O cenário econômico propício para o investimento em ações, com a perspectiva
de queda da taxa básica de juro, o que tende a desfavorecer a renda fixa, faz
surgir um novo mercado: de cursos voltados para quem quer ir para a bolsa.
“Penso que este fenômeno é natural. O mercado de renda variável brasileiro
está se popularizando agora, uma vez que os investimentos de renda fixa estão se
tornando cada vez menos interessantes. Isso é um sinal positivo que indica um
amadurecimento do brasileiro como investidor”, conta o fundador da Operação
Consultoria e Treinamento, Rogério Passos.
Já o educador financeiro e fundador do Centro de Estudos e Formação de
Patrimônio Calil e Calil, Mauro Calil, destaca que o brasileiro deve fazer dois
tipos de investimento: no mercado de ações e também em educação financeira. “Não
dá para ficar mais fora da bolsa”.
Mas, em meio a este cenário, surgem muitas dúvidas por parte dos
investidores, principalmente sobre que curso escolher, o que eles passam ao
investidor e como não cair em armadilhas.
Ilusão dos investidores
Quando buscam esses cursos, muitos investidores acreditam que terão
respostas para perguntas do tipo “Em que empresa devo investir?”, “Qual setor
vai deslanchar daqui para a frente?”, “A bolsa vai atingir quantos pontos ao
final do ano?”. De acordo com os entrevistados, isso é pura ilusão e, se quer
essas respostas, é melhor o aplicador não fazer o curso.
“Eu, reiterada vezes, recebo perguntas como “O que você acha da empresa tal?”
e, por ética, não falo de empresas. Tudo que coloco nos cursos é como exemplo,
sempre com a ideia de que a bolsa tem visão de longo prazo. Não é para dar
nomes, senão a pessoa vai chegar em casa e sair comprando”, diz Calil.
Passos completa dizendo que, na ânsia por acertar, a maioria busca cursos no
sentido de obter “dicas quentes”. “Na minha humilde opinião, essa é uma intenção
bastante ingênua, já que ninguém pode prever o futuro. Nem a melhor das análises
pode prever o futuro”.
Outra ilusão dos investidores é pensar que o curso mostrará como ficar rico.
“Faz muito mais sentido centrar esforços no controle adequado da exposição ao
risco do que na tentativa infrutífera de prever o futuro”, diz Passos, que
acrescenta: “Acredito que o principal erro [do investidor] seja acreditar que
existam fórmulas mágicas para se ganhar dinheiro no mercado. Não existem”.
O problema do mercado
De acordo com Calil, o problema é que existem muitos cursos livres com
discurso comercial agressivo, que vendem a ideia de a pessoa ficar milionária.
“A bolsa de valores não é isso e eles prestam um desfavor para o mercado”,
afirma. Outra prática nada legal é de apresentar uma forma de atuar no mercado
que exija que o investidor adquira algum produto do promotor do curso.
“Esses cursos não têm regulamentação e nem vão ter. A CVM [Comissão de
Valores Mobiliários] regula o mercado de capitais, não o mercado educacional. E
o MEC [Ministério da Educação] vai fazer isso? Não, porque é um curso livre”,
ressaltou Calil.
É por isso que o investidor deve ficar atento na hora de escolher o curso. E
o preço, conforme diz Calil, não deve ser direcionador da escolha, já que
“conhecimento não é commodity”, em suas palavras. Ou seja, não é possível
comparar dois cursos. Ele contou que existem alunos que fazem a conta por
hora/aula, mas que, enquanto existem gratuitos voltados a iniciantes, existem
cursos caros para pessoas que já têm mais experiência. “As pessoas têm de ter
certo discernimento”.
Além disso, procure cursos de instituições idôneas. Quando o objetivo de quem
promove o curso é colocado de forma clara, fica mais fácil entender a mensagem
que se quer passar. “Se uma corretora dá uma palestra gratuita, é obvio que ela
tem interesse que você vire cliente. Nesse aspecto, não vejo nada de errado”,
afirma Calil, com um exemplo que contrapõe o caso de cursos feitos para venda de
produtos.
O objetivo do curso
De acordo com Passos, os objetivos de um bom curso sobre investimento
em renda variável devem ser explicar em detalhes o funcionamento do mercado de
capitais, apresentar alguma metodologia concreta de análise – seja técnica,
fundamentalista ou estatística – e, sobretudo, ensinar o investidor a controlar
sua exposição ao risco em cada operação que assume, sem se entregar às emoções.
“O investidor iniciante deve sempre procurar por cursos que tenham
fundamentação científica e que priorizem o controle do risco, de preferência com
validação estatística dos conceitos apresentados. Investimentos pessoais são
coisa muito séria para não serem tratados com rigor matemático”, afirma Passos.
Além disso, ele disse que é interessante que o investidor procure a opinião
de ex-alunos de cada curso antes de escolher um para se matricular. “É preciso
separar o joio do trigo”.