Estudo mostra que a bolsa dá o melhor retorno no longo prazo, mas investidor
precisa ter estômago para suportar a alta volatilidade e tempo para recuperar
eventuais perdas
Investimento em ações: maiores chances de ganhar dinheiro no longo prazoO
investimento em ações costuma mexer com a mente dos que sonham com o
enriquecimento súbito. Histórias de investidores que se tornaram milionários
aproveitando bons momentos nas bolsas pautam blogs na internet, ocupam as
prateleiras das livrarias e enchem de alunos as salas onde são ministrados
cursos sobre o mercado acionário. Contudo, ganhar com as oscilações da bolsa
requer um conhecimento que não surge da noite para o dia. Para os iniciantes,
entregar o dinheiro a um profissional com tempo para acompanhar o noticiário
econômico e experiência para avaliar o impacto dos fatos sobre as cotações
parece o caminho mais sábio a seguir. E a forma mais fácil de fazer isso é
investir seu dinheiro em um fundo de ações.
Ainda que essa seja uma boa alternativa para o investidor pouco experiente,
delegar a administração a um gestor não livra a aplicação dos riscos associados
à renda variável. Os fundos de ações investem no mínimo 67% do seu capital em
papéis negociados na bolsa, o que significa que pelo menos dois terços do
patrimônio ficam sujeitos às oscilações do mercado. Portanto, especialistas
desaconselham investimentos de curto prazo em bolsa, mesmo por meio de fundos.
Para quem tem planos financeiros mais longos, a história é outra. Há fundos
com aplicação inicial mínima muito baixa, a partir dos 100 reais. Aquiles Mosca,
estrategista de investimentos da Asset Management do Santander, sublinha que as
vantagens não devem ser desperdiçadas. "Em horizontes superiores a três anos, a
freqüência de resultados positivos na bolsa anula os eventos negativos, com
retornos de pelo menos 20% acima dos juros. Quem está fazendo a aposentadoria,
mesmo sendo muito conservador, não tem porque não tirar proveito disso."
A corretora TOV fez um estudo sobre o desempenho da bolsa brasileira nos
últimos 42 anos e concluiu que, no longo prazo, as ações são mesmo a modalidade
mais lucrativa do mercado. O rendimento médio do Ibovespa desde sua criação
ficou em 31,28% ao ano - o que hoje não se consegue facilmente com nenhuma
aplicação. É verdade que o resultado não é linear. O índice registrou 26 anos de
alta e 16 anos de baixa, o que mostra que os riscos existem e não devem ser
menosprezados. Ainda assim, se o investidor pretende fazer um resgate a longo
prazo, dificilmente não terá algumas chances de sair da aplicação com um bom
lucro.
A hora é boa?
Para quem ainda não se convenceu de que a bolsa pode oferecer boas
oportunidades, analistas lembram que a economia brasileira vive um dos melhores
momentos dos últimos 30 anos. O país conseguiu superar rapidamente a crise que
chacoalhou as maiores economias do mundo. Os investimentos em infraestrutura
podem deslanchar com a Copa e as Olimpíadas. A redução da dívida pública levou
as maiores agências de classificação de risco do mundo a concederem o grau de
investimento ao Brasil.
A queda dos juros também deve ser essencial para o sucesso da bolsa. Segundo
a agência de classificação de risco Fitch, a remuneração do CDI (taxa de
referência para aplicações em títulos públicos pós-fixados) diminuiu para 9,9%
em 2009 - contra uma média de 17% nos anos anteriores. A expectativa dos
analistas é de que as taxas de juros continuem a cair no longo prazo.
"Antigamente, você colocava dinheiro na renda fixa e ganhava muito mais que 1%
ao mês. A situação mudou e para obter o mesmo retorno, o investidor terá que
focar em outras classes de ativos", afirma Frederico Sampaio, gestor de renda
variável da Franklin Templeton Investimentos Brasil.
André Paes, diretor de Estratégias e Investimentos da Infinity Asset, faz
coro. Ele defende que o brasileiro vem mudando sua cultura em função de uma
combinação entre menores taxas de juros e expectativas de resgate mais
demoradas. "O investidor já não tem o ranço de uma bolsa inconstante e sabe que
ações são para se comprar na baixa e tirar no médio e longo prazo", diz.
A quantidade de dinheiro que deve ser colocada em bolsa depende do perfil do
investidor. Aos aplicadores agressivos, o conselho é alocar de 40 a 60% de seus
recursos nos fundos de ações. Os moderados podem destinar de 20 a 30% do
patrimônio, fatia que encolhe para 5 a 10% do capital no caso de investidores
conservadores.
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Ativos x Passivos
Quem optar pelos fundos de ações pode escolher entre dois tipos de gestão.
Quando busca superar a rentabilidade de um determinado índice, como o Ibovespa
ou IBrX, o fundo é classificado como ativo. Neste caso, os gestores colocam o
talento à prova na seleção dos papéis. Parte-se da ideia de que as informações
públicas não traduzem fielmente o valor das cotações e somente uma análise
precisa das empresas listadas na Bolsa poderia indicar preços mais justos para
os papéis.
As apostas se baseiam no exame de inúmeras variáveis, como a evolução da taxa
de juros e o comportamento de diferentes setores. E o preço de todo este
trabalho chega ao investidor na forma das taxas de administração mais caras, que
na média ficam em 2,2% ao ano, mas podem chegar a até 8% em alguns casos.
Segundo André Paes, da Infinity Asset, a cobrança não é despropositada. "O
importante é comparar o custo e a rentabilidade dos fundos. A situação pior é
pagar pouco e não ter nenhum rendimento", diz.
Se a intenção de um fundo de ações for apenas replicar o resultado de
determinado benchmark, o investimento terá uma gestão passiva. Esse é o caso dos
índices que seguem o Ibovespa, por exemplo. A composição da carteira reproduz a
do índice seguido, o que torna a montagem de portfólio mais simples e menos
dispendiosa. Para o consultor financeiro Maurício Galhardo, as taxas que hoje
orbitam no patamar de 2% para fundos de ações em geral soam quase abusivas na
gestão passiva. "A carteira já nasce pronta e vai sofrer poucas mudanças.
Pagando acima de 1,5%, o investidor já começa a queimar os lucros."
A rigidez de um fundo passivo também traz benefícios. Como muitos índices
utilizados no mercado acionário brasileiro são compostos pelos ativos mais
negociados na bolsa, as estratégias destes fundos contam com ações mais
líquidas, que são procuradas e negociadas com frequência. Além disso, a
segmentação setorial já existente nos indicadores nacionais, dentre os quais
estão o IMOB (Índice BM&FBovespa Imobiliário), ICON (Índice BM&FBovespa de
Consumo) e IEE (o Índice de Energia Elétrica), permite que os gestores
diversifiquem a carteira sem abrir mão da administração passiva, considerada
mais segura e barata.
Finalmente, é importante lembrar que sobre o lucro de qualquer fundo de ações
recai uma alíquota de 15% de Imposto de Renda. Ao contrário do que acontece com
outros tipos de fundos, a tributação acontece no momento do resgate das quotas e
independe do prazo da aplicação.