Classificar o perfil de risco dos motoristas para estabelecer o preço do
seguro do carro através do "score bancário" já é uma prática adotada pelas
seguradoras e que divide os profissionais ligados ao setor.
Essa análise se baseia nos dados bancários do cliente, se ele possui dívidas,
quais os valores e como é o seu perfil de crédito no banco.
O presidente do Clube dos Corretores de Seguros do Grande ABC, Marcelino
Odlevati, explica que este tipo de classificação é utilizada devido aos dados
estatísticos das próprias seguradoras. “Os números mostram que aqueles que
possuem maior endividamento são responsáveis pelo maior número de sinistros”,
aponta.
Má-fé e falta de manutenção
De acordo com o profissional, isso acontece, em primeiro lugar, por má-fé de
alguns segurados. “Tem aquelas pessoas que dão um 'jeitinho' de fazer um
sinistro no carro para receber o valor do seguro”, diz.
Em segundo lugar, segundo Odlevati, os números mostram que as pessoas com mais
dívidas e que passam por mais dificuldades financeiras costumam investir menos
na manutenção do veículo. “Muitos acidentes acontecem porque o motorista não fez
as revisões ou os reparos necessários”, afirma.
O presidente do Sincor – SP (Sindicato dos Corretores de Seguros do estado de
São Paulo), Mário Sérgio de Almeida Santos, diz que essas estatísticas não são
divulgadas e que apenas as seguradoras têm acesso aos números.
“As seguradoras realmente alegam que existem pesquisas e que aquelas pessoas que
estão mais endividadas costumam se envolver em maior número de sinistros, mas
elas não divulgam isso para nós [corretores]”, diz.
Além disso, o profissional diz que esse tipo de análise pode ser encarada como
uma forma de discriminação. “Na minha opinião, não é só porque um cliente possui
dívidas que ele tem mais risco de usar o seguro. Tem casos de pessoas que
passaram por toda análise de risco e apenas porque tinham alguma dívida a
seguradora negou”, diz.
Substituição
Para Odlevati, existe uma tendência de que a utilização do “score” substitua
até mesmo as outras análises de perfil de risco do condutor, como a
classificação por sexo, idade e outros dados. Já o presidente do Sincor
discorda.
“Até concordo que o score seja utilizado como um complemento, como uma análise
financeira. Mas ele não substitui os outros questionamentos. Ele não diz onde
você estaciona o carro, qual a idade do motorista, nada disso”, afirma.
Mais barato para mulheres
Recentemente, uma decisão da corte de Justiça europeia determinou que as
empresas de seguros devem cobrar taxas iguais de homens e mulheres, o que coloca
um fim à cobrança de valores mais baixos para motoristas do sexo feminino.
A decisão foi tomada com base na alegação de um grupo belga de defesa do
consumidor de que a cobrança de um valor maior para os homens fere o princípio
de igualdade de gênero.
Mas, para os profissionais, isso não deve acontecer por aqui. "O setor de
seguros brasileiro é bastante maduro e essa diferença de preços entre motoristas
do sexo masculino e feminino é uma maneira justa de tarifar o serviço, de acordo
com o perfil de risco de cada motorista", diz Odlevati.
Para Santos, existe uma diferença grande de cultura entre o Brasil e os países
da Europa."Não achamos que isso possa ser adotado aqui por enquanto", afirma.