Outro dia, encontrei uma amiga no supermercado e conversa pra cá, conversa
pra lá, eis que ela começou a contar uma história que a vem preocupando. Após
cinco anos longe da família, seu pai - um ex-executivo que nos últimos anos
decidiu montar um negócio no sul do país, onde morou no início da carreira -
voltava para casa.
Não deu outra, além de ser um estranho dentro de casa, começou a incomodar. Sem
ter o que fazer ou planos para o futuro, aconteceu o que se esperava. Passa os
dias fiscalizando os rótulos de alimentos para ver se os prazos de validade
estão vencidos, fica atrás do gerente do prédio em que mora reclamando de
problemas e se incomoda com o cachorro de estimação da neta.
O pior de tudo é seguir a esposa em todos os lugares que ela vai. Quase não
acreditei quando minha amiga disse que a mãe quando vai ao shopping e quer
comprar algo, pede ajuda aos filhos para despistá-lo. Rapidamente ela entra na
loja, paga o produto e pede à vendedora que entregue sem sacola, porque precisa
esconder na bolsa, já que o marido não pode ver.
Uma situação bizarra para uma mulher que sempre foi independente, mas que sob a
censura do marido se vê impedida de comprar algo. "Ele não pode ver minha mãe
comprar nada, senão vai começar a ladainha de que está sem emprego e não pode
gastar nada, embora tenha feito uma boa poupança para os anos de crepúsculo",
disse minha amiga.
Pode parecer surreal, mas histórias como essas refletem bem o que acontece
quando chega a hora de "pendurar as chuteiras" e não foi feito qualquer tipo de
planejamento. Aí, sem ter o que fazer, o novo aposentado do mercado quer ser o
CEO da casa, fazer plano estratégico da família ou de marketing para a
empregada, criar uma planilha Excel para controlar o orçamento da casa, traçar
objetivos e metas para a faxineira.
Há uma tendência natural entre aqueles que são obrigados a abandonar o crachá
corporativo: entrar na fase de querer transformar sua casa numa verdadeira
organização. Alguns esquecem que viram um elemento estranho dentro de casa e
"viajam na maionese". Querem mais exemplo? Promovem reuniões semanais com a
criadagem e, como se não bastasse, transformam-se nos maiores pentelhos das
reuniões de condomínio.
Durante as pesquisas para escrever o livro "O Melhor vem depois. Desvendando o
enigma da longevidade", os autores constataram que a não preparação para
enfrentar a inevitável perda do sobrenome corporativo é uma constante e os
efeitos devastadores.
Muita gente ao ler este blog pode identificar casos parecidos bem próximos e,
por isso, alerta, se você conhece alguém mostre que esse não é o melhor caminho.
E se você é quem vivencia a situação, aproveite seu tempo para dar mais atenção
à família, como a pessoa que possui a maior experiência e vivência, assim como
provavelmente sabedoria suficiente para ajudar a família crescer e progredir.
Sua família vai agradecer por deixar de ser um intruso e voltar a ser parte
dela.