Muito já foi falado do impacto da crise econômica nas indústrias, empresas e
países. Porém, pouco foi dito sobre seu impacto nas pessoas. Como a situação
atual afeta nossa motivação interna? E, mais importante, como, efetivamente,
lidar com isso?
O momento não está fácil. Os orçamentos estão sendo enxugados, os clientes estão
se tornando mais seletivos e nossa autoconfiança vai diminuindo quando nos
deparamos com questões de desempenho pessoal, organizacional e até mesmo de
sobrevivência. Quando a verba é cortada, por um lado, pode resultar em um
sentimento de alívio, pelo fato de que uma ação firme foi tomada, mas por outro,
ainda perdura a necessidade de se produzir resultados.
E se os resultados não estiverem satisfatórios, a autoconfiança desaba
novamente. Ou seja, de todo jeito, os cortes orçamentários afetam o desempenho
dos colaboradores. Quando os clientes desaparecem, devemos perguntar a nós
mesmos o que poderíamos ter feito de modo diferente ou concluir que não havia
nada a ser feito.
Uma das conseqüências de uma recessão dessa magnitude é que somos forçados a
enfrentar a incerteza. Ela provoca um aumento da nossa ansiedade e uma atitude
de antecipar quaisquer ameaças. Assim, passamos a nos proteger através de nossos
mecanismos de defesa. Mesmo que seja favorável estarmos mais atentos aos perigos
e ameaças, surgem dois problemas. Primeiro, nossos mecanismos de defesa pessoal
ficam ativados e segundo, deixamos de perceber as conseqüências negativas de se
defender em excesso.
Uma liderança efetiva requer atenção e sensibilização de tudo que nos cerca.
Durante a crise, o medo e a ansiedade provocam certas reações emocionais,
portanto, precisamos estar muito mais sintonizados com nossas próprias e com as
dos outros. Para o líder trabalhar em capacidade máxima, precisamos focar nas
nossas emoções e também prestar mais atenção no que nossos pensamentos estão
dizendo a respeito dessas emoções.
Então, como fazemos isso? Eu gostaria de apresentar seis áreas a serem focadas:
Seis reflexões
1. Sensibilização
Um dos perigos da ansiedade excessiva é que podemos perder a noção do que nos
cerca. O impacto do estresse pode levar a ciclos viciosos de ações impensadas.
Se nos mantermos sensibilizados, podemos perceber, durante a crise, que estamos
apenas tendo pensamentos e emoções em detrimento de incerteza e ansiedade.
Manter o foco permite que seu cérebro aceite mais informações externas e também
otimiza sua reação a qualquer situação. A sensibilização ajuda a você entender
melhor suas próprias motivações, o que está realmente acontecendo e o que está
motivando as pessoas ao seu redor.
2. Empatia
Quando o ambiente cria ansiedade, nós, líderes, precisamos sintonizar nas
emoções dos outros mais do que nunca e compreender qual é a necessidade
fundamental. Algumas pessoas irão desejar ter mais segurança e estrutura durante
a recessão, deixando claro que esta vontade básica não está sendo atendida. As
emoções dos outros podem ser uma reação à necessidade de se ter mais
reconhecimento, pois podem se sentir desvalorizados. Se você não perceber que as
emoções muitas vezes são necessidades que não estão sendo atendidas, você pode
interpretá-las mal ou tentar, erroneamente, animar a pessoa sem conversar sobre
o que mais está precisando. Tente sentir o que realmente está acontecendo com as
pessoas ao seu redor.
3. Seja receptivo aos outros!
Uma das maneiras de se reduzir a ansiedade é simplesmente estar disponível para
seu pessoal. Esteja presente. Principalmente se você costuma exerce suas funções
virtualmente. Essa crise deixa muitos funcionários desamparados, então eles
precisam saber que você está por perto e seguro de si, absorvendo um pouco das
incertezas. Você não precisa ser um herói ou mostrar quanto você é flexível ou
forte. Apenas ajude as pessoas a perceberem que seus piores medos são
simplesmente mecanismos de defesa, e que não necessariamente irão se manifestar.
Esteja presente física ou virtualmente, as pessoas precisam sentir isso.
4. O diálogo é essencial
As pessoas precisam se sentir seguras e às vezes elas precisam apenas conversar
com alguém para descobrirem o que está acontecendo com elas. A maioria de nós
precisa estruturar os pensamentos e compreender as próprias emoções. A conversa
é um modo de descobrir o que estamos sentindo. É importante também compartilhar
as descobertas entre um grupo de pessoas. No entanto, fique atento, pois durante
qualquer crise, conversas se transformam em discussões com grande freqüência. É
uma reação normal à incerteza e ao estresse. Facilitar o diálogo é essencial
para permitir que as pessoas reconheçam e aceitem as tensões existentes.
5. Ação em vez de inibição
A inibição é uma conseqüência comum do aumento da ansiedade. Quando começa a
dominar a situação, ela se torna inimiga dos pensamentos de um líder. A recessão
invariavelmente provoca ações desagradáveis, mal interpretadas ou maiores do que
realmente são, impactando negativamente as pessoas. Mas é melhor dar pequenos
passos a ficarem imobilizados pela ansiedade e incerteza da crise. Não importa o
que seja – pequenos passos e realizações ajudam você e os outros a focarem suas
energias no mesmo lugar.
6. Auto-renovação
Uma crise pode ser um bom momento para fazer perguntas a você mesmo e aos
outros. Se houver tempo suficiente, teremos uma oportunidade para enfrentar
situações que geralmente subestimamos. Pode ser uma atividade contra a vontade
de alguns, mas, se for bem administrada, uma oportunidade como essa produz
grande elasticidade durante a crise. Então separe um tempo com sua equipe e
pessoal para questionar algumas suposições. A crise pode nos obrigar a ceder um
pouco de nossa autoridade ou identidade. O que isto significa para nossas
carreiras e para nosso "Eu"? Manter a mesma identidade que tínhamos durante
épocas áureas é realmente importante?
Entender as reações internas durante essa crise é essencial para ser um líder
eficiente. Compreenda as suas e as daqueles a sua volta, e você perceberá que
será um líder melhor no final destes momentos difíceis.