiza o analista, ao passo que recomenda este
tipo de artifício àqueles operadores com ampla convivência com os gráficos e
prática no mercado.
Martins também enfatiza sobre como interpretar o instrumental da análise técnica
em operações de day trade, uma vez que a lógica por trás da operação é
totalmente diferente ao recomendado em operações de swing trade, além da
mensuração do retorno, que deve ser calculado sempre pela relação risco x
retorno, uma vez que o objetivo da operação é aproveitar a volatilidade do
mercado.
Ferramentas gráficas para o day trade
Ao iniciar uma operação, o day trader primeiramente precisa selecionar bem
os seus papéis, preferencialmente em ordem de liquidez, já que utilizará
gráficos com candles de minutos. Feita a escolha, é recomendado ter uma carteira
para operações de day trade com poucos papéis e operar com no máximo dois ativos
ao mesmo tempo, a fim de otimizar o trade e não se confundir, pois day trade
requer muita concentração.
Leandro Martins sugere focar as operações em papéis de ampla liquidez, como
Petrobras e Vale, uma vez que abre a possibilidade de operar na periodicidade de
1 minuto, “onde apresenta melhores sinais, com a necessidade de alguns filtros
para retirar falsos sinais nas indicações”, ressalta.
Um dos pontos mais interessantes de se operar são os preenchimentos de gap
intradiários, afirma Martins, sempre atento aos candlesticks de reversão (Doji e
Martelos), números do ponto pivô, padrões gráficos (bandeira, canal...), figuras
de reversão, cruzamento de médias móveis, fugas das Bandas de Bollinger. Enfim,
o trader deve criar e adaptar seu próprio setup para operar com maior
eficiência. Nesta missão, o backtest pode ser uma boa alternativa.
Referência:
InfoMoney
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Autor:
Rafael de Souza Ribeiro
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