Confira alguns mitos e verdades sobre Motivação versus Remuneração
Um dos grandes dilemas que aflige as organizações empresariais de um modo
geral tem sido responder ao seguinte questionamento: O que e como fazer para
manter e/ou aumentar os níveis de motivação dos profissionais? Talvez, neste
contexto, uma segunda pergunta seja pertinente: Por que algumas pessoas são
motivadas e outras não?
Muitas empresas e, consequentemente seus líderes, se deixam levar de forma
enganosa pela crença de que o dinheiro é um elemento motivador. Pior, algumas
acreditam que se as pessoas ganhassem mais, iriam naturalmente aumentar o
comprometimento com o trabalho, otimizando a produtividade e tornando-se mais
motivadas. Nada mais ilusório!
Para que possamos compreender mais claramente o binômio: motivação e
dinheiro, precisamos primeiro entender que motivação é um estado mental. Isto
significa dizer que o comportamento denominado motivação é a expressão no mundo
físico de uma percepção neurológica em que um conjunto de emoções específicas,
que podemos significar como positivas, está preferencialmente se manifestando na
mente de um indivíduo.
Resumindo a prosa, motivação é algo intrínseco, que necessariamente parte de
dentro da pessoa, nunca de fora. Isto posto, podemos concluir facilmente que
dinheiro não motiva ninguém, pois trata-se de um elemento extrínseco, ou seja,
parte de fora, é externo. Conclusão: Apego ao dinheiro não é motivação.
Aproximadamente 20 anos atrás, um sociólogo americano chamado Philip Slater
publicou uma importante crítica sobre a obsessão ocidental pela riqueza. Segundo
sua teoria, que encontra respaldo em muitas correntes filosóficas, a ideia de
que todos querem dinheiro é propaganda veiculada por aqueles que são apegados à
matéria, especialmente ao dinheiro.
Apoiados neste artigo, os Doutores Tim Kasser e Richard Ryan realizaram
estudos em 13 países diferentes, no qual comparavam pessoas cuja "motivação"
central na vida era fazer dinheiro com outras que não priorizavam esse foco.
Conclusão emitida por eles em seu relatório final de pesquisa: "Quanto mais
procuramos satisfações em bens materiais, tanto menos as encontramos." Entre os
obsessivos pelo dinheiro, muito mais comum são estados mentais como: baixa
autoestima, ansiedade, insatisfação permanente, depressão, sensação de vazio
existencial. E mesmo para aqueles que conseguem encontrar satisfação na
conquista do dinheiro, esta sensação dura muito pouco, é fugidia.
Fica claro, portanto que, pessoas que são mais materialistas tendem a se
sentirem infelizes com suas próprias vidas. O dr. L. Michael Hall confirma:
"Ganhar dinheiro exclusivamente para ter mais dinheiro não enriquece nossa
experiência interior de vida, nem nos dá mais qualidade de pensamento e
sentimento."
O que motiva os profissionais nas empresas?
Definitivamente não é o dinheiro que motiva as pessoas a trabalharem mais e
melhor, e, mesmo que haja algum nível de melhoria comportamental e profissional
em função de recompensa financeira, trata-se de algo volátil e passageiro.
Dedução: o estímulo precisa ser repetido para que o comportamento motivado seja
mantido, ou seja, é necessário mais dinheiro.
Nesse caso, quando isso acontece, a liderança percebe fácil e rapidamente que
se trata de uma estratégia equivocada e pouco eficaz. Muitas empresas e até
mesmo profissionais, em pleno século 21, ainda acreditam que o "principal"
contrato que celebram entre si é a troca de trabalho por dinheiro. E talvez seja
essa crença o motivo pela qual ainda se percebe em várias organizações o
dinheiro como elemento motivador.
Todavia, todas as pesquisas apontam para o fato de que há muitas outras
coisas mais importantes na carreira de um profissional do que a remuneração
pecuniária, e as empresas que estão conseguindo oferecê-las estão atraindo e
retendo os melhores talentos do mercado.
O Great Place to Work (www.greatplacetowork.com.br), empresa de consultoria
sediada nos Estados Unidos e com escritórios afiliados em diversos países do
mundo, inclusive o Brasil, desde 1980 tem se dedicado a ouvir funcionários e
avaliar empregadores de corporações de todo o planeta para entender o que torna
um ambiente de trabalho excelente, ou seja, altamente motivador. Uma das
perguntas mais respondidas é: "O que os profissionais estão buscando no mercado
atual?" Veja as respostas mais comuns:
Respostas - percentual de participação
Estabilidade no emprego - 4%
Remuneração e benefícios 1 - 4%
Equilíbrio entre vida profissional e pessoal - 25%
Oportunidade de crescimento e desenvolvimento - 54%
Outros - 3%
Perceba caro leitor, mais de 50% das pessoas buscam oportunidade de crescer e
desenvolver-se. Isto significa que os profissionais do século 21 desejam
principalmente 'sentir' que fazem parte de algo importante, que há uma causa a
ser perseguida, e que seu trabalho motivado alavancará o crescimento da
organização e oportunizará seu próprio crescimento. Mais do que isto, esses
profissionais desejam desenvolvimento pessoal e profissional, ou seja, querem
ter a sensação de que estão evoluindo.
Se observarmos os níveis proporcionais de satisfação com o trabalho de cada
um desses grupos anteriormente apresentados, podemos ratificar que o dinheiro de
fato é secundário para a maioria das pessoas. Se não, vejamos:
Respostas - percentual de participação / satisfação com o trabalho
Estabilidade no emprego - 4% / 61%
Remuneração e benefícios 14% / 65%
Equilíbrio entre vida profissional e pessoal 18% / 83%
Oportunidade de crescimento e desenvolvimento 54% / 89%
Fica fácil evidenciar que as pessoas que buscam crescimento e desenvolvimento
apresentam um índice de satisfação bem maior do que aquelas que buscam
estabilidade e remuneração.
O que sua empresa pode e deve fazer então?
O grande passo que as organizações empresariais têm dado no sentido de
aumentar os níveis de motivação de seus profissionais é criar e desenvolver
ambientes de trabalho que mobilizem nas pessoas percepções que atendam as
seguintes demandas:
- A empresa oferece de forma clara e sistemática oportunidade de
crescimento aos seus colaboradores.
- O trabalho poderá ser conciliado com a vida pessoal, não exigindo
dedicação exclusiva que gere distorções em outras áreas da vida.
- Há uma causa a ser perseguida. Tanto missão, quanto visão e valores
organizacionais são amplamente difundidos e compartilhados, gerando
engajamento e sensação de se fazer parte de algo maior.
- Os gestores são líderes de referência e exercem a liderança sem impor
seu poder posicional.
- O relacionamento entre liderança e colaboradores é de confiança.
- O trabalho a ser desenvolvido inspira significado e desperta orgulho.
- O aspecto humano da estrutura é priorizado sempre.
- Há investimento em treinamento e formação continuados.
- O processo de comunicação é claro e transparente, e os acordos são
cumpridos.
- A empresa disponibiliza metodologias claras e bem estruturadas de gestão
de pessoas e comportamentos.
- A cultura central da organização é focada nas pessoas.
Fica aqui minha sugestão: faça agora uma avaliação criteriosa e identifique
como está sua empresa nos critérios aqui apresentados. Se você pudesse dar uma
nota para cada um deles em seu processo de gestão de pessoas atual, que nota
seria essa?
Profissionais motivados são o sonho de dez entre dez líderes empresariais.
Para conquistar esta conduta é preciso que os líderes entendam de forma central
que as pessoas se mobilizam verdadeiramente por suas próprias causas e
interesses. Encontre uma forma de alinhá-las às causas e interesses do seu
negócio e você terá uma equipe de profissionais altamente motivados e
comprometidos.