As crises fazem parte da economia mundial. Certa vez, Fareed Zakaria, editor
da Newsweek International, escreveu que, nos Estados Unidos, entre 1854 e 1919,
a economia entrava em recessão a cada 49 meses. Entre 1988 e 2008, esse
intervalo passou a ser de cem meses.
Além disso, segundo os cálculos, até 1919, em todo o mundo, as crises duravam 22
meses. Depois daquele ano, elas passaram a durar oito meses.
Se as turbulências em âmbito econômico são tão esperadas quanto a chuva após um
relâmpago, nada mais sábio do que se adaptar a elas. Principalmente quando o
assunto é investir no mercado financeiro.
Como investir em crises
Na opinião do diretor do MBA Executivo da Faap, Tharcisio Souza Santos, o
investidor inexperiente é sempre tentado a operar em mercados mais sofisticados,
como o de derivativos. Mas, até ele entender como funcionam as aplicações
financeiras, é preferível o mercado à vista, que não envolve operações a serem
realizadas lá na frente. Especialmente em um momento de crise.
Evite ainda os mercados futuros de commodities. Ele recomenda, para quem está
começando, as operações de renda fixa. "De preferência, a compra de títulos do
governo, por meio do Tesouro Direto", afirma.
Outra opção, segundo Santos, é a compra de cotas de fundos, mas evitando os
fundos multimercados. "Os fundos de renda fixa são mais seguros. Os fundos de
renda variável não são proibidos, mas tome cuidado com aqueles que adotam
estratégias agressivas, mais passíveis de perdas e ganhos", acrescenta. Por fim,
ele recomenda diversificar as operações, ou seja, investir em aplicações
diferentes.
Economia vai mal, mas você pode estar bem
O professor de Mercado Financeiro do Ibmec-SP, Ricardo Rocha, explica que,
independentemente de a economia passar por uma crise, há fatores que o
investidor sempre deve levar em conta. Isso porque, às vezes, a economia pode ir
de mal a pior, mas as suas finanças, pelo contrário, estarem muito bem.
A primeira coisa a ser feita é analisar o horizonte do investimento. "Você está
investindo pensando na sua aposentadoria, ou na casa que deseja comprar daqui a
dois anos?", indaga o professor.
Caso o objetivo seja quitar uma dívida em seis meses, por exemplo, é essencial
levar em conta a influência da crise sobre os rendimentos e a liquidez das
aplicações. "Nesse caso, não aplique em Bolsa, ainda que a grande maioria dos
preços das ações estejam baratos. Não tome decisões precipitadas. A verdade é
que não dá para saber quando a economia irá melhorar", garante.
Primeiros passos
Rocha aconselha ainda, a quem pensa em investir em renda fixa, analisar se o
retorno está adequado ao risco. Já o investidor decidido a apostar na renda
variável deve saber que tem três opções: comprar ações, aplicar em um fundo de
ações, ou entrar em um clube de investimento.
No primeiro caso, as ações são compradas diretamente, via corretora. No segundo,
o investidor compra uma cota de um fundo administrado por especialistas, pessoas
que, teoricamente, entendem mais do que investidores iniciantes. "Mas é preciso
pagar taxa de administração e, eventualmente, de performance", alerta.
Por sua vez, clubes de investimento podem ser criados por um grupo de pessoas
que queiram investir em ações e tenham objetivos em comum. Estamos falando de
pessoas comuns, que não necessariamente atuam no mercado financeiro, como
aposentados, professores, metalúrgicos, donas-de-casa, médicos e universitários.
Não delegue seu dinheiro
A dica mais valiosa de Rocha é: "não delegue seu dinheiro a terceiros". Em
outras palavras, nada de aplicar no fundo X ou Y somente porque o gerente do
banco disse que era uma boa opção, ou ainda porque o amigo afirmou que o preço
de determinada ação está baixo. Faça o possível para entender o funcionamento do
mercado. Leia livros, sites especializados, revistas, e estude.
Além disso, não se esqueça de respeitar seu perfil de risco. Pessoas com
personalidade conservadora, com aversão a riscos e aventuras, devem optar por
aplicações mais seguras, ainda que elas rendam menos. Depois que se perde
dinheiro, não adianta colocar a culpa no gerente do banco, ou no consultor
financeiro, que, certamente, expôs as chances de perda.
"Quando uma pessoa aplica seu dinheiro, ela deve entender que a forma como irá
investi-lo é uma escolha pessoal", completa o professor do Ibmec-SP.