Do ponto de vista de formação do patrimônio, focar apenas na compra de
imóveis e deixar de lado a aplicação no mercado financeiro pode ser uma boa
estratégia? Embora faça parte do senso comum de segurança, próprio da cultura
brasileira, a concentração implica riscos ao portfólio do investidor, alertam
especialistas.
O superintendente executivo de gestão de patrimônio do banco HSBC, Gilberto
Pouso, afirma que o investimento em imóveis está sujeito às oscilações do
mercado da mesma forma que a renda variável. “O imóvel é uma renda variável,
porque ele pode subir ou cair de preço conforme situações que estão fora do
controle do investidor”, diz.
Para ele, esta é a primeira coisa a que o investidor precisa atentar antes de
“pesar a mão” na compra de casas, apartamentos ou terrenos: eles também se
desvalorizam. “Além disso, imóveis de qualquer natureza têm baixíssima liquidez.
Hoje, se o investidor quiser sair, ele não conseguirá vender o imóvel em menos
de 30, 60 ou até 90 dias. Os trâmites burocráticos tornam esse investimento mais
demorado no comparativo com o investimento financeiro tradicional”, acrescentou
Pouso.
Análise e atenção
Já o diretor de investimentos da Safdié Gestão de Patrimônio, Otávio Vieira,
afirma que é muito comum as pessoas investirem em um imóvel com a certeza de que
ele vai valorizar. Por isso, é preciso estudar profundamente essa alternativa
antes de comprar.
“Não é porque os imóveis subiram nos últimos dois ou três anos que eles vão
continuar subindo igual”, comentou Vieira. “Existem características específicas
do investimento em imóveis que o investidor precisa saber, como os gatilhos de
valorização, que são a escassez e as melhorias na região onde está localizado”,
disse.
Vieira recomenda a quem deseja focar em imóveis na formação de seu patrimônio
atenção constante. “É preciso reavaliar sempre as tendências do mercado
imobiliário, como está sendo o retorno avaliado e esperado de seus
investimentos, comparando os ganhos com o aluguel, já líquidos de imposto de
renda”.
Primeiro a casa própria
Na opinião de Gilberto Pouso, os extremos nunca são saudáveis. Logo, quem
apenas possui ativos no mercado financeiro mas não tem um imóvel próprio, pode
ter problemas. Caso sofra uma perda no mercado acionário, por exemplo, pode ser
obrigado a repensar o local onde mora por dificuldades em pagar o aluguel.
“Considerando que o imóvel próprio, para moradia, não é investimento - pois
não é focado na valorização, mas em outros aspectos - o investimento em imóvel
deve ser totalmente livre, de acordo com objetivos do investidor”, declara. “Mas
uma coisa ele deve levar em consideração: imóvel é uma aplicação de longo prazo.
Quem quer comprar pensando em vender em seis meses está cometendo um equívoco”,
enfatiza Pouso.
Setor em crescimento
As perspectivas deste segmento, segundo Vieira, são bastante promissoras.
Ele lembra que, enquanto a crise financeira do segundo semestre de 2008 fez
todos os índices da economia brasileira caírem, os imóveis valorizaram, com
preços que subiram em média 20%.
“As taxas de juros estão caindo, com o menor risco de crédito. Além disso, o
setor imobiliário foi irrigado pelo mercado de capitais, com a entrada de
construtoras e incorporadoras na bolsa, tendo acesso ao dinheiro mais barato do
mercado financeiro. Com isso, a oferta vai aumentar, sem alcançar a demanda, que
deve crescer ainda mais. Então, estamos vivendo um período no qual parece que os
imóveis vão continuar se valorizando”, prevê o especialista.