Usar alavancagem para comprar ações, opções ou contratos a termo só é
recomendado para investidores profissionais
Crédito é voltado para operações no mercado à vista e deve ser usado com
parcimôniaAproveitar oportunidades, potencializar ganhos, superar referências
de performance. Esses são os objetivos de investidores profissionais e gestores
de recursos, Para chegar lá, no entanto, muitas vezes é preciso investir com
alavancagem, uma espécie de financiamento para as próprias aplicações. A
alavancagem pode ser feita de diversas formas. Mas, para operações de curto
prazo, existe até uma linha de crédito oferecida pelas corretoras.
É a chamada conta margem, que funciona como um cheque especial para o cliente
que queira comprar ações no mercado à vista sem saldo suficiente em conta e sem
se desfazer de seus ativos. O sujeito dispõe de um limite de crédito
proporcional ao valor de sua carteira e utiliza os próprios ativos como
garantia, diferentemente dos empréstimos comuns, tomados em instituições
financeiras.
"Isso é coisa para especulador, e não para investidor no sentido estrito",
diz André Massaro, especialista em finanças da consultoria MoneyFit. Essa linha
de crédito é voltada para quem faz operações conhecidas como swing trade,
de alguns dias de duração, uma vez que os juros são bem salgados, variando entre
3% e 6% ao mês. "Para quem quer operar alavancado por prazos maiores, digamos de
mais de um mês, é melhor fazer operações no mercado a termo ou de opções. Senão
fica impossível bancar os custos", completa Massaro. A exceção fica por conta
das operações de day trade, em que não há incidência de juros, já que a
liquidação ocorre no mesmo dia.
Ou seja, para valer a pena, é preciso estar seguro de que os ganhos cobrirão
a amortização e os juros. O objetivo do trader, portanto, deve ser aproveitar
uma oportunidade única de negócio, em busca de alta rentabilidade. "Somente
investidores experientes e que conhecem muito bem o mercado devem fazer uso da
conta margem. Não recomendo esse tipo de operação para investidores cujos
montantes negociados sejam mais baixos e cujos objetivos na bolsa sejam de médio
e longo prazo", opina Conrado Navarro, especialista em finanças da consultoria
Dinheirama.
Para Navarro, as diferentes maneiras de se alavancar são, na realidade,
complementares. Um crédito como a conta margem pode ser usado para trades
curtos, enquanto que operações no mercado a termo e de opções são mais indicadas
para hedge. "Ao arriscar com o capital de terceiros, o investidor deve
considerar que precisa se proteger em caso de problemas na operação", afirma o
consultor.
De olho nos riscos
É claro que esse tipo de recurso deve ser usado com moderação e apenas quando
o investidor está certo de que a operação vale a pena. Quando se investe um
valor maior do que o próprio patrimônio, potencializam-se as chances de ganho,
mas também os riscos de perda. Resultado: é possível perder mais do que se tem.
"Se um investidor estiver 100% alavancado, pode ganhar ou perder o dobro,
dependendo do desempenho de seus ativos", exemplifica André Massaro, da
MoneyFit.
Em outras palavras, uma operação desastrosa com o uso de conta margem
significa prejuízo para o investidor, pois a corretora terá que vender os ativos
deixados como garantia para abater a dívida. "O investidor pode, literalmente,
'quebrar'", afirma Conrado Navarro, da Dinheirama. "Além disso, os juros e a
cobrança de IOF são altos e, dependendo da operação, podem minar os ganhos
desejados", completa.
De acordo com regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), apenas
as ações de primeira e segunda linha, podem ser adquiridas com os recursos da
conta margem ou servir de garantia. Esta, por sua vez, deve corresponder a, no
mínimo, 140% da carteira do cliente. A relação completa dos ativos negociáveis
com conta margem encontra-se no
site da Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC).
No entanto, algumas corretoras são ainda mais restritivas. Na Banif e na XP
Investimentos, por exemplo, só é possível usar a conta margem para comprar ações
de primeira linha, aquelas 66 que compõem o índice Bovespa. O limite de crédito
também é calculado em cima das blue chips que compõem a carteira do cliente: 70%
do valor de seus investimentos nesse tipo de ativo.
Na Ágora, as garantias funcionam da mesma maneira, mas há limites diferentes
de acordo com o objetivo de compra. Quem quiser negociar ações de primeira linha
tem um limite de 150% do valor de suas blue chips; para quem deseja comprar
papéis de segunda linha, que têm menos liquidez, esse limite cai para 75%. "A
diferença entre as linhas de crédito é para proteger o investidor", esclarece
Helio Pio, gerente comercial da Ágora.
Vale lembrar que o limite de crédito é variável, uma vez que o valor dos
ativos em garantia oscila constantemente. "Uma precaução que o investidor deve
ter é ficar de olho na sua carteira, pois as ações que ele está dando em
garantia também podem desvalorizar. Nesse caso, ou ele complementa a garantia
com outros tipos de ativos ou o limite do crédito é reduzido", diz Amerson
Magalhães, diretor do Easynvest.