Finanças pessoais - Quer sair da casa dos pais? Veja o que levar em consideração
Não ter hora para chegar em casa, não precisar dar satisfações a ninguém
sobre para onde e com quem vai, ficar mais perto do trabalho, da faculdade e dos
amigos. Quando pensam em sair da casa dos pais, os jovens, geralmente,
consideram apenas as vantagens. E esquecem um detalhe importante: conseguir a
independência também envolve a independência financeira.
Na verdade, o orçamento próprio representa 90% do que chamam de independência.
Os outros 10% envolvem questões mais comportamentais e até psicológicas, mas que
não são determinantes para uma vida a ser levada por conta própria. Morar
sozinho ou com amigos sem ter nenhum tipo de responsabilidade financeira não
requer nenhuma análise financeira sua. Mas se você pensa em sair da casa dos
pais sem depender deles, é preciso olhar para o seu bolso e analisar se ele pode
bancar você.
Quem está entrando na vida adulta, iniciando uma carreira ou mesmo quem é mais
experiente, mas que sempre viveu com os pais, terá alguma dificuldade em
mensurar o peso financeiro de sair do ninho. E saber o valor exato de quanto
custa essa decisão requer uma análise de si mesmo. “Quem é esse indivíduo?”,
questiona o professor de pós-graduação da Trevisan Escola de Negócios, Ricardo
Cintra. “Qual a fonte de renda que ele tem?”, completa. O especialista ressalta
que saber se é possível sair da casa dos pais requer um planejamento financeiro
muito bem apurado e que dimensione, detalhadamente, não apenas despesas e
gastos, mas também reservas.
“A primeira coisa que esse jovem tem de fazer é colocar tudo organizado em uma
planilha”, ressalta o professor do Insper Ricardo Rocha. E é aí que as dúvidas
surgem: o que considerar antes de decidir sair das casa dos pais?
Você quer, mas e o seu bolso?
Habitação, alimentação, transporte, faculdade, lazer, vestuário, despesas
extras, despesas variáveis, saldo, receitas...olhar a planilha pela primeira vez
pode gerar certo descontentamento e até assustar os jovens aspirantes a
independentes. Mas é ela que vai dar a dimensão quase que exata se é possível
dar esse passo.
Sair da casa dos pais significa, quase que invariavelmente, pagar aluguel. “Nem
acho interessante um jovem em início de carreira entrar em um financiamento de
imóvel, dessa forma, o aluguel é a opção mais adequada nesse momento”, considera
Rocha. E é o gasto com moradia que vai mais pesar na conta. “De maneira geral,
esse gasto deve representar no máximo 30% da renda desse jovem”, calcula Cintra.
Mas, fique atento, porque nesse percentual não entra apenas o valor do aluguel,
mas também o do condomínio, água, energia, internet....
Ao lado dos gastos com moradia estão aqueles que se referem à alimentação. Ainda
que a pessoa receba vale-refeição da empresa onde trabalha ou estagia, ele não é
suficiente para arcar com os gastos que vai ter com o item. “Mesmo que ela
almoce fora, ela vai ter de ter algum gasto com supermercado”, avalia Rocha.
Lembre-se, o benefício é para o seu almoço. E como ficam as outras refeições?
O item supermercado, se não for bem planejado, pode pesar no orçamento, pois,
morando sozinho, você terá despesas que antes não tinha, como com material de
limpeza, congelados, utensílios domésticos e outros itens que, aos poucos, você
perceberá que são essenciais. Alimentação e supermercado não devem ultrapassar
os 30% do total dos seus gastos mensais, calcula Cintra.
Mais despesas
A lista de despesas ainda não acabou. Nela, é preciso considerar outro item
que pode pesar tanto quanto os demais: educação. Se você ainda faz faculdade e
paga por ela, os gastos com o curso não podem ultrapassar os 30% da sua renda.
Somando todos os itens mencionados até agora, você já tem 90% do seu orçamento
comprometido. Nessa hora, é melhor refletir se não vale a pena deixar a ideia de
sair da casa dos pais para depois.
Mas, se você não paga faculdade ou mesmo se já está formado, pode completar a
lista, que ainda conta com os gastos com transporte, normalmente arcados pela
empresa onde você trabalha, e vestuário. Esses itens não pesam tanto no
orçamento, considerando que não há necessidade de comprar roupas todos os meses
e de que não se gasta com transporte muito além do que a empresa já cobre.
E a lista segue com um item que gera controvérsias entre os jovens, o lazer. “O
lazer não deveria ser uma necessidade primária, mas secundária”, afirma Cintra.
Mas, para muitos, o item é de primeira grandeza – o que pode fazer qualquer
orçamento estourar. Por isso, os gastos com lazer devem ser bem detalhados, para
que você consiga saber o que dá para cortar ou não. Com esse item, os gastos não
podem ultrapassar os 15% da renda.
Se você está cogitando sair da casa dos pais, esses são os itens básicos que
devem ser considerados, antes de você tomar essa decisão. Mas não são os únicos.
“As pessoas esquecem os gastos menores”, considera Rocha. E são esses detalhes
que podem encarecer o seu orçamento. Se no final de tudo isso a sua conta fechou
certinho, não comemore.
Para uma conta folgada
A conta justinha impede que você tenha uma reserva para emergências. Essa
reserva, na avaliação dos especialistas consultados, deve ser, ao menos de 5% a
10% da sua renda. Depois de colocar tudo isso na ponta do lápis, converse com
alguém que já more sozinho há algum tempo para saber se você não está esquecendo
de nada. “Aconselhar-se com colegas que estão nessa situação há pelo menos seis
meses faz diferença”, acredita Cintra.
Para ele, é possível um jovem com renda de R$ 1,5 mil sair da casa dos pais, mas
colocando a criatividade em prática. “Compartilhar a moradia com amigos ajuda a
diminuir os gastos com habitação”, diz o professor da Trevisan. Já com
alimentação, comprar no supermercado e fazer a comida em casa podem promover uma
economia e tanto. “Comer fora de casa pesa muito no orçamento”, afirma.
Rocha, contudo, não acredita que, com menos de R$ 4,2 mil, dá para viver
custeando a si próprio. “Quem tem uma renda mensal abaixo disso deve pensar
bem”, diz. Nesse caso, o professor do Insper está considerando um jovem com
estilo de vida da classe B e que não divida a moradia. Para ele, na hora de
decidir sair ou não de casa, os jovens devem considerar uma questão: a
capacidade de poupança. “Morar com os pais permite que esse jovem tenha uma
poupança que ele não terá morando sozinho”, alerta.
Aqueles que, mesmo com o orçamento justinho, querem seguir com o plano de morar
sozinho, devem fazer ajustes no seu estilo de vida e adequá-lo aos seus ganhos.
“Na hora em que eu assumo a responsabilidade de lidar com as minhas contas,
tenho de realocar o meu orçamento”, reforça Rocha. Você está preparado para
isso?
Referência:
InfoMoney
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Autor:
Camila F. de Mendonça
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