Saiba quais os erros mais comuns cometidos por quem toma um crédito imobiliário
Bastam três meses de inadimplência para que banco retome o imóvelPara muitos,
o financiamento imobiliário é o empurrão que faltava para a compra de um imóvel.
No entanto, a falta de planejamento e outros pequenos deslizes no processo de
contratação do crédito podem ser suficientes para transformar o sonho da casa
própria em um pesadelo para o mutuário.
Desde 2004, o Brasil possui uma legislação bastante rígida com os devedores
inadimplentes. Ao mesmo tempo em que essas leis permitiram a queda dos juros no
financiamento dos imóveis também tornaram mais fácil para os bancos retomarem os
bens de mutuários devedores.
De acordo com Lúcio Delfino, diretor administrativo da Associação Brasileira
dos Mutuários da Habitação (ABMH), bastam três prestações do financiamento não
pagas para que o imóvel possa ser retomado pelos credores. Caso seja a vontade
do banco, rapidamente esse imóvel poderá ir a leilão, com o posterior despejo do
mau pagador.
Abaixo, especialistas em financiamento imobiliário explicam como evitar os
principais erros no crédito imobiliário:
1. Fique de olho nas exigências
Antes de começar a cogitar o crédito imobiliário como recurso para a compra
de seu imóvel, leve em conta todas as características exigidas pelas
instituições financeiras. Os bancos privados, geralmente, financiam apenas 80%
do imóvel. Na Caixa Econômica Federal é possível fazer financiamento de até 90%
do valor de compra. Em geral, a primeira prestação mensal da parcela financiada
não pode, por lei, ultrapassar 30% da renda líquida do comprador. O mais
recomendado é ficar bem abaixo desse limite. Uma boa ideia é tomar um empréstimo
com um prazo de pagamento maior para diminuir o valor de cada pestação. Depois,
caso queira amortizar a dívida mais rapidamente, o mutuário poderá fazê-lo a
partir de uma negociaçaõ com o banco. Para avaliar se liberam ou não um
empréstimo, cada banco utiliza critérios próprios. Mas nenhum concede crédito
para pessoas que tem o nome no SPC ou Serasa. Caso esse seja seu caso, será
necessário pagar para limpar o nome antes de tomar o empréstimo.
2. Tome o crédito certo
Na hora de escolher a melhor linha de crédito imobiliário, abuse dos
cálculos. Faça simulações, converse com especialistas e compare. A dica pode ser
óbvia, mas muitas pessoas caem na inadimplência simplesmente porque não
escolheram o melhor plano de financiamento. Aparentemente, as taxas de juros
cobradas pelos bancos parecem bastante semelhantes. Mas, por muito pouco elas
podem causar um rombo no seu orçamento. "Uma diferença de 1% nos juros pode
significar até 50 mil reais em 20 anos", afirma Joe Powell, da consultoria
Crédito Imobiliário Fácil. (Confira a matéria
"O Buscapé do Crédito Imobiliário"). Outra dica é avaliar o custo total do
crédito, o que inclui, além dos juros, uma taxa mensal cobrada pelo banco,
outras taxas e seguros. Avalie também os sistemas de correção dos contratos.
Segundo Raphael Rottgen, da consultoria Sagace, os contratos de juros prefixados
ainda são muito caros no Brasil. Hoje o mais comum é que o banco cobre uma taxa
fixa mais a TR (Taxa Referencial), que é pós-fixada. Como a TR é muito baixa e
varia pouco de acordo com as oscilações da Selic, o risco da parcela pós-fixada
é baixo e não compensa o aumento do custo do financiamento gerado pela taxa
totalmente prefixada. Rottgen também aconselha os tomadores a evitar contratos
de financiamento corrigidos pela Tabela Price e a optar pelos corrigidos pela
SAC ou SACRE - porque os juros pagos vão diminuindo com o tempo.
3. Tenha consciência de bolso
O principal escorregão dos mutuários inadimplentes é, sem sombra de dúvida, a
falta de planejamento financeiro. "As pessoas se esquecem que estão contraindo
uma dívida de longo prazo, algo que ele pode levar até algumas décadas para
quitar", afirma Marcelo Prata, CEO da consultoria Canal do Crédito Imobiliário.
Por isso, é importante colocar na ponta do lápis cada um de seus gastos mensais
e sempre levar em conta a possibilidade de outros imprevistos. A prestação que
hoje cabe perfeitamente no seu bolso pode se transformar em uma obrigação
hercúlea em caso de perda de emprego, por exemplo. A recomendação dos
especialistas é sempre ter uma poupança para superar eventuais obstáculos.
4. Não fique com a corda no pescoço
"Muita gente usa tudo o que tem para a compra da casa e se assusta com as
despesas de escritura, contrato de financiamento e ITBI (Imposto Sobre
Transmissão de Bens (Imóveis)", diz Prata, do Canal do Crédito Imobiliário. A
dica é reservar pelo menos 5% do valor do imóvel para esses gastos. Outro ponto
facilmente esquecido são os possíveis investimentos com o imóvel que está sendo
comprado. "Pode ter custo de reforma, seguro e mudança. Tudo tem que ser levado
em consideração", diz Raphael Rottgen, da consultoria Sagace. Além disso, se
você optar por bancos privados, pelo menos 20% do valor do imóvel terá que sair
do seu bolso logo de cara. Os recursos do FGTS podem ajudar a compor a entrada.
5. Não se apresse
Uma prática bastante comum nas transações imobiliárias que dependem de
financiamento é a assinatura de um contrato de promessa de compra e venda de
imóveis. Mas não assuma este compromisso antes da certeza de que você conseguirá
o crédito no banco, aconselham os especialistas. "Vá até a agência bancária e
peça uma análise prévia de seu perfil para checar se conseguirá o crédito", diz
Delfino, da Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação (ABMH). A mesma
dica vale para o imóvel que será comprado. Verifique se ele tem todas as
características exigidas pelos bancos. Para isso, sempre peça para consultar a
certidão de matrícula com ônus e ações. Este documento possui informações
essenciais para esta operação, como metragem do imóvel e sua situação jurídica.
Dessa forma, o comprador não fica sujeito a comprar um imóvel que depois venha a
ser penhorado na Justiça.
6. Calcule o tempo
Fique atento para o prazo de liberação de crédito determinado nos contratos
de promessa de compra e venda de imóveis. Se a data prevista para a assinatura
do contrato de financiamento superar este prazo, você pode ser penalizado. A
solução é determinar um período de no mínimo 60 dias para a conclusão do negócio
de forma que haja uma boa folga para atender todas as exigências do banco.
7. Evite consórcios
Os consórcios estão longe de ter no exterior a popularidade que tem no
Brasil. O custo para a aquisição de um imóvel parece ser bem menor - afinal, não
há pagamento de juros, apenas de uma taxa de administração que varia entre 1,5%
e 2,4% ao ano. Isso porque muitos consorciados não percebem que o dinheiro que
pagam a cada mês ao consórcio não está sendo remunerado - ao contrário do que
seria caso fosse depositado em alguma aplicação financeira. Esses recursos, na
verdade, são aplicados pela própria administradora do consórcio, que fica com a
remuneração. Para Raphael Rottgen, da Sagace, os consórcios são indicados apenas
para quem quer ter uma espécie de poupança forçada e para quem não conseguiu
outro tipo de crédito mobiliário no banco.