Você era o melhor da turma na faculdade. Sempre organizado com o conteúdo das
matérias, preocupado em fazer os melhores trabalhos, participativo nas aulas,
presença cativa nos eventos e cursos extracurriculares. Os anos passaram e,
apesar de todo o seu desempenho, você acabou saindo da faculdade com o diploma,
mas sem emprego. O que fazer?
A primeira grande lição é deixar o desespero de lado. “É uma circunstância, o
mercado está muito competitivo sim, mas não há motivos para desespero”, afirma o
gerente de Relacionamento do Grupo Foco, Gustavo Nascimento. Para ele, o
importante é que esse jovem profissional mantenha o ânimo e intensifique a busca
por uma recolocação no mercado de trabalho. “O mercado está se abrindo para
jovens recém-formados”, considera.
Para a gerente de Planejamento de Carreira da Ricardo Xavier Recursos
Humanos, Rosane Campelo, o profissional deve ter ciência de que o mercado está
estreito. Contudo, culpar esse cenário pela falta de emprego não é um bom
caminho. “O jovem deve canalizar as energias para a busca, sem desesperos”,
ressalta.
O que aconteceu?
Estava tudo indo tão bem na faculdade que você não entende o que aconteceu
no meio do caminho para que o fim da trajetória acadêmica resultasse em
desemprego. Para os especialistas ouvidos, existem diversos fatores que levam
jovens profissionais a saírem da faculdade sem emprego. Além da acomodação,
comum em alguns estudantes, a falta de oportunidades na área é uma delas.
Mas existem outros fatores que, se não forem bem avaliados, podem ser
perigosos para esses jovens profissionais. “Alguns estudantes acreditam que a
faculdade vai dar ferramentas suficientes para que eles consigam encarar o
mercado de trabalho depois dos estudos”, afirma Rosane. Contudo, a realidade não
é a mesma vista durante a graduação. “Hoje, existe um gap muito grande entre o
que a faculdade oferece e o que o mercado exige”, lembra Nascimento.
O fato é que esperar pegar o canudo para depois tentar uma vaga é arriscado e
não é o melhor caminho. O ideal é aproveitar tudo o que a faculdade oferece, mas
aliar toda essa teoria com a prática de mercado, por meio de estágios ou outras
experiências que possam fazer o futuro profissional sentir o que de fato é
cobrado fora dos muros da faculdade.
Para Rosane, as mudanças comportamentais também influenciam nesse cenário.
“Antes, existia uma necessidade dos jovens de sair de casa e conseguir ser
independentes financeiramente”, afirma. “Agora, existe uma certa acomodação
desses jovens”. Para ela, de uma maneira ou de outra, o fato de os pais estarem
presentes na vida dos filhos, mesmo durante a graduação, faz com que eles deixem
a busca pela experiência no mercado para depois.
Nascimento também crê na influência dessas mudanças. “Antes, você tinha de
entregar o currículo nas agências de emprego, agora as vagas são divulgadas por
meio das mídias sociais”, afirma. E quem está fora dessa rede pode ficar de fora
do mercado também.
Essas decisões, contudo, devem ser avaliadas com cuidado. Quem nunca ouviu a
afirmação “depois que você se forma, as vagas somem"? Embora ela não seja de
todo verdade, já estar com a vida profissional encaminhada desde a faculdade é
bem-vindo.
De olho no espelho e no mercado
Para não entrar em desespero, independentemente dos motivos, aqueles que
estão com canudo e sem emprego devem caminhar paulatinamente em busca da
recolocação no mercado. Para isso, os especialistas ouvidos concordam com o
primeiro passo: olhar no espelho. “Esse jovem deve fazer uma autoavaliação,
verificar se ele não está sendo exigente demais”, afirma Rosane.
Para Nascimento, autoanálise é uma competência que um jovem nessa situação
deve ter. “Ele deve avaliar se ele se capacitou o suficiente para entrar no
mercado, se ele está preparado para atuar em sua área”, ressalta. “Esse jovem
deve se perguntar o que ele busca efetivamente”, considera.
Depois de olhar no espelho, o jovem profissional não deve tirar os olhos do
mercado. Manter-se atualizado é um dos pré-requisitos para quem quer garantir
uma vaga. “Ir a palestras da área de atuação é ótimo não só para se atualizar,
mas para fazer networking”, analisa Nascimento. A rede de contatos, nessas
situações, pode ajudar e muito.
Lançar o olhar para outras direções, dentro da mesma área de atuação, também
ajuda. “Às vezes, muitos jovens recém-formados já delimitam a área que querem
atuar, mas eles não devem focar tanto se estão nessa situação”, afirma
Nascimento. “Procurar ampliar a sua gama de atuação é fundamental”, completa.
Autoavaliação, análise do mercado, presença nas redes sociais, networking,
divulgação do currículo, cadastro em sites especializados: todos esses passos
não formam uma receita mágica, mas são essenciais para quem quer entrar no
mercado e mostrar tudo o que aprendeu na faculdade.
O mercado, o que ele diz?
Jovens com diploma e sem emprego não são vistos de modo pejorativo pelo
mercado de trabalho, segundo os especialistas. “Ele só vai ser visto de uma
maneira ruim se esse profissional se mostrar estagnado”, lembra Nascimento.
“Hoje, o RH [recursos humanos] tem consciência de que o mercado está
competitivo. Existe espaço para dar a primeira oportunidade a esse jovem. Porém,
ele deve estar preparado para argumentar e explicar porque ele está nessa
situação quando questionado”, reforma Rosane.