O número de instituições de Ensino Superior particulares no Brasil cresce a
cada ano e há muito superou o número de faculdades e universidades públicas. Com
isso, o acesso da população ao Ensino Superior aumentou quantitativamente e a
preocupação das famílias em “formar” os filhos também. Arcar com as despesas de
uma faculdade particular, contudo, exige planejamento.
O caminho para não ter surpresas quando o filho mostrar a primeira
mensalidade da faculdade é difícil. “No Brasil, ainda não existe essa
consciência de poupar a longo prazo”, afirma a consultora financeira Eliana
Bussinger. Para ela, isso tem de mudar, uma vez que o modelo do nosso Ensino
Superior é o de ser pago.
O ideal, acredita a consultora, é que os pais comecem a poupar e a criar um
fundo educacional para os filhos desde cedo. O especialista em educação
financeira Álvaro Modernell vai mais longe. “O ideal mesmo é começar a poupar no
dia do nascimento do filho”, diz.
Pensando a longo prazo
Parece brincadeira, mas guardar dinheiro para a educação superior dos filhos
desde muito cedo já ocorre em alguns países. Nos Estados Unidos, por exemplo, as
próprias instituições de ensino e bancos disponibilizam meios para esse fim
específico. O chamado Plano 529 (College Savings Plan) é um deles.
O plano é uma espécie de modalidade de poupança que permite que os pais e
qualquer outra pessoa da família contribuam para formar um fundo, que será
disponibilizado quando os filhos entrarem na faculdade. Sobre os rendimentos
dessa carteira de poupança não incide Imposto de Renda ou quaisquer outros
tributos e impostos – uma forma de incentivar ainda mais o planejamento.
A ausência de ferramentas desse tipo no Brasil é, para Eliana, um dos motivos
pelos quais os brasileiros deixam para depois a preocupação com o pagamento da
faculdade. “O mercado financeiro brasileiro não oferece instrumentos com esse
objetivo. Deveria haver um produto específico”, acredita.
Na falta de modalidades específicas de crédito, o brasileiro deve buscar os
produtos que existem no mercado para garantir o ensino dos filhos, se não quiser
entrar em um financiamento. E o planejamento deve começar cedo. “O meio não é
tão importante quanto o fator tempo”, afirma Modernell.
Quanto mais cedo, menos a família desembolsará todo mês e menos preocupações
terá quando chegar a hora. Para Eliana, contudo, a ferramenta por meio do qual
esse fundo educacional será formado deve ser levado em conta. “O objetivo é
buscar a maior rentabilidade possível”, ressalta a consultora.
Caderneta de poupança
Ela é amada pelos brasileiros, mas não é a ideal para investimentos a longo
prazo, dizem os especialistas. A rentabilidade baixa é o motivo. Apesar disso,
para quem não tem muita opção, principalmente para as famílias com renda mais
apertada, a carteira de poupança não deve ser descartada. “As pessoas conhecem
mais, o risco é baixo e a rentabilidade, embora baixa, é garantida”, diz
Modernell.
Para ele, contudo, outras modalidades de investimento podem garantir um
retorno maior para as famílias que querem planejar o pagamento da educação dos
filhos com antecedência. “A carteira de ações e títulos do Tesouro Direto são
opções mais rentáveis”, afirma o especialista.
Comprar títulos do Tesouro também é um investimento de baixo risco e mais
rentável que a poupança. No caso das ações, o especialista alerta: “o mercado de
ações não é loteria, é preciso um mínimo de conhecimento para lidar com ele”.
Se nada mais der certo
O tempo passou e o fundo, no fim, ficou raso. O que fazer? Neste caso, não
existe jeito, será preciso optar pelo financiamento ou mesmo fazer um
empréstimo. “O empréstimo vale a pena nesses casos, porque no Brasil a graduação
ainda é um diferencial. Aqueles que têm curso superior recebem 190% mais que
aqueles que não têm”, afirma Eliana.
Além disso, o fator tempo também entra aqui como uma vantagem. “Um jovem tem
um bom tempo pela frente para reverter a situação e pagar a dívida”, avalia a
consultora. Ela lembra que qualquer dívida que se faça não deve ultrapassar 30%
da renda da família. Essa regra não vale para o estudante. Caso o jovem trabalhe
e more com a família, ele pode comprometer toda a sua renda. “Porque ele está
investindo na formação dele”, ressalta Modernell.
Na hora do desespero, muitos pais se desfazem dos recursos da aposentadoria.
“Jamais se deve comprometer a aposentadoria com o pagamento de qualquer coisa”,
afirma Eliana. “O ideal seria não mexer nesses recursos”, reafirma Modernell.
Mas ambos reconhecem que é difícil para os pais optar pela decisão mais
racional. Dessa forma, valem a consciência e o bolso de cada um.
Nos casos de famílias que não conseguiram se planejar a longo prazo, o
especialista ainda dá mais uma dica: antes de prestar o vestibular, verifique se
a mensalidade não vai comprometer o orçamento da família. Além disso, a palavra
“sacrifício” deve entrar no dicionário da casa. Desfazer-se de bens, apertar o
orçamento e mudar hábitos de consumo: na hora de “formar” os filhos, vale tudo.
“A palavra sacrifício soa de uma maneira ruim para as famílias, mas, se elas não
se planejaram, a palavra é essa mesmo”, lembra Eliana.